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Wagner Victer: É fundamental a volta do horário de verão no Brasil

(Foto: Governo Federal)

Em 1931, ou seja, há quase um século, o Brasil adotou pela primeira vez o Horário de Verão. Nesse sistema, os moradores das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste atrasam seus relógios em uma hora. Esse acordo, na ocasião, surgiu como uma solução técnica para ajudar a economizar e proporcionar flexibilidade nos meses mais quentes do ano, aliviando especialmente os horários de pico. Vale ressaltar que o Horário de Verão não é uma peculiaridade brasileira, sendo adotado em vários países da Europa e até em regiões dos EUA.

Durante os oito anos em que fui Secretário de Estado de Energia, Indústria Naval e Petróleo do Rio de Janeiro, e também nos anos em que estive como Membro Permanente do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), sempre defendi de forma enfática a adoção do Horário de Verão. Isso resultou em sua manutenção contínua e com grandes resultados. Além de seus benefícios para o setor elétrico, o Horário de Verão traz externalidades importantes para regiões turísticas, facilitando atividades esportivas, de lazer e, consequentemente, o turismo, impactando positivamente cidades como o Rio de Janeiro e outras áreas com atividades turísticas.

Quanto aos benefícios do Horário de Verão para o setor elétrico, seu impacto na economia de energia não é muito significativo, variando geralmente de 0,6% a 1%. No entanto, seu grande benefício está na redução da demanda durante o “horário de pico” no final da tarde e início da noite, onde as reduções podem chegar a 4% a 4,5%. Isso evita despachos de Termelétricas para a chamada ponta e reduz o estresse nos equipamentos elétricos, como transformadores e linhas, especialmente em momentos de calor intenso como o que estamos enfrentando.

Durante a crise do setor elétrico nacional em 1999, quando eu ainda era Secretário de Energia, o Horário de Verão teve uma grande contribuição, evitando problemas decorrentes da falta de Termelétricas a Gás Natural para geração de energia adicional nos horários de ponta. Atualmente, o desafio não é apenas a capacidade instalada de geração, mas também a sobrecarga devido ao desequilíbrio na matriz, com geração solar abundante durante o dia e picos de demanda à noite.

Infelizmente, o governo federal anterior, de maneira equivocada, acabou com o Horário de Verão sem embasamento técnico sólido. Apesar de ser um defensor ativo dessa medida, poucos técnicos do setor se manifestaram contra sua extinção. Destaquei, em diversos artigos, que além dos benefícios para o setor elétrico, o Horário de Verão traz ganhos para o turismo, saúde e atividades esportivas, gerando milhares de empregos em um país com extensa costa.

Diante desse cenário, é evidente que devemos retomar imediatamente o Horário de Verão no Brasil. Talvez até ainda este ano, começando fora do prazo tradicional, como em dezembro, minimizando impactos logísticos. Caso não seja possível este ano, é imperativo iniciar os estudos para sua retomada no próximo ano.

Como o fim do Horário de Verão não foi motivado por razões técnicas, mas sim por falsos paradigmas políticos, é necessário reavaliar imediatamente sua reintrodução. Nesse contexto, é inevitável que o Ministério de Minas e Energia (MME), o Operador Nacional do Sistema (ONS), a ANEEL, a EPE e outros órgãos envolvidos no estudo do sistema elétrico interligado iniciem discussões para avaliar a proposta de retomada.

Especialmente para o Estado do Rio de Janeiro, o Horário de Verão trará benefícios além do setor elétrico, e é crucial que esse debate comece imediatamente. Diante das crescentes ocorrências nos sistemas de transmissão e distribuição em todo o Brasil, medidas como essa, embora não resolvam todas as fragilidades, contribuem significativamente em face das condições climáticas extremas atuais.


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