Turismo

Valência, na Espanha, é a terra da paella e vai muito além de Calatrava

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A planície, em Valência, parece não ter fim. Nasce no Mediterrâneo, se espalha de maneira preguiçosa por plantações inundadas de arroz e pomares de laranja e só então se choca contra as encostas súbitas que vão ao planalto do interior espanhol.

Essa paisagem é pouco explorada por turistas, que costumam preferir os museus de arte de Madri e as praias de Barcelona. É um destino, no entanto, que vale um desvio no itinerário —ou mesmo uma viagem toda, para conhecer outras Espanhas.

Que seja, pelo menos, para se refestelar com uma paella. A especialidade, típica de Valência, é servida em panelas rasas, onde borbulham ingredientes como alcachofra, frango, coelho, camarão, lula, páprica e açafrão, devorados sob um sol que aquece mesmo no inverno.

Como no restante do país, a história de Valência foi marcada por uma sucessão de impérios, incluindo romanos e visigodos. Os árabes chegaram no século 8º e ali permaneceram até as campanhas militares de Jaime, o Conquistador, no século 13. Entre Alzira e Algemesí, um monumento indica até hoje o local onde ele morreu.

Muito se fala da presença árabe na Andaluzia, mas ela talvez seja ainda mais evidente em Valência. Foram os árabes que planejaram os canais que ainda hoje irrigam as laranjas que essa região exporta para todo o mundo. Valencianos chamam seus caminhos de água de “séquia”, que vem do termo árabe “saqiya”.

A toponímia também fala árabe, em Valência. Basta olhar no mapa. São árabes, afinal, os nomes de lugares como Albufera, Algemesí, Alzira, Benifaió e Cullera.

A melhor base para essa viagem é a cidade de Valência, que tem o nome da região. Dali, é possível dirigir até os pontos turísticos e voltar a tempo de jantar. Os hotéis no centro são cômodos por sua proximidade com marcos históricos.

A Catedral de Valência é um de seus destaques. Foi consagrada no século 13 em cima de resquícios visigóticos e islâmicos, unindo elementos românicos, góticos e barrocos. Sua torre—o Micalet—é um deleite à parte, cortando contra um céu azul. A Lonja também merece uma visita. Construído no século 15, em estilo gótico, esse mercado foi o centro do comércio de seda pelo qual Valência já foi conhecida.

Há duas bebidas típicas para provar nos intervalos da caminhada. A primeira é a horchata, sobre a qual Gal Costa cantava em “Vaca Profana”. É um leite extraído de uma planta chamada chufa, parecido com o leite de amêndoa. O local típico é a Horchatería Santa Catalina. A segunda é a água de valência, nome do ousado drinque com champanhe, suco de laranja e vodca. Para fazer como os valencianos, procure o Café de las Horas, decorado com paredes vermelhas e um teto azul estrelado.

Mas a Valência típica, imortalizada nos romances de Vicente Blasco Ibáñez (1867-1928), é a do sul rural. Um dos cenários mais marcantes dessa região é a Albufera —ideal para comer uma paella longe das armadilhas turísticas da capital.

A Albufera era, outrora, parte do Mediterrâneo. Foi separada por um braço de terra e perdeu a salinidade. É hoje algo entre uma lagoa e um pântano, com cuja água os pequenos agricultores da região inundam suas vistosas plantações de arroz.

Há diversos restaurantes nas margens dos canais da Albufera —cujo nome vem do árabe “al-buhayra”, que quer dizer “a lagoa”. Na vila de pescadores El Palmar, as melhores opções são a Arrocería Maribel e Bon Aire. É preciso reservar com antecedência, porque o preparo leva em torno de uma hora; ou esperar no local, tomando uma taça de vermute e beliscando as famosas azeitonas da Espanha.

Não é preciso, é claro, comer paella. O prato típico desse lago é o all i pebre (“alho e pimentão”). Só que o nome despista o comensal. O prato na verdade é feito de enguia e batata, e o alho e o pimentão aparecem no molho.

Há um passeio de barco pelo pântano por 5 euros (quase R$ 30). Deslizando nos canais da Albufera, entre garças, a planície de Valência não parece apenas infinita, mas também silenciosa. O barco passa por algumas das casas típicas da região, conhecidas como “barracas”, título de um livro de Ibáñez (“La Barraca”).

Perto da capital, Valência, há também o impressionante castelo de Xàtiva. É uma fortaleza que remonta ao passado ibérico, na Antiguidade. Diz-se que foi ali que o cartaginês Aníbal planejou a conquista de algumas cidades romanas. Foi também uma base árabe e cristã, onde foram tramadas as batalhas que moldaram a identidade valenciana. Como o castelo está no topo de uma montanha, é preciso caminhar um bocado. Não há opções viáveis para quem tem mobilidade reduzida.

A identidade valenciana também deve bastante ao Monastério de Santa María de la Valldigna, fundado em 1298 a mando de Jaime, o Conquistador, que escolheu aquele vale como símbolo dos avanços cristãos. O rei atrelou Valência, com isso, a um fervente catolicismo. As ruínas estão cercadas por pomares de laranja.

Quando a reportagem passou pelo monastério, na virada do ano, um grupo de jovens valencianas aproveitava as ruínas para um ensaio fotográfico. Vestiam as roupas típicas das fallas —o principal evento da região, em homenagem a São José.

As fallas são celebradas em março com a construção de monumentos de papelão, madeira e poliestireno, queimados em rituais carnavalescos para a catarse pública.

Como chegar a Valência

Há um aeroporto em Valência, com conexões para cidades europeias. De carro, vindo de Madri, o trajeto leva 4 horas. De trem, são 2 horas

Onde comer paella na Albufera

Arrocería Maribel

Carrer de Francisco Monleón, 5

Restaurante Bon Aire

Carrer de Cabdet, 41

Passeios perto da cidade

Castelo de Xàtiva

Entrada por 6 euros (R$ 33)

Real Monastério de Santa María de la Valldigna

Entrada grátis.

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