Turismo Marcial: O tour inesquecível de Mayhem Miller e Patrick Cummins pelo Rio de Janeiro
Em outubro de 2010 fui convidado, com meu sócio Gleidson Venga, a fazer parte do projeto “The MMA Fighter Exchange Program”, organizado pelo Sherdog em parceria com a EA Sports, que na época lançava um novo game. A ideia seria trazer aos fãs do site uma espécie de reality show com vídeos diários mostrando a rotina de treinos de um lutador experiente e já consagrado (Miller) ao lado de um iniciante (Patrick Cummins) e um treinador (Ryan Parson).
Outros três lutadores de destaque do Strikeforce foram mandados para lugares diferentes do globo (com seus respectivos parceiros menos experientes e um treinador). O armênio Gegard Mousasi foi para Los Angeles (treinar na Kings MMA), o americano Luke Rockhold foi para o Japão (J-Rock) e o brasileiro Ronaldo Jacaré foi mandado com seu treinador Josuel Distak e o novato Fernando Betega para oito dias em San José (AKA). A ideia inicial do projeto seria levar os lutadores para uma mesma academia, mas eu sugeri que no Brasil fizéssemos diferente. Sendo o Rio de Janeiro uma meca do turismo mundial e berço do MMA e, naquele momento, quartel general de dezenas de equipes, sugeri que fizéssemos um treino por dia em academias diferentes de manhã e, de tarde, alguma aventura ou visita a um ponto turístico.
A ideia foi aceita pelos idealizadores e a trupe americana acabou tendo uma experiência única. Em 8 dias no Rio de Janeiro, Miller, Cummins e Parson puderam treinar em algumas das principais equipes do mundo, bem como se divertir conhecendo alguns dos principais pontos turísticos da cidade maravilhosa. Além de treinar nas principais academias do Rio, RFT, BTT, Nobre Arte, Nova União, Gracie Barra e X-Gym), rolando e aprendendo com nomes consagrados como Murilo Bustamante, José Aldo, Mario Sperry, Gustavo Ximú, Alexandre Pequeno, Rousimar Toquinho, Marcio Cromado, Claudio Coelho, Sylvio Behring, os americanos também foram levados a alguns dos principais pontos turísticos alternativos da cidade (escalada a Pedra da Gávea, Prainha, ensaio de carnaval da Mangueira, vôo de asa delta e visita a favela do Cantagalo). Todos os dias eu e Gleidson mandamos videos e fotos das aventuras diárias que eram imediatamente publicados no Sherdog. Com seu senso de humor aguçado e carisma único, Miller garantiu os picos de audiência do projeto. O show de samba no ensaio da mangueira, a decolagem de asa delta na pedra Bonita, a subida na carrasqueira da Pedra da Gávea, a doação de 20 luvas e equipamentos de treino para Claudinho Coelho na Nobre Arte, a junta de José Aldo, Marlon e companheiros de Nova União, até um almoço na Churrascaria se transformava num stand up com Miller. No video de despedida, Mayhem fez questão de reconhecer ao lado de Cummins “foi a melhor viagem da minha vida”.
TURISMO MARCIAL
Esse aliás foi o título do artigo que escreveu para uma revista popular entre adolescentes nos EUA, onde tinha um espaço mensal. Nele Mayhem enaltecia as belezas do Rio, a receptividade do povo carioca e apontava a Cidade Maravilhosa como destino ideal para quem quer conhecer um dos lugares mais lindos do mundo e ainda treinar com os melhores lutadores do mundo. Foi a partir desta experiência com Miller que passei a usar o termo “Turismo Marcial” e bater nesta tecla toda vez que encontro políticos. Se apenas com as belezas naturais e suas academias, o Rio já era capaz de “ser a melhor viagem da vida de um lutador de nível internacional que já lutava no Pride”. Imagine quando o poder público entender o potencial disso e passar a investir em equipamentos que marquem o Rio como berço do Jiu-Jitsu e MMA.
Em Dezembro de 2010 Cummins estrearia no Strikeforce com um nocaute rápido. E após uma série de quatro vitórias chegaria ao UFC em 2014 estreando contra o ex-parceiro de treinos Daniel Cormier. Entre 2014 e 2019 Pat faria um total de 14 lutas no UFC enfrentando nomes como Glover Teixeira, Rogério Minotouro, Cara de Sapato e Rafael Feijão, chegando a figurar entre os top 10 da divisão meio-pesado. Infelizmente Miller não seguiu o mesmo caminho. Depois de finalizar, Sakuraba perdeu suas três lutas subsequentes e passou a se envolver em diversos problemas com a polícia. Mas nos últimos anos, já deu a volta por cima e tem usado seu carisma engajando o público jovem em seu podcast semanal.
