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Tentar se distanciar da família Brazão é tratar o eleitor carioca como imbecil

Parece que, ao cantar “Ela adora me fazer de otário“, Lobão estava retratando a relação entre os políticos do Rio de Janeiro e seu eleitorado. O caso dos Brazão, com suas nomeações tanto no Governo do Estado do Rio quanto na Prefeitura do Rio, ilustra claramente como nossos governantes parecem ter abandonado até o esforço de construir uma narrativa convincente para nos persuadir.

Como entender que Brenno Carnevale, secretário de Eduardo Paes, tenha afirmado que, assim que foram confirmadas as investigações contra Chiquinho Brazão, o prefeito agiu prontamente com a exoneração, e assim lavando as mãos. No entanto, intrigantemente, no dia seguinte, ocorreram várias outras exonerações na mesma secretaria, e uma aliada de confiança de Paes, Marli Peçanha foi nomeada.

Enquanto isso, o G1 noticia sobre a influência dos Brazão no governo estadual, e a desculpa apresentada é sempre a mesma: indicações políticas pelo partido União Brasil. Novamente, “lava-se as mãos”.

Isso demonstra um desrespeito flagrante à inteligência do eleitor. É notório em nosso estado a substituição de ideologias partidárias por agrupamentos políticos específicos — com as notáveis exceções do PT, PSOL e Novo. No caso do União Brasil, o que observamos é um conglomerado de interesses particulares disfarçados de política. Uma verdadeira sopa de entulho da politicagem brasileira.

Oxalá se houvesse transparência sobre essas indicações, admitindo-se os erros e esclarecendo a origem das mesmas. A família Brazão, dispersa por diversos partidos, era conhecida por honrar seus compromissos, o que tornava seus membros parceiros políticos altamente procurados. Nenhum político pensava duas vezes antes de apertar a mão deles. Valia o combinado.

Não há demérito em ter se associado aos Brazão. O verdadeiro problema reside na tentativa de fingir que as relações entre Eduardo Paes ou Cláudio Castro e os Brazão se limitavam a contatos puramente institucionais. Sabemos que isso não passa de uma farsa; eles eram, e provavelmente ainda são, influentes mobilizadores de votos em Jacarepaguá, uma vantagem que ninguém quer perder.

O que se torna insustentável é continuar subestimando a percepção dos eleitores. Seria mais digno admitir abertamente as indicações e reconhecer que, embora dois membros do clã Brazão sejam os principais implicados, os demais não deveriam ser automaticamente responsabilizados pelos mesmos erros. Um pouco de honestidade intelectual não apenas é possível como necessário.

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