Turismo

São Paulo, o túmulo da boemia

Acabo de receber o convite de aniversário do Ivan Finotti, correspondente da Folha na Europa e meu amigo desde o ensino médio.

Estão lá o lugar –será em São Paulo, Brasil– e o horário. Com um aviso bem claro: último drinque servido às 23h30.

Caceta, Ivan, até você?

Justo você que abriu uma balada no centro da cidade e outra na Barra Funda para sacudir a bunda (ou a ausência dela) que precisava sair de casa sete noites por semana?

Antes que alguém argumente que somos velhos, eu rebato: é a mais pura verdade. Mas só isso não explica a morte da vocação boêmia de São Paulo.

Já escrevi sobre isso em 2021. Quando o texto saiu, a pandemia e o consequente recolhimento da população justificavam parcialmente o abandono da noite.

A emergência sanitária arrefeceu, porém a apatia noturna está consolidada.

É difícil beber em São Paulo depois da meia-noite. Achar um jantar decente é quase impossível.

Sim, tem uma constelação de Oxxos abertos a noite toda. Sim, também resistem alguns bastiões das madrugadas das antigas, como o Estadão, o Burdog, o Joakin’s e outros da categoria mata-larica.

É muito pouco para uma cidade que costumava sair de casa às 22h para jantar na rua.

Não que eu me importe demais, para ser sincero. Tenho saído bem menos, mas mesmo assim, velho e pobre, fui surpreendido pelos horários monásticos da cidade.

Semanas atrás, recebi uns amigos de Brasília e fomos biritar na Barra Funda, que fica apinhada de gente até umas 22h, 22h30. Às 23h, precisamos nos humilhar para que o dono do boteco nos vendesse mais cerveja.

À meia-noite, recebemos o esguicho da expulsão inegociável.

É falta de grana? É falta de segurança? São explicações boas e insuficientes. Arrisco dizer que há uma mudança mais ampla de hábitos. Falam que os jovens estão bebendo menos, vai saber. Sempre falam algo parecido.

São Paulo já foi o túmulo do samba. Era também a cidade que não desperta, apenas acerta a sua posição. Não é mais nem uma, nem outra.

Entregamos a madrugada para os passarinhos que cantam enlouquecidos pela luz e pelo barulho.


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