Turismo

Roxy, antigo cinema de rua em Copacabana, reabre com 'dinner show' que viaja pela cultura brasileira

O já complicado trânsito da avenida Nossa Senhora de Copacabana estava especialmente enrolado na noite da última quinta-feira (17). Na tradicional esquina com a rua Bolivar, que costumava abrigar filas para grandes estreias cinematográficas nos anos 1930 e 1940, centenas de ternos finos, vestidos brilhosos e olhares curiosos se amontoavam na nova calçada não para assistir à estreia da semana, mas para a reinauguração do último cinema de rua do bairro, agora como uma casa de ‘dinner shows’.

Inaugurado em 1938, o antigo Cine Roxy tinha mais de 1.600 lugares e foi, por muito tempo, o principal cinema da capital fluminense. Dez anos depois de uma revitalização que preservou o seu estilo art decó, em 2003 chegou a ser tombado pelo patrimônio municipal. Mas como muitos outros cinemas de rua, foi perdendo público para as salas de shopping. Em 2021, os impactos da pandemia levaram ao fechamento definitivo da casa, depois vendida por R$ 30 milhões.

O comprador foi o empresário Alexandre Accioly, que recentemente também venceu a concessão do Jardim de Alah, o parque que divide os abastados bairros de Leblon e Ipanema. Ele conta que, quando a ideia do projeto surgiu, o antigo proprietário, o grupo Severiano Ribeiro, já estava em negociações com uma rede de lojas de departamento. Com o projeto de um dinner show, inspirado em casas como o Moulin Rouge, em Paris, e a Le Extravagance, em Buenos Aires, o empresário convenceu o grupo a fechar negócio com ele.

Quando foi revelado ao público, o projeto sofreu críticas por transformar um cinema em “uma casa de shows para gringos”, como definiu o movimento Salve o Roxy, que chegou a ter 20 mil assinaturas contra a mudança. O projeto, no entanto, teve total apoio do poder público, especialmente da prefeitura do Rio e do IRPH (Instituto Rio Patrimônio da Humanidade), o órgão municipal de patrimônio histórico.

Mesmo ausente na inauguração, o prefeito Eduardo Paes foi efusivamente agradecido por Accioly, assim como Marcelo Freixo, presidente da Embratur, e Cláudio Castro e Eduardo Leite, respectivamente os governadores do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul, que estavam presentes.

“Minha vontade era fazer uma coisa emblemática, forte. Nesse imóvel que não é temático por cenografia, mas porque ele é assim, mesmo. Eu queria criar uma experiência com o mesmo glamour e elegância dos anos 1930, dos anos dourados”, diz o empresário, cujo projeto, entre outras intervenções, reconstituiu a icônica abóbada original, recuperou o mármore da escadaria da entrada e colocou pedras portuguesas na calçada. O custo total da reforma é estimado em R$ 67 milhões.

No novo Roxy, a noite começa pelo jantar. O comensal pode escolher entre dois cardápios (um de R$580 e outro de R$790, na plateia) com diferentes opções de entrada, prato principal e sobremesa criadas pelo chef Danilo Parah, do Rudä, em Ipanema. No mezanino, o lugar à mesa fica até R$ 100 mais barato. Não há opção de meia entrada, e residentes da cidade do Rio tem 20% de desconto.

Depois do jantar, é hora do show. Nomeado “Aquele Abraço” com a anuência de Gilberto Gil, que também prestigiou a inauguração, o espetáculo foi concebido pelo diretor artístico Abel Gomes, que assinou a cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio, em 2016.

Com o mesmo figurino dos garçons, o elenco se espalha pela casa e começa a batucar “Mas Que Nada”, de Jorge Ben Jor, alçada a hit internacional nos anos 1960 por Sergio Mendes. No final da abertura, todo o elenco troca de roupa sobre o palco num piscar de olhos, revelando os diferentes personagens do Brasil: o gaúcho com suas bombachas, a baiana com sua saia e turbante, o vaqueiro com sua calça de couro, o indígena de cocar, e por aí vai.

Ainda que a princípio esse encontro nacional de estereótipos regionais soe um pouco pasteurizado (especialmente aos brasileiros), a cada novo número o show vai ganhando a plateia, com covers de grandes sucessos da música nacional que são impossíveis de não cantar junto. Não há um enredo propriamente dito, mas elementos narrativos que conectam as diferentes paradas de uma grande viagem pelas diferentes culturas do Brasil.

Depois de um número que homenageia Carmem Miranda, outro ícone da música brasileira pelo mundo afora, o show passa pelo Carnaval de rua da Bahia com “Baianidade Nagô”, de Daniela Mercury; pelo sertão nordestino com quadrilhas de São João e “Esperando na Janela”, de Gilberto Gil; pela “Festa de Rodeio”, de Leandro e Leonardo, e pelo Rio Grande do Sul, com um afinadíssimo número de sapateado com acordeón.

O espetáculo vai a Parintins, com um mashup de “Vermelho”, de Fafá de Belém, com “Povo Caprichoso”, do Boi Caprichoso, um dos momentos mais emocionantes do show. Há ainda uma breve passagem por São Paulo, com Caetano Veloso e Rita Lee, e chega ao Rio de Janeiro com o funk de Anitta e Ludmilla, e a bossa nova de Tom Jobim e João Gilberto. Por fim, o passeio musical acaba na Sapucaí, com sambas-enredo como “Explode Coração”, do Salgueiro, e com o porre de felicidade de “Festa Profana”, da União da Ilha do Governador.

Ao todo, são mais de 60 atores no palco, cujo fundo, a antiga tela de projeção do Roxy, foi forrado com um imenso painel de LED que se movimenta em direção à plateia. Em muitas ocasiões, o elenco interage com as imagens, criando ilusões de ótica que fazem parecer que eles saltam da tela ou conseguem comandar o que se vê nela. Há também muitas imagens de drone das cidades brasileiras homenageadas que, segundo a produção, são originais, feitas especialmente para o espetáculo.

Roxy Dinner Show

R. Bolívar, 45, Copacabana, Rio de Janeiro. Ingressos a partir de R$480 em roxydinnershow.com.br

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