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Roberto Anderson: Volta às aulas

O segundo semestre letivo chegou. Em ondas sucessivas os estudantes foram voltando às aulas. Parece que os pequenos voltaram antes do que os universitários, um alívio para os pais, sobrecarregados durante as férias. Entre os universitários, quando o calendário não está bagunçado por greves passadas, os das públicas voltaram antes. No final, estão todos em salas de aula, alunos e professores, pelos próximos quatro meses. 

Os efeitos na cidade são evidentes. Há mais pessoas circulando. Há mais pessoas nos ônibus, nos trens e no metrô. Nas calçadas, se vê a garotada uniformizada. O barulho de suas brincadeiras volta a chamar a atenção. 

Desaparece aquela calma relativa no trânsito. Voltam os engarrafamentos provocados pelo aumento de carros circulando nas ruas e, principalmente, pelo acúmulo de carros de pais parados nas faixas de trânsito em frente às escolas particulares. Boa parte em filas duplas. Quanto mais exclusiva, mais confusão no trânsito aprontam os pais. Como não há policiamento de trânsito na cidade, todos são afetados, mesmo aqueles que abominam a ideia de ter filhos.

É verdade que a violência é um problema, o que faz com que os pais, aqueles que podem, atrasem ao máximo o momento em que os filhos passam a ir sozinhos à escola, uma pena. Bons tempos aqueles em que miúdos que mal conseguiam carregar suas pastas já podiam caminhar sozinhos até o colégio. Mas há também um certo exagero, uma falta de confiança no transporte público e na sagacidade dos filhos. Dar-lhes autonomia é acreditar neles e vê-los corresponder e crescer. Aqui, boa parte dos filhos vão seguir sendo levados de carro à escola. 

Os professores encontram seus novos alunos, o que é sempre um momento esperado por ambas as partes. Será o mestre, ou a mestra, interessante e capaz de captar a atenção da turma e fazê-la progredir no semestre? Serão os alunos poucos ou numerosos? Serão atentos? Formularão perguntas interessantes? Os dois lados se tateiam, as piadas, algumas sem graça, e as brincadeiras tentam quebrar o gelo. A tarefa de guardar os nomes dos alunos é o primeiro desafio do professor, nem sempre cumprido ao fim do semestre. 

Nas escolas das favelas e dos bairros populares segue havendo uma certeza: em vários dias elas permanecerão fechadas, em função de infrutíferas e infindáveis operações policiais, ou pela continuada guerra entre as facções criminosas da cidade. Em outros, as aulas serão interrompidas por tiroteios, que obrigarão estudantes e professores a se abrigarem por horas a fio em corredores no meio da escola.

O Ministério da Educação acaba de liberar a avaliação do ensino brasileiro pelo Ideb em 2023. O ensino fundamental carioca, de responsabilidade da Prefeitura avançou, mas ainda fica bem atrás de cidades do Nordeste, que têm demonstrado o que é cuidar da educação. Já o ensino médio, de responsabilidade do Governo do Estado, teve a penúltima nota entre todos os estados da federação. Uma vergonha, que reflete a maneira descuidada com que se elegem governadores no Estado do Rio de Janeiro.

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