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Quintino – O Rio de Janeiro de Eduardo Paes é melhor que o de Cesar Maia?

Eduardo Paes e Cesar Maia em 1992

O prefeito Eduardo Paes (PSD) é considerado um herdeiro político de Cesar Maia, tendo iniciado sua carreira política ao lado do antigo alcaide. Ele ocupou cargos como subprefeito da Barra e Jacarepaguá, além de ter sido vereador e deputado federal. Paes também atuou como secretário do Meio Ambiente. Em 2006, havia a expectativa de que se tornasse candidato ao Governo do Rio, mas recuou, permitindo que Solange Amaral assumisse.

Ao longo de sua trajetória, Paes se afastou e retornou ao seu grupo político de origem. Em 2020, candidatou-se pelo Democratas com o apoio de Rodrigo Maia, mas posteriormente migrou para o PSD.

A vitória de Paes em 2020 parecia quase certa, considerando o desempenho insatisfatório do então prefeito Marcelo Crivella (Republicanos), que enfrentou desafios agravados pela pandemia. Crivella, em conflito com a Rede Globo e grande parte da mídia, encontrava-se politicamente isolado. Na Câmara de Vereadores do Rio, escapou por pouco de um impeachment, contando com o apoio do vereador Leandro Lyra, na época no Novo, que posteriormente foi esquecido pela política após migrar para o Republicanos.

Comparar os governos de Paes e Crivella é quase injusto, dada a diferença de desempenho entre os dois. No entanto, seria mais pertinente, neste ano eleitoral, avaliar Paes em relação a Cesar Maia, considerando que ele está prestes a se tornar o prefeito que mais tempo governou o Rio de Janeiro. Essa comparação ofereceria uma perspectiva mais abrangente sobre o impacto de Paes na administração da cidade, especialmente quando confrontado com o legado de seu antecessor, que governou por três mandatos e conseguiu estabelecer um sucessor em Conde.

Eduardo Paes Rodrigo Maia e Cesar Maia Quintino - O Rio de Janeiro de Eduardo Paes é melhor que o de Cesar Maia?
Eduardo Paes, Rodrigo Maia e Cesar Maia

A despeito da afinidade política compartilhada, Cesar Maia e Eduardo Paes possuem estilos distintos. Maia é reconhecido como um intelectual e formador de quadros, dotado de habilidades frasais que permitem longas e profundas conversas, abrangendo não apenas o funcionamento de uma cidade, mas também questões globais. Por outro lado, Paes é mais pragmático, embora não chegue a ser um tecnocrata, destacando-se por sua habilidade em cooptar quadros políticos. Enquanto Maia era previsível em suas posições, Paes tem a habilidade de articular discursos alinhados aos desejos do interlocutor, mesmo que não os concretize posteriormente.

Embora seja comum idealizar o passado, os números indicam que a cidade do Rio estava em uma posição mais confortável antes da gestão de Eduardo Paes. Paes, politicamente hábil, cultivou relações positivas com figuras como Lula, Dilma, Sérgio Cabral e Pezão. Em contraste, Cesar Maia enfrentava conflitos com Fernando Henrique, Lula, Garotinho e Rosinha, tornando-se uma figura de trato mais desafiador. Durante a gestão de Paes, as torneiras federais estavam mais abertas em comparação com a administração de Maia, que recebiarecursos de maneira mais restrita. Isso levanta a questão de se Paes poderia ter feito mais e melhor, dada a disponibilidade de recursos durante seu mandato.

Trânsito

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Foto: Daniel Martins/Diário do Rio

O tempo médio de trânsito serve como um indicador crucial para avaliar a eficiência das políticas urbanas. Quando Cesar Maia passou o governo para Eduardo Paes, em 2008, o tempo médio era de 2 horas e 21 minutos, refletindo um crescimento desde 2005, quando estava em 1 hora e 44 minutos. Nesse mesmo ano, os paulistanos gastavam em média 2 horas e 42 minutos no trânsito. Em 2022, São Paulo viu uma redução para 2 horas e 22 minutos, enquanto o Rio se tornou a cidade mais congestionada do Brasil em algumas pesquisas.

Apesar dos investimentos iniciais em BRT (Bus Rapid Transit) durante os primeiros mandatos de Eduardo Paes, ele teve que revisitar o tema quando reassumiu o cargo. Culpar exclusivamente Crivella é simplificar a questão, pois o projeto já apresentava falhas antes de 2016. Em quatro anos, a pandemia acelerou os desafios, evidenciando a necessidade de uma reinvenção no transporte público. O investimento em articulados e estratégias de marketing não será sustentável a longo prazo.

Ao longo dos quase 10 anos de governo Paes, notamos a ausência de projetos impactantes, comparáveis à visão estratégica de Cesar Maia. A Linha Amarela, a duplicação de vias como Avenida das Américas, Avenida Brasil, Aberlado Bueno e Salvador Allende transformaram a maneira como os cariocas transitam pela cidade, gerando impactos duradouros. Não há, no entanto, uma via construída pelo atual prefeito que seja verdadeiramente marcante.

O trânsito na Barra piora a cada dia, e embora os mergulhões tenham melhorado, a situação continua desafiadora na região. Vale ressaltar que, com a ajuda do Governo do Estado, a região ganhou o metrô do Jardim Oceânico, além das ligações do veículo subterrâneo com várias estações da Zona Sul, e ainda assim o trânsito continua cada dia mais caótico.

A proposta de uma ponte ligando a Via Parque à Jacarepaguá poderia ser uma solução para a região da Barra e Jacarepaguá, mas tal projeto exigiria um comprometimento em um possível próximo mandato.

O Centro do Rio

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Vista do Museu Sacro Franciscano – Centro do RioFoto: Rafael Catarcione | Riotur

Cesar Maia desempenhou um papel fundamental ao iniciar uma significativa transformação no Centro do Rio, focando na recuperação de ruas, largos e praças. A criação do Mergulhão da Praça XV foi um marco que revitalizou a região. Entretanto, sua visão parece ter sido limitada em comparação com a abordagem mais abrangente adotada por Eduardo Paes, tanto no mandato atual quanto no anterior.

A coragem de Paes ao derrubar a Perimetral foi notável, representando uma mudança ousada na paisagem urbana. O Projeto Reviver Centro, agora sendo replicado em diversas cidades ao redor do mundo, demonstra uma visão mais holística para revitalizar áreas urbanas centrais. A introdução do VLT e a proposta de retirar ônibus da região, promovendo uma conexão mais direta entre modais, é um passo inovador que pode resultar em uma região menos poluída e mais agradável.

A abordagem de Paes vai além da estética, buscando soluções integradas que consideram a mobilidade urbana e a qualidade de vida. Essa visão de longo prazo parece ser um diferencial na administração atual, destacando-se pela inovação e preocupação com a sustentabilidade urbana.

Habitação

A questão habitacional, especialmente nas favelas, parece ser uma área em que a administração de Eduardo Paes carece de iniciativas marcantes, ao contrário do reconhecido programa Favela Bairro implementado durante o governo de Cesar Maia, que recebeu prêmios internacionais. A falta de grandes projetos nesse sentido levanta questionamentos sobre as ações em prol dos menos favorecidos sob a atual gestão.

Embora a favelização do Rio seja um desafio enfrentado por vários governos, alguns deles buscaram ativamente soluções para as comunidades, abordando questões como saneamento e transporte. No entanto, a sensação atual é de paralisia, com a gestão aparentemente entregue a partidos como o União Brasil, sem apresentar mudanças significativas.

Surpreendentemente, a falta de uma oposição mais robusta na Câmara do Rio pode contribuir para a aparente estagnação. A presença de apenas alguns vereadores, como Pedro Duarte (Novo) e Rogério Amorim (PL), sugere um cenário político desafiador para a fiscalização e questionamento das políticas públicas. A oposição ativa desempenha um papel crucial na transparência e na responsabilidade governamental, algo que Cesar Maia enfrentava mesmo diante das Organizações Globo. A ausência desse contrapeso pode impactar a efetividade da governança.

Ordem Urbana

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Enquanto quase todo o comércio formal da Uruguaiana vai à falência, um imenso mercadão de mercadoria duvidosa nasce, com ‘telhado’ e tudo, bem no meio do canteiro central da Uruguaiana / Foto: DIÁRIO DO RIO

A abordagem de Eduardo Paes em relação à Ordem Urbana, especialmente no que diz respeito aos ambulantes, parece ser menos incisiva em comparação com a postura de Cesar Maia durante seu mandato. O secretário de Ordem Urbana, Brenno Carnevale, é um delegado da Polícia Civil, cuja visão pode estar mais direcionada para questões específicas, como a atuação das milícias. O crescimento da desordem urbana na cidade pode ser atribuído, em parte, à aparente falta de prioridade dada ao problema dos ambulantes. Enquanto Carnevale prefere a derrubada de um ou outro edifício da milícia, que nem é a maior renda da organização criminosa, as vans.

No passado, Cesar Maia adotou uma abordagem mais decisiva, eliminando o mar de tendas azuis que ocupavam áreas como Copacabana e o Centro do Rio. Ele buscou organizar até mesmo os camelôs em Madureira, garantindo que trabalhassem de maneira a não prejudicar o comércio formal. Embora tenha havido conflitos entre a Guarda Municipal e os camelôs na época, a situação atual, com o comércio formal sendo prejudicado pela concorrência desleal do comércio informal, é vista como mais problemática.

Meio Ambiente

No âmbito ambiental, ambos os prefeitos tiveram iniciativas, mas Cesar Maia, em seu primeiro mandato, criou a Secretaria de Meio Ambiente e destacou nomes significativos como Sérgio Besserman para lidar com o tema. No entanto, a favelização continuou a crescer. Eduardo Paes, por sua vez, nomeou Tainá de Paula para lidar com questões ambientais em um acordo político com o PT.

No entanto, críticos apontam que, ao longo de nove anos, Paes cumpriu pouco no tema, inclusive deixando de realizar o Bosque Rio 2016. Cesar Maia, por sua vez, destacou realizações como o reflorestamento de morros da cidade em 2008.

Morro do Sumaré Anos 90/2008

Morro do Urubu e Babilônia Anos 90/2008

Morro Dois Irmão Anos 90/2008

Nomes para história

Cesar Maia e Eduardo Paes Quintino - O Rio de Janeiro de Eduardo Paes é melhor que o de Cesar Maia?
Foto: G1

As comparações entre Cesar Maia e Eduardo Paes revelam nuances interessantes sobre o legado de ambos na história do Rio de Janeiro. Cesar Maia, com sua ousadia e criatividade, ficou marcado por eventos icônicos como o show dos Rolling Stones em Copacabana e a criação do famoso réveillon da cidade. Sua gestão foi caracterizada por uma abordagem inovadora e por projetos que entraram para a memória coletiva.

Eduardo Paes, por outro lado, é visto por alguns como um gerente eficiente, mas talvez com menos destaque em termos de criatividade. A gestão de Paes foi mais centrada na eficiência operacional e no gerenciamento pragmático da cidade.

É interessante observar as diferenças na composição do secretariado e assessores. Cesar Maia teve uma equipe notável, incluindo Eduardo Paes, que mais tarde seguiu carreira política. Em contrapartida, críticas a Paes sugerem que ele pode manter pessoas em cargos-chave mais pelo sobrenome do que pela competência, afetando setores cruciais da cidade.

A dinâmica entre a sociedade civil e alguns secretários na gestão de Paes também é mencionada, indicando que em alguns casos a sociedade procura dialogar diretamente com subsecretários ou outras forças políticas, possivelmente contornando certos membros da administração.

No final, a avaliação de quem foi “melhor” pode depender das prioridades e valores de quem analisa. Cesar Maia é reconhecido por sua ousadia e eventos memoráveis, enquanto Eduardo Paes é visto como um gerente eficaz, mesmo que talvez menos inovador. O futuro ainda reserva mais capítulos para o atual prefeito, e será interessante observar como ele moldará seu legado nos anos que virão.


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