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Quintino – Como alguém pode ser contra a internação compulsória de cracudos no Rio de Janeiro?

Foto de Pixabay

O DIÁRIO DO RIO tem desde sua refundação uma clara posição pró-ordem pública em todos os sentidos; nos colocamos fortemente a favor de uma cidade mais organizada, mais limpa e a favor dos negócios – o Rio precisa de menos burocracia, precisa ser business friendly. Essa é a posição editorial do jornal e entendemos quem há quem tenha uma visão diferente: já falei que o problema do Rio de Janeiro é o falso bom mocismo ou a Síndrome da Praça São Salvador, que leva a uma deturpação do que é melhor para toda a pólis. E essa discrepância nunca ficou tão evidente quanto na questão – realmente no brainer – da necessidade de internação compulsória dos usuários de drogas que vivem nas ruas, aventada (muito tarde, aliás) pelo prefeito Eduardo Paes.

Não se pode chamar Paes de alguém de direita e até já fiz um artigo em que o desenho como um político de esquerda, longe de ser alguém que queira pegar os cracudos (termo que eu e quase todo carioca usamos, não a Prefeitura, ao menos oficialmente) e jogar em algum canto sem nenhum cuidado. Ele próprio falou que está montando um projeto para que seja feito de forma que atenda às recentes – muito estúpidas, aliás – decisões do Supremo Tribunal Federal sobre o assunto., e que não seja apenas para retirar estas pessoas da rua e jogar em algum canto como era costume no passado, embora praticamente qualquer lugar seja melhor que morar na rua em meio às intempérie, violência, insetos, ratos e riscos de todo o tipo.

E, vejam bem, o projeto está sendo montado pelo cuidadoso e humanista Daniel Soranz, secretário de Saúde: um sanitarista, homem sério e que teve seu nome ventilado até mesmo para Ministro da Saúde de Lula. Soranz foi um dos responsáveis pelo sucesso do projeto Clínica da Família no Rio de Janeiro, além de uma competência sem igual na luta conta o Covid-19. É certo que não jogaria seu nome em algo que não fosse minimamente bem planejado e que desagradasse o eleitor típico seu e de Paes, em véspera de ano eleitoral.

Dentre diversas premissas erradas em que os detratores da internação compulsória se prendem – normalmente são daquela uma esquerda que parou nos anos 1960 e daí não evoluiu – é que a luta antidrogas ainda é contra a maconha e cocaína, nos piores casos heroína. Verdade seja dita, sobre a maconha em si pode até caber um debate amplo pela liberação, enquanto cocaína e heroína fazem claro mal ao usuário e sua família, e no caso de qualquer droga, à sociedade de forma indireta no combate ao tráfico.

Mas outra história é o crack, este tira do usuário sua própria consciência e seus usuários perambulam pelas ruas zumbis sem rumo, babando, se arrastando e cometendo – na melhor das hipóteses – pequenos crimes. A droga os afasta do convívio da família, da sociedade e forma as Cracolândias. Ali passam a entregar, muitas vezes, o próprio corpo para comprar a próxima pedra, a roubar, matar, estuprar e, logicamente, morrer. Mortes que acabam servindo de alívio para si próprios e para a sociedade mas que está longe de ser algo que deva ser política de estado, ou fonte de aplausos. São casos e mais casos que se repetem, não só no Rio mas em todo o Brasil. Estes usuários assediam principalmente as mulheres e idosos, e não são raras as notícias de ataques e estupros, como o que ocorreu recentemente em plena calçada em Copacabana, nosso bairro mais turístico. Cidade que não valoriza turista está fadada à decadência.

Cracolândias e mais cracolândias estão espalhadas pela cidade e os cracudos habitam os pesadelos dos cariocas. Roubam crianças, jovens, adultos e idosos, quase sempre com violência. Esfaqueiam turistas que dormem na praia, mesmo com várias passagens na polícia, e mancham a imagem internacional do Rio. Estupram menores no meio da rua e depois a sociedade fica escandalizada. Escandalizada como se não é mais que uma crônica de morte anunciada? E nada jamais é feito, e quando se sugere a óbvia solução da internação compulsória uma parte da sociedade que parece viver em uma bolha própria – onde o mundo é um bolo com chantilly – é contra. Qualquer mãe média nos ensina que o nosso direito termina quando começa o do próximo.

Esta bolha prefere a inação a que seja feito algo; é uma gente que posa de boazinha até a página 2. Dizem que há outras maneiras de tratar o assunto, mas não oferecem alternativa lógica. Dizem que a internação não resolve o problema. Talvez até possa ser que não resolva o do cracudo – embora concordo que todo esforço deve ser feito durante a sua internação – mas certamente resolve o da sociedade. Até onde sei os cracudos não têm o dom da bilocação nem do teletransporte: nenhum cracudo internado numa clínica foi visto estuprando alguém na calçada a 50km dali.

Dentre as asneiras do ano estava uma bobagem dita por uma vereadora do Psol. Segundo ela, ainda precisa ser estudado como o crack afeta o usuário e precisamos debater com pesquisadores, no lugar de internar. São os colegiadomaníacos. Aquelas pessoas que marcam reuniões para decidir quando será a próxima reunião. Como assim? Então ficaremos eternamente em conversas internas, enquanto pessoas são esfaqueadas, mortas e estupradas? Filosoficamente o ser humano debate até se nós existimos ou não, mas ainda assim acordamos todos os dias para trabalharmos e sobrevivermos.

Que se debata a melhor forma de internar, de fiscalizar a interação. Que se vá aos centros de recolhimentos, que se observe se lá estão sendo bem tratados e se estão felizes, ou se não há baratas no armazenamento de alimentos ou se o banheiro está sendo limpo como deve ser. Normalmente é mais limpo que a calçada, e tem menos ratazanas que a sarjeta, mas é claro que deve haver excelência e tratamento digno é humano a todos. Mas que não sejam contra apenas por sua ideologia que não evoluiu com a sociedade ou como a química de uma droga que acaba, sem nenhuma dúvida, com o cérebro do seu usuário.


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