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Queloide: A doença que marginaliza um paciente do SUS em Campos dos Goytacazes

O trabalhador rural Valdemir Honorato de Castro, de 35 anos, é pai de duas crianças, um menino de 7 anos e uma menina de 2 anos. É o esteio de família. Mora em Campos dos Goytacazes (RJ), uma cidade rica, com pouco mais de 500 mil habitantes e um orçamento que ultrapassa os R$ 3 bilhões anuais. 

Esta riqueza que jorra dos campos de petróleo da Bacia de Campos, por meio de pagamentos de royalties e Participação Especial na produção petrolífera, passa distante de sua casa simples e sem reboco em Cajueiro, zona rural próxima ao balneário de Lagoa de Cima. 

Com o trabalho cada vez mais escasso, Valdemir precisa buscar tarefas sazonais, como capina, plantio ou limpeza. É daí que tira o sustento da família. Diariamente enfrenta o sol e também o desconforto em decorrência da queloide (uma doença rara) nas duas orelhas. 

A doença é visível, pois tem como característica um crescimento anormal de tecido. A Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) define como “uma alteração benigna”. O desconforto não é apenas na aparência, mas também é provocado por coceiras e feridas, o que muitas vezes resulta em pequenos sangramentos. 

No caso de Valdemir, nas duas orelhas cresceram tecidos criando aparência similar a de pencas de mamão. Uma delas já tomou todo o ouvido e chega quase a bater no peito. 

A irmã, Angélica de Castro, afirma que a situação piorou nos últimos anos, período em que Valdemir aguarda um procedimento da secretaria Municipal de Saúde de Campos para definir um procedimento cirúrgico. 

“Ele está esperando já faz um ano. Ficaram de organizar uma junta médica para saber o que seria feito e até hoje nada”, disse Angélica. Nos últimos dias, depois que o caso foi tema de uma reportagem no programa Direto da Redação, com o jornalista Roberto Barbosa, o paciente teve consulta marcada pela secretaria Municipal de Saúde. 

Há suspeitas que a doença de Valdemir é genética, já que um de seus irmãos também enfrentou o mesmo problema. “Só que no caso desse outro irmão, a cirurgia foi realizada há uns 15 anos no município de Rio das Ostras (RJ) e depois ele fez todo o tratamento em Campos. Conseguiu curar”, afirma Angélica.

Valdemir também chegou a fazer uma cirurgia, mas o tratamento pós-cirúrgico não foi mantido, o que pode ter contribuído para a recidiva. O caso deste paciente comove internautas de todo o país por fatores que vão de sua condição social ao abandono à falta de assistência de saúde pública.  

Diante da inoperância do SUS (Sistema Único de Saúde), a família lançou uma campanha para tentar custear uma cirurgia e tratamento na rede particular. A campanha está angariando recursos por meio das redes sociais. O SUS não paga a cirurgia plástica reparatória para esses casos, porque considera como procedimento estético comum. O paciente sofre com desassistência e com o estigma.

“Tenho encontrado dificuldades de trabalho por conta da doença. Tenho também desconfortos na hora de dormir, sinto coceiras e ao coçar provoca feridas. É complicado”, disse Valdemir em vídeo gravado para divulgar o número do pix da conta destinada a receber doações para custear o tratamento. A campanha é denominada de “Vaquinha Solidária.”

A conta bancária está em nome da irmã Angélica e conseguiu arrecadar R$ 2.700 logo que foi divulgada. A situação do trabalhador rural está sensibilizando internautas e até médicos, de forma que poderá contribuir para tirar outros milhares de pacientes pobres com queloide da invisibilidade diante no Sistema Único de Saúde. 

O que diz SDB sobre a queloide

Queloide é um crescimento anormal de tecido cicatricial que se forma no local de um traumatismo, corte ou cirurgia de pele. É uma alteração benigna, portanto sem risco para a saúde, na qual ocorre uma perda dos mecanismos de controle que normalmente regulam o equilíbrio do reparo e regeneração de tecidos. 

A doença pode afetar os dois sexos igualmente, embora exista uma maior incidência em mulheres. Indivíduos com pigmentação mais escura, pessoas negras e pessoas asiáticas são mais propensos a desenvolver queloides. A frequência em pessoas com pele mais pigmentada é 15 vezes maior do que em pessoas com pele menos pigmentada. A idade média de seu início gira entre 10 e 30 anos. 

Se uma pessoa tem tendência a formar queloides, qualquer lesão que possa causar cicatriz pode levar à sua formação. Isso inclui um simples corte, uma cirurgia, uma queimadura ou até mesmo cicatrizes de acne severa. Algumas pessoas podem desenvolver um queloide depois de furar a orelha para colocar brincos e piercings ou mesmo apenas no trauma da tatuagem. 

Um queloide também pode se formar em feridas de catapora após a doença ter passado. Em casos muito raros, os queloides se formam em pessoas que não feriram a pele. São chamados de “queloides espontâneos”. Os locais mais envolvidos são as áreas do tórax, do colo, do pescoço anterior, dos ombros, dos braços e das orelhas, mas outros locais podem ser afetados.

Os sintomas da doença

Ao contrário de outras cicatrizes elevadas, as chamadas cicatrizes hipertróficas, os queloides crescem sem respeitar os limites da ferida original. Eles não devem ser confundidos com cicatrizes hipertróficas, pois essas são muito mais comuns e, apesar de cicatrizes elevadas e endurecidas, elas mantêm os limites da cicatriz e tendem a melhorar mais rápido com o tratamento adequado. 

Alguns pacientes apresentam queixas de dor, coceira leve ou uma sensação de queimação ao redor da cicatriz. A depender do local afetado também pode ocorrer limitação do movimento ou dor na movimentação. Um queloide que cobre uma área extensa ou se localiza em áreas expostas pode causar grande desconforto físico e psicológico, sendo este último um dos grandes desafios ao tratamento, já que a lesão nem sempre responde rapidamente à terapia.

Formas de tratamento

Nenhuma terapêutica isolada foi determinada experimentalmente como sendo a mais eficaz no tratamento dos queloides. Eles não aparecem em animais, tornando difíceis os estudos experimentais isolados desses tratamentos. Na grande maioria dos casos, os tratamentos são associados para evitar as recidivas. O tratamento pode ajudar a reduzir os sintomas, como dor e coceira. 

Se a cicatriz torna difícil algum movimento, o tratamento pode ajudar o paciente a recuperar a movimentação normal, mesmo sem conseguir o resultado cosmético ideal. Entre os tratamentos usados, existe a  infiltração de medicamentos como triancinolona, bleomicina, 5 fluoracil e novas drogas, ainda não usuais no país, como INF-alpha, INF-beta e INF-gama.

Às vezes, a remoção cirúrgica é a única possibilidade, mas deve-se levar em conta que os fatores que originaram o primeiro queloide ainda estão ativos e, portanto, a recidiva é um fato a ser considerado. Os melhores resultados em cirurgia ocorrem quando se remove parte do queloide, uma técnica chamada de “debuking”, e as incisões são realizadas não atingindo a pele normal ao redor. Assim, se tenta evitar estímulos de um novo queloide. 

Em seguida, ainda na sala de cirurgia, se utilizam os medicamentos injetáveis como medidas de controle de recidiva, seguidos de curativos oclusivos e compressivos.

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