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Pimenta ainda busca equipe no RS e tenta se blindar após críticas por sua nomeação

Com 20 dias à frente da secretaria do governo federal responsável pela reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta (PT) ainda busca montar equipe e estruturar local de trabalho enquanto concilia agenda de ministros e tenta fugir de acusações de politizar a tragédia.

Se no comando da comunicação do governo Lula 3 o ministro não media as palavras para criticar adversários e polemizar, agora ele busca, por enquanto, assumir uma postura mais institucional e evitar discussões políticas e eleitorais.

Cotado para ser candidato a governador em 2026, Pimenta foi anunciado em 15 de maio. Sua secretaria é vinculada à Presidência, por medida provisória, e ele tem direito a 29 cargos, em Brasília e no Rio Grande do Sul.

Até o momento, foram nomeadas quatro pessoas. O seu número 2, Emauel Hassen, mais conhecido como Maneco, é o único que deixou a Secom para a empreitada, além do próprio ministro.

A rotina atual de Pimenta inclui viagens pelo estado, sobrevoos e reuniões com as prefeituras. O novo ministério ainda não tem site ou agenda oficial das autoridades.

“A minha agenda envolve três dimensões: acompanhamento da situação e da atuação e ação dos ministérios […]; relação com o governo do estado e as prefeituras para tentar acompanhar os planos de trabalho, as demandas […]; e acompanhamento das ações de entregas, rodovias, colocação de bombas, a presença do governo federal nas regiões”, afirmou à Folha.

Pimenta estabeleceu um rodízio de viagens de ministros e, nessa toada, apenas 10 dos 38 ainda não visitaram os estragos das enchentes no Rio Grande do Sul.

O decreto que cria a secretaria determina que o ministro e outros dois cargos mais altos “terão exercício” na capital federal e os demais, em território gaúcho. A ideia inicial, segundo aliados, era a de que Pimenta estivesse em Brasília ao menos um dia da semana.

Mas nem sempre isso é possível, como ocorreu na última semana. O ministro então deve permanecer de maneira integral no Rio Grande do Sul nos próximos dias, mas integrantes do governo esperam que, daqui um ou dois meses, ele possa despachar de Brasília.

A nomeação de Pimenta para o posto foi alvo de críticas logo depois de oficializada. Aliados do governador Eduardo Leite (PSDB) e do prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo (MDB), viram um gesto de politização, uma vez que ele é tido como candidato.

Após as críticas, Pimenta tem buscado fugir das polêmicas. “Eu considero que minha relação com os prefeitos e com o governador é muito tranquila, muito harmônica, e considero que os resultados no trabalho conjunto têm sido muito importantes.”

Aliados admitem que, se o trabalho for bem feito, ele e o governo Lula podem lucrar politicamente com o episódio. Mas, até o momento, sabem que é um jogo arriscado e incerto.

A manutenção do ministério extraordinário de Pimenta até fevereiro de 2025, como anunciado inicialmente, depende obrigatoriamente de votação do texto no Congresso, já que medidas provisórias têm até quatro meses de validade. A Folha mostrou que isso pode abreviar a permanência dele.

A secretaria de Reconstrução ainda não tem estrutura física em Porto Alegre. Inicialmente, estava num prédio da Caixa Econômica Federal e agora funciona em andar de um prédio do Banco do Brasil, onde diariamente circulam integrantes do governo federal.

A Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), por exemplo, está com cerca de 20 funcionários no estado. A companhia terá também postos em Pelotas e Santa Maria para armazenagem de cestas básicas e kits de higiene.

Logo no início da crise, montou um grupo de trabalho para as operações em território gaúcho e nomeou um coordenador para atuar no local, Elton Mariani. Outros servidores de outros estados também estão trabalhando direto de lá.

A Caixa recrutou uma equipe de empregados e dirigentes da alta gestão para atuar 30 dias no RS. Segundo o banco, 19 pessoas de outros estados vão atuar diretamente da região afetada com o objetivo de acelerar as medidas de reconstrução.

O Rio Grande do Sul é marcado pela polarização. Em 2022, Lula ganhou com 50,9% dos votos, contra 49,1% de Jair Bolsonaro (PL). Entre aliados do presidente, há uma avaliação de que o voto bolsonarista está cristalizado em uma parcela do estado.

Aliados de Pimenta rechaçam tentativa de uso da tragédia para promover o governo Lula ou ele próprio. Um membro de sua equipe diz que, se o objetivo fosse se autopromover, ele estaria concedendo entrevistas para as emissoras de rádio do interior do estado.

As maiores cidades do Rio Grande do Sul são hoje governadas por MDB, PSDB e PP. Canoas, fortemente atingida pelas enchentes, é gerida pelo prefeito Jairo Jorge (PSD).

À Folha ele estima levar três meses no que chama de reconstrução mínima da cidade, e dois anos, numa mais estrutural. “Às vezes você tinha que ir três, sete vezes no ministério para resolver um assunto. Então, vejo que a existência de uma estrutura aqui, pelo menos nesses primeiros 15 dias, mostrou celeridade.”

Sobre recursos, ele solicitou cerca de R$ 140 milhões em demandas para reconstrução. Até o momento, diz ter recebido cerca de R$ 7 milhões.

Mas evita ver movimentos políticos na tragédia. “Estamos em uma desgraça, em uma catástrofe tão grande, que a última coisa que uma pessoa de bom senso tem que pensar é em eleição.”

Na mesma linha, o prefeito de Santa Maria e adversário político de Pimenta, Jorge Pozzobom (PSDB), diz considerar “lamentável” a tentativa de divisões políticas durante a tragédia.

“Tenho divergências profundas com o PT, mas, pelo amor de Deus, estamos vivendo momento em que todo mundo precisa ajudar todo mundo”, afirma. “Quando Lula nomeou Pimenta para ser ministro e ficar ajudando nessa questão, eu particularmente fiquei feliz porque tem um cara de Santa Maria, que conhece nossa região, e que junto com o governador tem nos ajudado muito.”

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