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Os riscos da polarização e a eleição municipal

O mundo tem testemunhado o acirramento da polarização afetiva, a qual se manifesta na crescente repulsa entre grupos políticos. Em países como Bélgica, Espanha e Estados Unidos, a discriminação por razões políticas já supera a discriminação religiosa, linguística, étnica ou geográfica. No Brasil, pesquisas também indicam que a polarização entre petistas e bolsonaristas está aumentando.

No país, um dos polos, o bolsonarismo, carece de um partido ideológico organizado, o que dificulta a coordenação eleitoral e a ação governativa. Contudo, a polarização prescinde de um partido forte, bastando que os eleitores se identifiquem com um grupo. Além disso, líderes tornaram-se mais independentes dos partidos com a popularização das redes sociais, as quais permitem a comunicação direta com eleitores.

Pesquisas de opinião revelam que a polarização no Brasil está mais relacionada à identidade pessoal do que ao papel do Estado na economia. Isso estimula a formação de bolhas, segregando em espaços opostos aqueles que pensam de forma diferente. O desconhecimento sobre o outro leva indivíduos a recorrer a estereótipos e a superestimar a presença de grupos específicos entre os opositores.

À medida que esses vieses aumentam, cresce a percepção de que os adversários são extremistas, alimentando a desconfiança entre cidadãos. As normas informais que regulam as interações sociais são assim corroídas, incentivando comportamentos antidemocráticos e violentos. Pesquisas sugerem que a desumanização do adversário político já ocorre no Brasil, como ilustra o trágico assassinato de Marcelo Arruda, tesoureiro do PT em Foz do Iguaçu, em 2022, motivado por uma discussão política.

Como esse contexto influenciará as eleições municipais deste ano? Se os eleitores estão polarizados, é improvável que mudem de lado. Assim, esperaríamos uma associação positiva entre a porcentagem de votos no PT na eleição presidencial de 2018 e a porcentagem de votos no PT na eleição para prefeitos de 2020. Da mesma forma, esperaríamos uma associação negativa entre a porcentagem de votos em Bolsonaro em 2018 e a porcentagem de votos no PT na eleição municipal de 2020.

Com base em dados eleitorais de todos os municípios, disponíveis no CepespData, confirmamos essas hipóteses. O gráfico mostra que, quanto maior a porcentagem de votos no PT na eleição presidencial, maior será a porcentagem de votos no PT na eleição municipal seguinte. Vale ressaltar que, embora a polarização seja relevante, não é o único fator determinante nas eleições municipais. Nem todos os eleitores estão polarizados, o que faz com que a competência dos políticos e as dinâmicas locais ainda desempenhem um papel crucial nessas eleições.

A polarização, contudo, não deve ser subestimada. Para combatê-la, é essencial dificultar a disseminação de desinformação e do discurso de ódio, fazendo com que o eleitorado deixe de ver a si mesmo como parte de um grupo que precisa, de certa forma, eliminar seu oponente. Outro possível paliativo seria aplicar intervenções que combatam estereótipos para atenuar a polarização afetiva. Já realizadas no Brasil, elas indicam que a redução da animosidade aumenta o apoio a iniciativas que salvaguardam a integridade das eleições. Logo, evidenciam que as democracias se fortalecem com a diminuição da polarização.


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