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“Odor forte”: mulheres expõem experiências com médica ré por racismo

“Foi uma experiência péssima.” Assim, começou o relato de uma ex-paciente da médica ginecologista Helena Malzac, que se tornou ré por racismo, após dizer que negros têm um “odor” forte nas partes íntimas. Nas redes sociais, a profissional coleciona comentários negativos sobre os atendimentos.

Em conversa com o Metrópoles, uma mulher que se consultou com a ginecologista, em 2019, durante a primeira gravidez, fala sobre o mau atendimento, além do que considera negligência por parte da médica o que resultou em um aborto.

“Consultei-me com ela pelo plano de saúde. Comecei meu pré-natal com ela, com cinco semanas. Com 7 (semanas), iniciei um quadro de dores lombares e sangramento rosado na urina. Em consulta, ela [Dra. Helena] me disse que não era nada demais, que eu poderia voltar para casa”, disse a mulher, que preferiu não se identificar.

“O sangramento aumentou, evoluiu para uma infecção urinária bem grave, que é uma condução perigosa para gestantes. Fui àemergência tratar na época, mas já estava muito grave. Seis dias depois, eu sofri um aborto por causa da infecção”, conta a ex-paciente.

Falta de sensibilidade

Ao Metrópoles a ex-paciente comentou que considerou a médica negligente por mandá-la novamente para casa, sem qualquer tipo de preocupação. Segundo ela, Helena Malzac também teve uma abordagem pouco empática, após a situação do aborto. “Quando retornei já tendo sofrido o aborto ela foi bem fria e pouco acolhedora com o caso, disse: ‘Você é jovem, já, já engravida novamente’”, relatou a mulher.

No entanto, esse é apenas um dos casos. Nas redes sociais, diversas mulheres estão comentando as experiências ruins que viveram com a ginecologista. “Essa maldita me fez chegar a uma crise de ansiedade no meio do meu parto, restringindo o meu direito ao meu acompanhante, e, no ápice do meu nervosismo, me perguntou se eu era ‘uma mulher ou um rato’”, relata outra paciente.

“Acabei de descobrir que a mãe da minha obstetra (que também fez o meu parto e me examinou no pós-parto) foi acusada de racismo por dizer que ‘negras têm odor mais forte na vagina’. A mulher viu a minha e também pensou isso. E eu só descobri agora. Só Deus sabe o quanto está doendo”, disse a influenciadora Karoline Miranda.

Ré por racismo

A médica ginecologista Helena Malzac virou ré na Justiça após o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) apresentar denúncia contra a profissional pelo crime de racismo.

Na noite de domingo (10/6), o programa Fantástico, da Rede Globo, revelou que, em uma consulta, a ginecologista afirmou a uma paciente que “mulheres pretas têm mais probabilidade de ter cheiro mais forte nas partes íntimas”.

O caso ocorreu em 2022. Luana Génot contou ao programa que levou a afilhada, de 19 anos, para colocar um dispositivo ultrainterino (DIU) com a médica, que conhecia há mais de 10 anos.

Luana gravou o diálogo com a médica. “Muito forte, aqui, ó. Quando você sua, o cheiro piora. É a mesma coisa no sovaco. É o mesmo cheiro, um cheiro forte, mas é por causa da cor e do pelo. Você vai ser a vida inteira assim”, disse Helena.

Após a consulta, Luana e a afilhada foram a uma delegacia e registraram ocorrência. O MPRJ denunciou a médica à Justiça, que acatou o pedido e a transformou em ré.

A reportagem do Metrópoles não localizou a ginecologista Helena Malzac. Em trecho da defesa prévia apresentada à Justiça, obtida pelo Fantástico, o advogado da médica alega que “não ocorreu a vontade de discriminar a suposta vítima”.

“O objetivo do comentário da ré foi estrito e visando exclusivamente tratar o mau cheiro com forte odor na região das virilhas”, teria argumentado o advogado.

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