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O que tiktoker carioca pode ensinar a Boulos

Rick Azevedo, 30, candidato a vereador pelo PSOL, fez sucesso no Rio. O tiktoker foi o que menos pegou verba e o que mais teve voto no partido. E terminou em 12º no geral. Sua bandeira é simples, direta e tem até claro cunho trabalhista: ele é contra o regime de seis dias de trabalho por um de folga. A tal da escala 6 x 1.

Começou a protestar contra esse regime na rede social e obteve amplo apoio. Estava falando com uma massa da qual é parte. Embalou a reivindicação não em ódio contra a exploração burguesa, mas com a criação de um movimento chamado VAT –Vida Além do Trabalho.

Ocorre que Rick é contra a CLT, legislação por ele considerada “escravocrata”, que regulamenta o sistema ao qual se opõe. Você ganha um salário fixo baixo e acaba sem tempo para viver ou se dedicar a alguma outra fonte de dinheiro. De que vale essa carteira de trabalho?

Como o sucesso de Rick Azevedo entra na cabeça de uma candidatura mais formal e compenetrada de esquerda? Ser contra a CLT? Imagina. Não entra. Pois é, fico imaginando que ele pode acabar até arrumando adversários em sua sigla.

Rick representa uma faceta da vida social contemporânea que parece distante da esquerda –e de seu candidato em São Paulo, Guilherme Boulos.

Na primeira pesquisa Datafolha para o segundo turno, Boulos largou atrás, como era previsível. O prefeito Ricardo Nunes, espécie de picolé de chuchu do bolsonarismo, obteve 55% das intenções de voto contra 33% de seu oponente. Hoje seria lavada.

Sem desconsiderar o espaço para novidade que faz do segundo turno uma eleição diferente daquela do primeiro, o embate final carrega um histórico pesado da última rodada de votação –mais ainda neste momento sem campanha e propaganda gratuita de rádio e TV.

Boulos tinha e tem contra si o fato de o terceiro colocado, por margem estreitíssima, ter sido um candidato alinhado a ideias de extrema direita, em oposição ferrenha ao campo da esquerda. Nada menos do que 84% dos eleitores de Marçal foram para Nunes. Por mais que tenha tentado reduzir sua rejeição, ela mostrou-se altíssima neste primeiro levantamento: 58% contra 37% do rival. Se quiser aspirar a uma vitória, terá que realizar a façanha de seduzir quem preferiu o ex-coach.

É bom lembrar que no segundo turno o voto que vai para um lado sai do outro. Uma diferença de 22 pontos em votos válidos, por exemplo, desapareceria com a conquista de 11.

Falou-se bastante sobre o futuro da campanha de Boulos ao longo da semana. Para alguns, ele teria que pendurar o blazer que vestiu para parecer menos radical, voltando a uma imagem mais a sua cara. Assim poderia ter mais chance de atrair aquele cara jovem revoltado, batalhador, que fez o M no primeiro turno.

Precisaria também atualizar o discurso surrado da esquerda, feito para outros tempos, forjado por um ideário coletivista, no qual o Estado se sobrepõe à iniciativa privada e o lucro é visto quase que como pecado. Teria, nesse sentido, que aprender alguma coisa com Rick Azevedo.

É um tremendo desafio. Boulos perde fatia considerável de quem votou em Lula em 2022. A entrada do presidente na campanha vai ajudar? É tudo complicado e contraditório. Para avançar, vai precisar chupar cana, assoviar e dar mortais escarpados. Impossível não é, mas não está nada fácil.


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