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Nunes e Boulos trocam ataques em debate e resgatam suspeitas e insinuações

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) trocaram ataques e insinuações e resgataram suspeitas de seus respectivos passados durante debate realizado por um pool da TV Record e do jornal O Estado de S. Paulo, na noite deste sábado (19).

O emedebista tentou pintar o rival como radical e extremista e buscou atacá-lo citando mudanças de posicionamento em temas como polícia, drogas e aborto. Também o acusou de espalhar fake news, mencionou sua prisão em 2012 e seu voto pelo arquivamento de suspeitas de “rachadinha” contra o colega André Janones (Avante-MG).

Já o psolista resgatou investigações por corrupção na prefeitura, como o caso da máfia das creches, relembrou episódio em que Nunes foi denunciado por porte ilegal de arma na juventude e fez alusão ao boletim de ocorrência por violência doméstica registrado pela mulher do prefeito em 2011.

No geral, Boulos partiu mais para o ataque —ele aparece atrás nas pesquisas. Já Nunes procurou escapar de seus pontos frágeis, deixando de responder diretamente a diferentes perguntas do adversário e de jornalistas.

Durante o programa, os dois candidatos também repetiram o jogo de empurra sobre as responsabilidades pelo apagão da última semana em São Paulo, com um acusando o outro de mentir.

Diante dos ataques, o debate teve cinco direitos de resposta concedidos, três para Nunes e dois para Boulos.

Em um deles, o prefeito disse que Boulos é um “craque” em mentiras e fake news e que sua campanha foi condenada 17 vezes pela Justiça Eleitoral no segundo turno. Parte delas se refere à associação que Boulos tem feito —e voltou a fazer no debate— entre o nome de Nunes e “o cunhado de Marcola do PCC”, sem provas dessa relação.

Nunes também citou reportagem da Folha que mostrou que Boulos foi acusado de envolvimento no episódio conhecido como a desocupação do Pinheirinho, em 2012, quando foi preso em flagrante e solto sob fiança de R$ 700. Ele ficou seis anos sem ser encontrado pela Justiça, e o processo prescreveu.

O agora candidato, que na ocasião se apresentou como professor universitário da Faculdade de Mauá, foi processado sob suspeita de ter atirado pedra contra uma viatura da Guarda Municipal de São José dos Campos (SP) e incitado famílias desalojadas a danificarem o ginásio de esportes da cidade.

Ele negou ter danificado ou provocado alguém para destruir patrimônio público e disse ter sido agredido por guardas.

Boulos, por sua vez, resgatou caso em que Nunes foi denunciado, aos 28 anos, por porte ilegal de arma após um disparo de pistola em Embu das Artes, na Grande São Paulo. O episódio aconteceu em uma madrugada de 1996 em uma casa de shows chamada Caipirão, no centro de Embu.

A acusação foi baseada no relato de um policial civil que trabalhava como segurança no salão, segundo documentos obtidos pela Folha. Ele disse ter visto Nunes dar um tiro com uma pistola Imbel calibre 380.

O prefeito afirma ter sido um disparo acidental sem consequência: “[Não] tem nada que eu dei tiro, isso é uma conversa. Eu fui separar uma briga. Eu não podia ver aquela situação e deixar alguma coisa acontecer”, disse Nunes no debate, reclamando quando Boulos afirmou que ele foi preso na ocasião.

Segundo os relatos oficiais, ele foi conduzido à delegacia.

Sobre o apagão, Boulos citou um aditivo no contrato com a Enel que define a prefeitura como a responsável por poda e remoção de árvores. Ele já havia mencionado o aditivo na sabatina Folha/UOL/RedeTV!, na quinta-feira (17), assim como a ideia de que “a mãe” do problema é a Enel e o “pai” é Nunes.

“Um líder precisa assumir responsabilidade, reconhecer erro. É uma coisa básica. Você [Nunes] não consegue reconhecer erro. Fica na arrogância. A culpa nunca é sua”, provocou o deputado.

“A concessão é federal, e a intervenção só pode ser feita pelo presidente da República”, afirmou o prefeito, acrescentando: “Eu e Tarcísio [de Freitas, governador do estado] não queremos essa Enel aqui”.

Após ser indagado por Nunes sobre temas como drogas e aborto, Boulos usou o tempo para insistir para que o prefeito abra seu sigilo bancário. O deputado vem dizendo que pode colocar suas contas para escrutínio e que Nunes não abre o sigilo porque “tem o que esconder”.

O prefeito retrucou afirmando que quem deveria abrir o sigilo é o MTST, movimento de moradia que Boulos liderou por mais de 20 anos, e lembrou a atuação do deputado no caso de suspeita de rachadinha no gabinete do deputado federal Janones. Como relator, Boulos recomendou o arquivamento do caso.

“Você, como deputado, passou pano para institucionalizar a rachadinha, livrou o Janones”, disse.

Um dos momentos de maior tensão foi quanto Nunes insistiu em associar Boulos à criminalidade e disse que ele “sempre foi contra a Polícia Militar” e que é “a favor da bandidagem”. O deputado então reagiu: “Concordo com o Ricardo que bandido tem que estar preso, não em debate”.

Ele citou o caso da máfia das creches, cuja investigação pela Polícia Federal tem o prefeito entre os alvos: “Digo abertamente que no seu governo tem escândalos, esquemas. A cidade de São Paulo infelizmente está nas mãos de esquemas, desde máfia das creches até crime organizado”, disse, gerando outro pedido de resposta concedido a Nunes.

Segundo a PF, entidades sem fins lucrativos responsáveis pelas creches conveniadas da prefeitura teriam desviado R$ 14 milhões na gestão Bruno Covas (PSDB), quando o atual mandatário era vice.

A Folha revelou em 2021 que Nunes e uma empresa de sua família, a Nikkey Serviços S/S Ltda, receberam, em 2018, valores de uma firma chamada Francisca Jacqueline Oliveira Braz, tida pela polícia como suspeita de ser uma fornecedora de notas no esquema de corrupção.

Em outra rodada de acusações e menções a acontecimentos passados da vida de ambos, Nunes citou algumas vezes um acidente automobilístico em que seu adversário se envolveu há alguns anos.

Boulos respondeu: “Já bati o carro algumas vezes, como todo motorista em São Paulo, [mas] graças a Deus nunca bati em mulher”, em alusão ao boletim por violência doméstica feito pela primeira-dama Regina Nunes contra o marido em 2011.

O BO registrado por ela envolve violência doméstica, ameaça e injúria, mas não menciona agressão física. Reportagem da Folha, no entanto, revelou mensagem enviada pelo perfil de Regina em uma rede social a uma pessoa afirmando: “Amiga tenho provas de que ele sempre me bateu e sempre foi um crápula”.

Na rodada de perguntas feitas por jornalistas, Nunes evitou responder se considerava seguro andar da praça da Sé até o largo do Paissandu, às 23h, dado que a região central da cidade é conhecida pelo alto risco de furtos e roubos.

O prefeito disse que tem trabalhado pela melhoria da segurança pública e contou que há alguns dias foi à praça da Sé por volta das 22h e havia “crianças brincando”. Boulos riu e contestou a fala, dizendo que a situação era improvável e afirmando que cidadãos não se sentem seguros para andar com o celular à mostra.

Este foi o quarto debate organizado no segundo turno. Nunes não compareceu a dois deles, o do Grupo Globo (O Globo, Valor e CBN) e do pool Folha/UOL/RedeTV!. O prefeito foi ao da Band. O próximo será na sexta-feira (25), na TV Globo.

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