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Nunes e Boulos fazem investida sobre eleitor hesitante em debate final

Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL) fizeram suas investidas finais do segundo turno com foco em eleitores que não estão 100% convencidos de suas escolhas.

Boulos quis balançar os paulistanos dispostos a votar no prefeito apenas por falta de opção melhor. Nunes tentou segurar aqueles que podem flertar com o deputado do PSOL, mas exibem alguma hesitação.

O debate na TV Globo foi explorado para encaixar os últimos golpes em pontos que são vistos, desde o início da campanha, como as principais fragilidades dos dois candidatos. Durante os quatro blocos, Nunes tentou enquadrar Boulos em lugares-comuns de uma esquerda radical, enquanto o candidato do PSOL pintou o rival como um prefeito fraco e cercado de suspeitas de corrupção.

A dupla quis tirar proveito da caracterização tradicional de qualquer segundo turno como uma guerra de rejeições. No caso de Nunes, o objetivo era evitar uma fuga de eleitores na última hora e manter o voto daqueles que estão a seu lado para evitar uma vitória de Boulos.

Isso significou martelar tópicos que costumam representar elementos de desgaste para a esquerda, ressaltando declarações passadas de Boulos sobre temas como aborto, legalização de drogas e desmilitarização da polícia.

Nenhum desses assuntos foi relevante na campanha municipal, mas o prefeito se serviu deles para apertar os botões do pânico que costumam ajudar candidatos que disputam eleições pela direita. Nunes sugeriu ainda que o adversário só suavizou sua imagem por conveniência eleitoral.

Boulos gastou mais tempo do que gostaria tentando explicar as nuances de suas posições. Apesar disso, ele saiu em vantagem no esforço para encadear uma sequência de ataques com o objetivo de fragilizar a imagem do adversário.

O candidato do PSOL fez uma aposta alta ao disparar suspeitas de corrupção envolvendo a gestão de Nunes. Boulos preparou o retrato de um prefeito cercado por casos nebulosos. Ainda que não fizesse acusações novas ou matadoras, ele se esforçou para convencer o eleitor de que o rival tem algo a esconder.

Ao longo do debate, Boulos tentou unir duas pontas da imagem que pretendia exibir nesta reta final: classificou o prefeito como um gestor anêmico e afirmou que essa característica é uma porta de entrada para o crime organizado e a corrupção. Nunes acusou o rival de mentir, certo de que haverá pouco tempo para o eleitor depurar os discursos de ambos.

O objetivo de Boulos também era expor o que chama de pulso fraco de Nunes na gestão da cidade, com reflexo sobre serviços públicos deficientes –sendo o apagão o ponto mais evidente e presente nesta etapa da campanha.

O prefeito ainda conseguiu usar a seu favor o provável cansaço do eleitor com a disputa. Quis jogar pelo empate no tempo dedicado a temas da cidade e à discussão de propostas. Quase venceu pelo tédio o primeiro dos dois blocos com esse formato, encadeando referências a obras e serviços de uma maneira que jamais seria lembrada pelo eleitor.

Muitos candidatos à reeleição têm essa vantagem. No caso de Nunes, a tática exige cautela porque seu trabalho não tem uma avaliação espetacular, mas há muita gente na cidade que considera a gestão apenas regular –o que ainda pode ser suficiente para mantê-lo no cargo.

O contragolpe de Boulos veio na forma de uma mensagem elaborada sob medida para os dias finais de campanha. Ele insistiu no caminho de um voto por mudança, apresentando-se como uma alternativa segura, algo dito com o propósito de reduzir as desconfianças do eleitor.

A troca de ataques pode não ter potência para converter votos em quantidade significativa na reta final. Podem produzir, talvez, algum resultado a partir da amplificação mútua da rejeição e até impactar a abstenção, a partir de um certo desânimo do eleitor com as opções sobre a mesa.

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