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Nobel de Economia, Daron disse estar “decepcionado” com Lula

Um dos vencedores do prêmio Nobel de Economia na última segunda-feira (14), o economista turco, já foi um “grande apoiador” do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas se desapontou profundamente com o petista, conforme relatou em entrevista à revista Veja divulgada em outubro do ano passado.

Em sua avaliação, os programas de distribuição de renda que foram criados nos primeiros mandatos presidenciais do petista cumpriram seu papel, mas não são mais suficientes, sendo necessária a criação de “empregos e oportunidades para trabalhadores com diferentes níveis de habilidade”. Para ele, o Brasil deveria seguir por esse caminho.

Acemoglu também expressou sua preocupação com o posicionamento do Brasil no bloco econômico Brics, que inclui também a Rússia, Índia, China, África do Sul e que recentemente incorporou Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos.

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– Devo expressar minha profunda decepção em relação aos países do Brics, especialmente o Brasil. Fui um grande apoiador do presidente Lula, mas agora estou extremamente desapontado. A atual expansão do grupo me parece ir em direção equivocada aos interesses do bloco – avaliou.

Ao ser questionado onde estaria o equívoco, Acemoglu mencionou a subserviência do Brasil perante a China e a Rússia:

– É evidente que estamos trilhando um caminho que coloca o Brics sob a influência da China, enquanto o mundo em desenvolvimento necessita de uma voz independente. Essa situação é lamentável. Para o Brasil, que parece concordar com essa mudança, é uma tristeza profunda. Trata-se de um retrocesso significativo – frisou.

Na avaliação do economista, o domínio de potências autoritárias como a China e a Rússia põem em risco o equilíbrio global e fortalecem sistemas não inclusivos social e politicamente.

– Os países do Brics parecem estar se tornando meros clientes dos chineses e russos. Acredito firmemente que o mundo precisa transcender a bipolaridade atual – observou.

Acemoglu relembrou que o regime chinês “levanta preocupações sérias, pois age de forma contrária à democracia”. Ele considera que o sistema político chinês, centralizado e autoritário, é um clássico exemplo de instituições que crescem economicamente a curto prazo, mas que estão fadadas a fracassar no futuro.

– As instituições inclusivas são fundamentais para o sucesso econômico a longo prazo. A China, sem democracia e com instituições frágeis, enfrenta limites claros ao seu crescimento (…) [Essa] é uma das razões pelas quais estou cético em relação ao potencial futuro da China, onde a democracia ainda está distante e a independência das instituições não melhorou significativamente desde o fim do regime de Mao Tsé-tung – assinalou.

CORRUPÇÃO E JUDICIÁRIO
Durante a entrevista, Acemoglu também mencionou a “corrupção sistêmica” que ocorre no Brasil. De acordo com ele, a desigualdade e a corrupção são ameaças ao “funcionamento saudável da democracia”.

– Ela tem impacto na eficiência das instituições, e isso se aplica não apenas ao Brasil, mas a muitos contextos ao redor do mundo. Minha própria pesquisa demonstra que tanto a desigualdade quanto a corrupção operam de maneira semelhante no sentido de minar o funcionamento da democracia – adicionou.

Acemoglu ressaltou a importância de um Judiciário imparcial no combate à corrupção.

– É importante contar com instituições independentes, como um sistema judiciário que atue de forma imparcial. No entanto, é fundamental evitar que o combate à corrupção seja utilizado como pretexto para perseguir adversários políticos, como ocorreu especialmente na China. Ao lidar com a corrupção, é preciso exercer cautela para não aprofundar ainda mais a polarização política e preservar a independência das instituições democráticas – ponderou.

Acemoglu recebeu o Nobel de Economia deste ano junto de outros dois economistas: Simon Johnson e James A. Robinson. Eles foram honrados pelo trabalho que explica por que “sociedades com um Estado de direito precário e instituições que exploram a população não geram crescimento ou mudanças para melhor”.