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Netanyahu disse que líder palestino foi quem sugeriu o extermínio de Judeus a Hitler.


Em 2015, Benjamim Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, declarou que líder palestino teria sido o responsável pelo Holocausto

A FRASE:

O contexto 

Historiadores e analistas defendem que Netanyahu citou o mufti de Jerusalém e a tese de que foi ele o grande inspirador do Holocausto, por motivos políticos, num momento de nova tensão entre israelitas e palestinos, com ataques e retaliações. Uma espiral de violência começou em Jerusalém Ocidental, em primeiro de novembro, quando o Governo de Tel-Aviv bloqueou o acesso de palestinos à Cidade Velha onde estão dois lugares sagrados do islã, o Pátio das Mesquitas e a Mesquita de Al-Aqsa.

Os fatos

A tese não é nova e circula em Israel desde a criação do Estado Judeu, em 1948. Também não foi a primeira vez que Benjamim Netanyahu se referiu à aliança entre o mufti de Jerusalém, Haj Amin al-Husseini, que foi a mais alta autoridade religiosa e política da Palestina, e a Alemanha nazista. Porém, desta vez, o primeiro-ministro de Israel fez o que nunca fora feito — descreveu ao pormenor a conversa que Husseini e Hitler tiveram em Novembro de 1941, quando se encontraram na Alemanha.

 

“Inimigo do meu inimigo meu amigo é”

 

Era no que o mufti acreditava e, por isso, procurou Hitler, na ânsia de se livrar de judeus e de britânicos, e de criar, na Palestina, livre dos indesejados e dos ocupantes, o desejado Estado.

Haj Amin al-Husseini era membro de uma das mais influentes famílias palestinas e chegou ao topo da hierarquia religiosa pelas mãos dos britânicos, que o nomearam Grande Mufti (um mufti é um intelectual a quem é reconhecida a superior capacidade de interpretar a lei islâmica) em 1921. Mas também era um político, um violento opositor ao protetorado britânico (Mandato Britânico na Palestina), a que queria pôr fim de qualquer maneira, assim como acabar com o risco de ser criado no território o Lar Nacional Judeu (o embrião de um futuro Estado).

Em 1937, perseguido pelos britânicos pelo seu papel na revolta árabe de 1936-1939, fugiu da Palestina, refugiando-se no Líbano (então protetorado francês), no Iraque, em Itália e finalmente na Alemanha. A sua cooperação com Hitler é inequívoca. Há documentos que provam que ajudou a recrutar muçulmanos bósnios para criar uma unidade regional das SS nas Balcãs. Tal como há provas em como foi a intervenção de Husseini que travou uma troca de judeus (quatro mil crianças e 500 adultos) por 20 mil prisioneiros alemães nas mãos dos britânicos na Palestina. O mufti não queria que judeus começassem a chegar em massa à Palestina.

Sheri Oz, jornalista independente no The Times of Israel, num artigo em que explica os motivos de Netanyahu para dizer o que disse e em que sublinha que não está nem provado nem desmentido que o mufti disse aquilo a Hitler. Diz que Netanyahu cresceu ouvindo estas histórias e também a tese de que foi o mufti quem sugeriu a Hitler que queimasse os judeus. O pai, o historiador Benzion Netanyahu, explicava as suas teorias em casa. Em 2012, o jornalista David Bedein escreveu também no Times of Israel que foi aluno do pai Netanyahu e assistiu, nos Estados Unidos, a uma aula em que o historiador explicou a associação do mufti com Hitler, tendo mesmo afirmado que foi assinado um pacto de cooperação para o “assassínio dos judeus” — em troca, os nazis reconheciam um Estado palestino. Mas não há provas desse pacto.

Todavia, é consensual entre historiadores de várias correntes, ocidentais e judeus, que o mufti colaborou com o Hitler e que deveria ter-se sentado no banco dos réus em Nuremberg, onde foram julgados os crimes e os criminosos nazistas Em Nuremberg, ouviram-se gravações de discursos do mufti que passaram na rádio. Mas só ficou provado o envolvimento na criação das SS bósnias e o bloqueio à troca de prisioneiros. Nem o julgamento de Adolf Eichmann conseguiu provar mais nada. Foi à volta desta figura que foram sendo baseadas as teorias sobre a grande aliança Husseini-Hitler, com Netanyahu citando num dos seus livros o motorista de Eichmann, Dieter Wisliceny, que depois da guerra teria relatado conversas e teria conduzido o mufti ao campo de extermínio de Auschwitz, para uma visita guiado por Eichmann.

O mufti, que fugiu da Alemanha para o Cairo, morreu em 1974 em Beirute, no Líbano. Ao longo da vida, continuou a inspirar a guerra pelo desaparecimento do Estado de Israel e pela criação do Estado Palestino – um dos seus familiares e protegidos, Yasser Arafat, iria dar continuidade a essa luta armada através da Organização de Libertação da Palestina (OLP).

 

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