Turismo

Não me calarei diante do churros

Estava demorando, mas aconteceu. Dia desses, abro o site da Folha e vejo um texto sobre um certo Dia Mundial do Churros. Como?

O espanto, fora a bizarrice óbvia de inventarem uma data em homenagem a uma fritura, está na concordância nominal. Dia do (singular) Churros (plural). Discordo da concordância e da escolha editorial, na posição de leitor; se fosse editor, talvez fizesse o mesmo.

O jornal não inventou “o churros”. É assim desde que me conheço por gente.

Churros são plurais porque, na origem espanhola, vêm em porções de bastões de massa frita para chuchar no chocolate.

Ocorre que eles se adaptaram. Os churros da minha infância eram vendidos em carrinhos na rua, sempre pela unidade. Uma unidade grande, que o tio do churros penetrava com uma sonda metálica para pornograficamente rechear com doce de leite. Fálico ao extremo, mas fujo do assunto.

Um churro, mas o letreiro do carrinho dizia “churros recheados”, então era churros que falávamos quando queríamos convencer a mãe a nos pagar um. Um churros, pois.

Nós, brasileiros, temos alguma tradição em singularizar o artigo de nomes plurais. “O óculos”. “O patins”. É um delito considerado menos grave do que singularizar o nome em si (“dois pastel”).

Enfim: daí para a institucionalização da ruptura com a norma culta é um passo grande e ousado.

Tendo a aderir à linguagem corrente. Mil vezes “parmegiana” do que a “parmigiana” que os manuais tentam nos empurrar. Nunca me conformei com a substituição da “mussarela”, que sempre vi em embalagens e cardápios, pela “muçarela” imposta por acadêmicos.

O churros passa um pouco dos limites. Sei que é burro lutar contra ele (eles?), mas não consigo me calar.

Aliás, nada a ver um churros nesse calorão. Muito melhor tomar um chopps.


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