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Não há evidências de que feto abortado seja usado em cosméticos, diferentemente do que diz autor de PL

O deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), autor do projeto de lei Antiaborto por Estupro (PL 1904), desinforma, em post, ao afirmar que fetos de bebês abortados são usados na indústria de cosmético. Não há evidências disso.

“Urgente: Descubra a verdade por trás das motivações do aborto e a relação com empresas multimilionárias que utilizam fetos em produtos farmacêuticos”, ele escreveu em publicação —somando as visualizações no X e no Instagram, foram mais de 1 milhão. No vídeo que acompanha o post, Cavalcante diz que as campanhas contra a votação do projeto seriam uma cortina de fumaça de movimentos “abortistas e esquerdistas”. Segundo ele, “há uma indústria mundial, liderada por um senhor chamado George Soros, um milionário americano que patrocina mundo afora o aborto, o assassinato de bebês indefesos”. Como o projeto Comprova já mostrou, Soros é citado com frequência em teorias da conspiração.

Para embasar suas declarações, o deputado usa a captura de tela de um texto de Carlos Heitor Cony, publicado na Folha, sobre o livro “Babies for Burning”, de 1974. Na coluna, de 2008, Cony escreve que os autores, Michel Litchfield e Susan Kentish, “souberam, por meio de informações esparsas, que a indústria do aborto, como qualquer indústria moderna, tinha uma linha de subprodutos: a venda de fetos humanos para as fábricas de cosméticos”. O que Cavalcante omite, entretanto, é que o conteúdo do livro foi desmentido, ainda na década de 1970. Os autores pediram “desculpas por qualquer sofrimento e dano” causado ao Bpas (Serviço Britânico de Aconselhamento sobre Gravidez), como é possível ver no resumo do caso publicado pelo banco de dados britânico Wellcome Collection.

No post, o deputado também apresenta duas reportagens de 2015 sobre a suposta venda de órgãos de fetos abortados nos Estados Unidos pela ONG de saúde reprodutiva Planned Parenthood. Na época, vídeos da presidente do grupo supostamente dando detalhes sobre a venda de material fetal foram divulgados por associações antiaborto, mas, o que Cavalcante também omite, é que as gravações haviam sido editadas e as denúncias foram consideradas falsas.

Procurado pela Folha, o parlamentar disse manter sua “posição firme sobre a importância de discutir questões éticas e morais relacionadas à indústria de cosméticos e ao uso de materiais biológicos”. “Não me intimido com as críticas e reafirmo meu compromisso com a defesa da vida e da ética”, afirmou.

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