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Na guerra do centrão, Kassab leva atacadão de prefeituras, e Valdemar triunfa nas maiores

O emaranhado de estatísticas das eleições municipais deste domingo (6) pode ser resumido em um enunciado quando se trata da briga de cachorro grande no clube dos partidões: o PSD de Gilberto Kassab venceu no atacado, obtendo o maior número de prefeituras no país, e o PL de Valdemar Costa Neto triunfou, e muito, nas maiores.

O PSD levou a melhor nacionalmente, com 878 prefeituras, desbancando o reinado que o MDB exercia eleição após eleição nos grotões. O PL levou 510.

Mas foi o PL de Valdemar e de Jair Bolsonaro o grande vencedor do primeiro turno nas 103 maiores cidades, que são aquelas que podem ter segundo turno e que reúnem quase 40% do eleitorado do país.

Para muita gente pode parecer apenas uma firula estatística, mas está longe disso. É nesse filé mignon eleitoral, no qual o PL tinha até então apenas um papel de figuração, que os partidos investem seus principais esforços e recursos.

O partido de Bolsonaro elegeu 10 prefeitos nas grandes cidades e colocou outros 23 candidatos no segundo turno, disparado o melhor desempenho. O PSD ficou bem abaixo, com 6 eleitos no domingo e outros 10 indo para a segunda etapa.

Em 2020, quando Bolsonaro ainda não era do partido, a legenda elegeu apenas 2 prefeitos nas maiores cidades, nos dois turnos de votação.

“Estamos no segundo turno em dez capitais. Nunca tivemos isso”, disse Valdemar neste domingo, atribuindo todo o mérito a Bolsonaro: “É o Bolsonaro. Bolsonaro é um fenômeno”.

O PL é comandado por Valdemar desde a morte do fundador da legenda, Álvaro Valle, em 2000. Por duas décadas, a legenda sempre foi mediana, mas em 2021 ocorreu o grande salto.

Após fracassar na tentativa de criar seu próprio partido, o Aliança pelo Brasil, Bolsonaro acertou a filiação ao PL, levando consigo uma legião de apoiadores. Tanto é que só com o troca-troca partidário o PL subiu de 2 para 10 prefeitos nas grandes cidades.

Nas eleições de 2022, Bolsonaro não conseguiu se reeleger, perdendo para Lula, mas o partido emplacou a maior bancada de deputados federais em 24 anos, 99 das 513 cadeiras, em grande parte devido ao bolsonarismo.

O espetacular resultado levou a sigla a ter a maior fatia de recursos públicos na campanha de 2024, mais de R$ 1 bilhão. O dinheiro dos fundos eleitoral e partidário é distribuído aos partidos com base no desempenho na disputa para a Câmara dos Deputados.

Valdemar está ao lado de Bolsonaro na oposição ferrenha ao governo federal. Kassab tem três ministérios no governo Lula, embora seja secretário do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro de Bolsonaro.

Em evento realizado em julho para tentar impulsionar a candidatura de Antonio Brito (PSD-BA) à presidência da Câmara, Valdemar e Kassab chegaram a conversar ao pé do ouvido e, segundo relatos, o presidente do PL disse ao colega do PSD que iria lhe “meter o ferro”, em referência às eleições municipais.

Desde então, ficou cada vez mais clara a disputa entre os dois.

Em recente entrevista à Folha, Valdemar disse que o PL de São Paulo se ressente de ter cedido ao PSD a vice na chapa de Tarcísio em 2022. Kassab não teria retribuído à altura. E disse ainda que o presidente do PSD investe até mesmo sobre prefeitos de cidades com 4.000 eleitores na tentativa de exibir força política.

Bolsonaro também frequentemente critica Kassab. Em entrevista à Folha, após o resultado, Kassab buscou colocar panos quentes na rixa, como é de seu feitio em manifestações públicas que não necessariamente refletem as suas ações nos bastidores.

“Sempre avaliei essas manifestações como de cunho eleitoral. (…) O resultado eleitoral foi muito bom para o PSD. Nós não temos nenhuma vontade de acirrar nada. Acho que esses partidos erraram na estratégia, porque eles diziam que não aceitavam uma convivência, mas a eleição aceitou. Somando tudo, tivemos parceria com esses três partidos em 381 cidades”, disse Kassab, referindo-se, além do PL, a PP e Republicanos.

O país tem hoje uma salada partidária, mas apenas sete podem ser considerados grandes. Esse G7 é formado pelo PT de Lula, pelo oposicionista PL e por mais cinco legendas inclinadas à centro-direita ou à direita: União Brasil, PSD, PP, MDB e Republicanos.

O chamado centrão é formado essencialmente pelo PP e Republicanos, mas tem também integrantes espalhados pelo PL —principalmente a ala que não é bolsonarista raiz—, União Brasil, PSD e MDB.

Kassab tem razão quando diz que o resultado eleitoral do primeiro turno foi muito bom para o PSD, mas é preciso saber como ele irá lidar com esse latifúndio.

O MDB reinou por décadas nessa seara, em uma pulverização de lideranças regionais sem identificação ideológica entre si, e isso nunca significou protagonismo a ponto de o partido conquistar a Presidência da República, por exemplo. Se com Kassab será diferente, a história dirá.

É um erro, porém, tentar passar a imagem de que o dirigente do PSD e o seu partido são os grandes vitoriosos desse primeiro turno.

Descontada a batatada de Valdemar de que iria eleger 1.000 prefeitos, a eleição foi extraordinária para o PL —os números das grandes cidades são inequívocos em relação a isso.

Muito boa também para quase todo o G7. Na verdade, o único integrante do grupão que ficou de fora da festa foi o PT de Lula.

Nacionalmente o partido se recuperou um pouco dos desastres de 2016 e 2020, conseguindo sair de menos de 200 para 248 prefeitos eleitos.

Nas grandes cidades, porém, os petistas tiveram apenas a reeleição em Minas Gerais das prefeitas de Contagem, Marília Campos, e de Juiz de Fora, Margarida Salomão. Apesar disso o partido tem uma chance de pelo menos amenizar o estrago: está em 13 segundos turnos, o melhor desempenho nesse quesito, só atrás do PL.

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