Turismo

Museu da Nintendo atiça o saudosismo e esconde raridades

Conhecida como a cidade dos templos do Japão, Kyoto ganhou uma nova área de adoração. Com abertura no dia 2 de outubro, o Museu da Nintendo promete se tornar a meca dos fãs de videogames.

A convite da Nintendo, a Folha pôde conhecer o museu repleto de produtos lançados pela empresa ao longo dos seus 135 anos de história.

Para chegar, não é preciso realizar uma grande peregrinação. Montado no mesmo lugar em que a empresa produzia baralhos de hanafuda (jogo japonês com cartas sem números e motivos naturais), o complexo fica a cerca de 25 minutos de trem da estação central de Kyoto.

Após desembarcar na estação Ogura, uma curta caminhada leva até a área do museu. O espaço pode ser dividido em três setores, cada um dedicado a um tipo de experiência.

No prédio principal, logo à esquerda da entrada, o visitante é recepcionado por um quinteto de Toads cantores e direcionado para o andar superior, onde a visita começa de fato. Lá estão expostos em grandes vitrines produtos publicados pela Nintendo.

Além de centenas de cartuchos de jogos e dezenas de diferentes consoles de videogame, o acervo conta com uma porção generosa de jogos e brinquedos —que foram o principal foco da empresa até meados dos anos 1980—, incluindo algumas raridades.

Uma delas é um tabuleiro de gamão publicado pela Nintendo em 1943, durante a Segunda Guerra Mundial. O item faz propaganda do exército do imperador Hirohito, com cenas em que animais antropomórficos vestidos de soldados seguram rifles e bandeiras japonesas. Há inclusive uma imagem em que bandeiras dos EUA e do Reino Unido podem ser vistas jogadas no chão.

Ainda que tenha um significado histórico, o artigo ocupa casualmente o canto de uma das vitrines e pode passar facilmente despercebido.

O mesmo acontece com curiosos protótipos como o Ultra 64 (que viria a se tornar o Nintendo 64), o do Wii Remote (controle do Wii) e os da Wii Balance Board, evoluindo até se tornar o produto final. Eles dão um vislumbre do processo de criação da empresa, mas parecem esquecidos em um canto escuro do salão de exibições.

Em entrevista coletiva, o veterano executivo da empresa Shigeru Miyamoto —mais conhecido por ser o criador de franquias como “Super Mario“, “The Legend of Zelda” e “Pikmin“— afirmou que a ideia é que o acervo do museu conte apenas com produtos que a empresa lança.

Ainda assim, ele reconhece que, colocando-se no lugar dos consumidores, gostaria de ter uma visão dos bastidores da empresa e de como as coisas são feitas por lá. Daí a ideia de expor alguns protótipos.

“Queríamos criar um lugar onde as pessoas pudessem entender o que é a Nintendo. Acredito que conseguimos um espaço que três gerações da mesma família podem visitar e cada pessoa terá seu próprio canto para revisitar memórias queridas”, afirmou Miyamoto, em declaração traduzida por um funcionário contratado pela Nintendo.

Com essa abordagem baseada no saudosismo, há pouquíssimos textos explicativos ou com informações sobre os itens expostos. Também não são mostrados números que indiquem o sucesso ou fracasso comercial dos produtos —ainda que a mirrada vitrine do Wii U, um dos últimos grandes fracassos da Nintendo, fale por si só.

Da mesma forma, pouco é dito sobre os funcionários que fizeram parte da história da empresa. A menção mais visível a um executivo da Nintendo é o discreto autógrafo do próprio Miyamoto, exposto na entrada do prédio principal.

A tática dá resultado para quem cresceu jogando os títulos da Nintendo ou já é fã da marca. É impossível não se lembrar com carinho de alguns dos jogos expostos. Ainda assim, para quem não conhece tão bem a empresa e seus personagens, o passeio será de pouco interesse. Mas há mais por vir.

Descendo as escadas, no andar térreo, há uma exposição interativa com oito diferentes experiências ligadas a produtos da Nintendo.

A que chama mais a atenção, bem no meio do espaço, é a Shigureden. Nela, os frequentadores usam smartphones para encontrar entre as cartas com poemas japoneses exibidas em telas no chão aquele que está sendo recitado no sistema de som.

Outra que se destaca é um minigame de tiro com personagens de “Mario” em que o jogador pode experimentar o Super Scope (lançado para o Super Nintendo) e o Zapper (do NES).

A experiência mais eclética e que promete cativar tanto fãs de videogames quanto quem nunca segurou um controle na vida é a baseada no Super Machine.

O brinquedo, um lançador de bolas para praticar beisebol dentro de casa, é montado em uma série de cenários que imitam os cômodos de uma casa. Se acertar objetos específicos, o jogador desencadeia reações e ganha novos lançamentos.

Cada uma dessas experiências custa um número específico de moedas, que ficam armazenadas digitalmente no cartão de acesso ao museu.

Cada entrada —que custa de 3.300 a 1.100 ienes (R$ 126 a R$ 42), dependendo da idade do visitante— dá direito a dez moedas, o que não é suficiente para testar todas as experiências. A Nintendo afirma que não venderá moedas extras e que a limitação é uma tentativa de evitar grandes filas.

Todas as experiências contam com instruções em inglês (além de japonês), o que facilita a vida dos turistas estrangeiros e dos funcionários do museu.

A última área, no piso superior do prédio menor, é uma oficina dedicada ao hanafuda, cujas cartas foram o primeiro produto fabricado pela Nintendo. Os visitantes podem fabricar suas próprias cartas pintadas à mão e aprender a jogar em uma área com tabuleiros interativos, que explicam as regras básicas.

Essas experiências, porém, são cobradas à parte e é necessário fazer reserva com antecedência.

O complexo conta ainda com uma loja com produtos exclusivos na saída do prédio principal e um restaurante de hambúrgueres personalizáveis logo abaixo das oficinas de hanafuda.

Ao visitar o complexo, impressiona a atenção aos detalhes. Do chão da praça central ao telhado do prédio principal, há por todos os lados sinais (ou “easter eggs”) de personagens e jogos da Nintendo. Uma característica que os fãs da empresa japonesa já conhecem dos seus jogos, mas que agora ficará eternizada no museu.

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