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'Longlegs' ignora sustos fáceis e prova que tensão perturbadora é a alma de um grande terror; g1 já viu

Alguns bons filmes de terror apostam em sustos fáceis para conquistar o público. Os verdadeiramente memoráveis, no entanto, sabem do valor de uma tensão constante e perturbadora, que tira o fôlego do espectador – “Longlegs: Vínculo mortal” é um deles.

Depois de conquistar o público americano, o mistério sobre um assassino serial estreia nesta quarta-feira (28) nos cinemas brasileiros como um dos melhores filmes de terror dos últimos anos.

Ajudado pelas grandes atuações de Maika Monroe (“Corrente do mal”) e Nicolas Cage, o diretor e roteirista Osgood Perkins (“O último capítulo”) cria um clima opressor desde a primeira cena. Daqueles que a pessoa volta para casa com dor nos ombros de tanta angústia.

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Seu maior ponto fraco é inegavelmente o final, que com certeza divide o público entre o amor e a frustração. Não que importe muito. A essa altura, é impossível negar o peso de “Longlegs” – mesmo que o retrogosto não seja dos favoritos.

No filme, Monroe interpreta uma agente do FBI com leves dons sensitivos e pouquíssima destreza social, que se envolve na investigação para identificar um antigo assassino serial conhecido apenas como Longlegs (“pernas longas”, em português. Sem ligação com o coelho animado).

Seu envolvimento reaquece a perseguição ao criminoso, que há décadas frustra a agência por suas táticas incomuns e cartas codificadas deixadas nos locais.

Depois de ser revelada em outro terror que se destacou pela tensão e por boas ideias, a atriz recebe uma segunda chance ao completar o ciclo e entregar uma atuação mais inspirada e muito mais complexa.

O roteiro – e a natureza da personagem – ajudam, claro, mas a protagonista funciona graças à combinação de sua interpretação precisa e estranha de seus traços estranhamente indefinidos.

Do outro lado, o ganhador do Oscar por “Despedida em Las Vegas” (1996) engata mais um grande trabalho dentro de uma série de escolhas questionáveis ao abraçar sua estranheza e elevá-la à enésima potência.

Cage aparece pouco e debaixo de maquiagem e próteses que o desfiguram – mas cria um personagem tão perturbador que sua própria ausência em cada cena provoca ainda mais desconforto.

De fato, em alguns momentos a sensação é de que sua presença representa uma ameaça menor. Vê-lo significa que ele ou alguma outra entidade não se esconde à espreita nas sombras.

A hora do fim

Tamanha agonia é mérito da mão de Perkins. No roteiro e na direção, o ator de pequenos papéis se mostra um grande cineasta de gênero, daqueles que não têm medo do exagero ou de riscos.

Suas escolhas nem sempre acertam o alvo, mas é revigorante assistir ao trabalho de alguém que abraça o ridículo – do glam rock adorado pelo antagonista ao satanismo sem explicações no centro da trama.

Até a previsibilidade do final funciona a favor da história. Cantada desde a primeira metade, a última sequência grita para o espectador que o importante nunca foi o mistério, mas como ele te fez sentir.

No fim, é difícil pedir mais do que isso de um bom filme de terror. A conclusão da história pode não agradar todo mundo, que preferia outro tom ou decisão, nunca chega a atrapalhar.

“Longlegs” é daqueles filmes que acompanham o público por algumas horas – às vezes, até dias. E isso é sinal de um terror dos melhores.