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'Isso não é democracia, é baderna', diz Datena após confusão com ala pró-Nunes do PSDB

“Isso não é democracia, é baderna”, disse o apresentador José Luiz Datena ao chegar à convenção municipal da federação PSDB-Cidadania que confirmou seu nome na disputa pela Prefeitura de São Paulo, na manhã deste sábado (27), na Assembleia Legislativa.

Datena se referia a confusão e protestos da ala de tucanos contrários a sua candidatura. O grupo, liderado pelo ex-presidente municipal do PSDB Fernando Alfredo, defende que o partido apoie a reeleição do prefeito Ricardo Nunes (MDB).

O apresentador fez críticas a Nunes, que também estava na Assembleia ao mesmo tempo, na convenção do Podemos, e exaltou o PSDB.

Durante a convenção tucana, Datena anunciou o ex-senador e presidente municipal do PSDB, José Aníbal, como vice na sua chapa.

A convenção ocorreu sob ameaça de invasão do grupo opositor, que foi barrado do lado de fora e fez barulho com apitos, gritos e um carro de som. No fim do evento, Datena declarou que iria “sair pela porta da frente”.

O apresentador foi, então, à grade da Assembleia, onde bateu boca com os manifestantes da ala pró-Nunes —a PM se recusou a abrir o portão para evitar o confronto.

Datena levou respingos de água no rosto e foi chamado de “arregão” e “golpista”. Depois disso, entrou em seu carro e saiu pelo portão escoltado por policiais. Pela janela do carro, Datena ainda seguiu a briga com alguns militantes tucanos que cercaram o veículo até o semáforo abrir.

Segundo Fernando Alfredo, que machucou sua mão ao tentar abrir a porta do auditório da convenção e fez boletim de ocorrência, pelo menos 15 tucanos ficaram feridos. Ele vai acionar a Justiça para anular a convenção —sua ação para suspender o ato foi indeferida na sexta (26).

Nesta semana, Fernando Alfredo chegou a apresentar sua própria pré-candidatura ao partido, com o objetivo de realizar prévias contra Datena, o que foi rejeitado pela sigla.

Em reação à oposição interna e ao vaivém de Datena, a cúpula nacional do PSDB decidiu, na sexta-feira, homologar o apresentador de antemão —a convenção municipal apenas confirmou a medida.

Antes de o evento começar, houve confusão após os tucanos contrários a Datena terem a entrada barrada na Assembleia. Parte do grupo invadiu o prédio, mas foi feita uma nova barreira na parte interna. A Polícia Militar foi chamada para reforçar o bloqueio.

No corredor, ocorreu empurra-empurra entre seguranças contratados pelo PSDB e os militantes tucanos. Alguns conseguiram furar também o bloqueio interno e chegaram à porta do auditório da convenção. Do lado de dentro, houve tensão com o medo da invasão, que acabou contida pelos agentes e pela PM.

Os partidários de Fernando Alfredo foram ao evento uniformizados, com blusas pretas que diziam “respeitem a nossa história” e “militância tucana”. Por isso, foram comparados por Aníbal e Datena aos camisas negras do fascismo italiano.

“Esse prefeito com os pés de barro, provavelmente, eu não posso dizer que sim, mas isso será investigado, financiou esses camisas pretas que lembram a época do nazifascismo”, acusou Datena.

Datena chegou ao auditório ovacionado, após a segurança nas portas ter sido reforçada. Ele entrou acompanhado de Aníbal e do presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo.

“Isso aqui não é democracia, isso é um bando de vendidos a este prefeito de São Paulo que está borrando as calças”, disse. “É gente vendida por 15, por 30 moedas de prata a este prefeito. Nós não temos medo de combater esta gente”, declarou.

Em diversos momentos do seu discurso, o apresentador insinuou, ressaltando que ainda cabe investigação, haver ligação entre os tucanos opositores e Nunes e também ao crime organizado.

“Isso é misturado a bandidos que estão querendo manter o crime organizado no poder. […] Nem sei se tem gente do PCC misturada aqui, fazendo baderna.”

“Nós queremos o povo no poder e não bandidos no poder. Quem financiou essa gente toda que está aí fora?”, questionou. Segundo ele, as pessoas foram financiadas “por canalhas que são contra a democracia”.

Datena pediu que o financiamento do ato da militância tucana fosse investigado pelas autoridades “para que essas eleições não sejam sangrentas”.

Em sua fala, misturou pedidos de paz e união com instigações. “Os extremos só levam à violência. Nós não somos extremistas”, disse. Em seguida, batendo na mesa, emendou: “Mas aqui não tem covarde”.

Embora tenha criticado a polarização, como costuma fazer, dizendo que Nunes é uma marionete de Jair Bolsonaro (PL) e que Guilherme Boulos (PSOL) é uma marionete de Lula (PT), Datena mirou mais no prefeito e disse que ele não tem a legitimidade de Bruno Covas (PSDB).

Ele disse que irá sanear o poder público “dessa gente que é ladra” e que vai passar as licitações a limpo. “Vamos colocar quem roubou essa cidade na cadeia. Essas pessoas, se perderem a eleição, vão perder a mamata deles”.

Datena ainda elogiou o pré-candidato a vice de Nunes, coronel Ricardo Mello Araújo. “A sorte dele [Nunes] é que ele não vai ser eleito, porque seria o primeiro caso em que o vice iria prender o prefeito.”

“Parece que eu nasci para este dia. Parece que meus 67 anos de vida me prepararam para este dia”, disse o apresentador, afirmando que o PSDB não está “fragmentado e acabado”.

“Eu não chego aos pés, eu não sirvo para engraxar o sapato do Mario [Covas], do Bruno [Covas], do Fernando Henrique [Cardoso], mas a minha intenção é honrar os nomes deles”, disse.

Antes de sair para discutir com os tucanos “sob pena de acontecer o que acontecer”, nas palavras dele, Datena fez um discurso de mártir.

“Se me baterem, se me machucarem, vão aviltar a democracia. E se me matarem, há de sobrar gente para governar São Paulo. Eu não tenho medo de covardes. […] Que me batam, que me arrebentem, que me cortem, que me matem. Mas não vão matar o que é o partido. Quem protege a mim e a vocês é o povo e Deus.”

Questionado pela Folha sobre as falas de Datena que o relacionavam aos tucanos rebeldes e ao crime organizado, Nunes disse que “a disputa eleitoral não é um programa de televisão”. “Ele está no caminho errado de querer entrar só fazendo críticas infundadas às pessoas.”

Fernando Alfredo respondeu que trata-se de uma falácia de Datena. “Ele quer falar que eu sou do PCC, olha a minha história”, disse, defendendo que o PSDB tenha um candidato que represente o legado tucano.

“Fui agredido aqui, olha a minha mão, tomei porrada, tomei soco. […] Nunca aconteceu isso em convenção do PSDB.”

Perillo chamou os tucanos pró-Nunes de “desesperados pagos com o erário” e disse que, após a homologação nacional, acabaram as dúvidas sobre Datena ser ou não ser candidato. Afirmou ainda “ter convicção” de que o apresentador vai dar sequência ao legado dos tucanos históricos.

“Datena, esse não é um partido qualquer, você sabe disso. É uma grife”, acrescentou.

Em seu discurso, Aníbal, que chamou Nunes de bolsonarista, afirmou que medidas legais seriam tomadas. “Isso não é um ato político, é delinquência”, disse.

O ex-vereador Mario Covas Neto, o Zuzinha, afirmou que o PSDB não acabou. “Como que um partido que acabou gera essa disputa?”, questionou.

É a primeira vez que a pré-candidatura de Datena chega à etapa da convenção. Até agora, seu contrato e remuneração na Band pesaram nas quatro desistências anteriores.

Nas últimas semanas, Datena declarou em entrevistas, inclusive à Folha, que poderia desistir novamente se houvesse, em suas palavras, “sacanagem” e “tiros nas costas” vindos do PSDB. Apesar da mobilização tucana contra ele, o apresentador decidiu ir à convenção.

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