Turismo

Indico os 'lugares secretos' de que gosto ou os guardo só para mim?

Sentado na frente da mesa do concierge, em um dos hotéis mais incríveis de Amsterdã, eu ouvia pacientemente o homem a minha frente desfilar, sem muita emoção, as recomendações de restaurantes premiados na cidade naquela véspera de Natal. Até que seu tom de voz mudou.


Do barítono monótono ele passou ao sussurro quando me sugeriu, quase ao pé da minha orelha: “Mas o senhor quer saber onde eu iria se não estivesse trabalhando hoje?”. Imediatamente me interessei.

O concierge é essa figura icônica, sempre à disposição ali ao lado da recepção de um hotel. Como aprendi rapidamente, o que ele (ou ela) faz vai bem além de postar seus cartões-postais. E então fui aprendendo a contar com suas recomendações sempre valiosas, não sem uma certa desconfiança.

Como naquela noite em Amsterdã, por vezes os conselhos podem soar um pouco automáticos, quando não manipulados. É fácil imaginar, por exemplo, restaurantes que, discretamente, acertam uma comissão com esse profissional em troca de recomendações.

Mesmo os mais sinceros concierges passam talvez por um dilema que eu mesmo, como alguém que as pessoas sempre procuram para pedir dicas de viagens, enfrento: indico os “lugares secretos” que gosto de frequentar ou guardo eles só para mim?

Egoísta? Sim! Mas quem não tem medo de que, uma vez revelado esse segredo, todo mundo vai começar a ir lá e ele não vai ser mais um… segredo! Mas não precisa ser sempre assim.

Busquei na minha própria história algumas dicas bastante íntimas que compartilhei com amigos. E nem por isso se tornaram grandes atrações turísticas. Como o carrossel na praça Lino Ventura, em Paris.


A capital francesa não é fraca de atrações, sobretudo no bairro de Pigalle. Mas eis que eu estava andando por ali e, procurando o KB Coffee Roasters, deparei com essa diversão tão antiga e charmosa.

Não era um carrossel tão imponente como o que às vezes fica instalado no Hôtel de Ville. Mas que graça que era aquele brinquedo ali. E que magia ele espalhava.

Imediatamente já anotei como um dos meus lugares favoritos na cidade. E ele foi para a mesma lista em que estão outros endereços pouco famosos, mas que falam muito comigo.


Como a loja de discos Bungkum House (@bungkumhouserecords), em Sukhumvit (Bancoc), onde esbarrei quando fui cortar o cabelo (outra dica) na barbearia mais cool que já fui na minha vida, a Black Amber (@blackamber_official). Descontando o terraço, a Bungkum não deve ter mais que 12 m². Mas seu acervo musical é infinito.

Também minúscula é a livraria especializada em quadrinhos e artes gráficas em Santiago do Chile, La Tienda Nacional (@latiendanacional), bairro de Belas Artes. E numa loja um pouquinho mais espaçosa, em Fortaleza, encontrei na Mariá (@euvoudemaria) as bolsas e mochilas mais charmosas do Nordeste, com estampas de artistas incríveis como Azuhli e Acidum Project.

O melhor açaí (branco!) que tomei na região de Belém não foi em Combú, mas na ilha das Onças, na Casa de Celso (@acasadocelso). E se o assunto é comida, então, oh dúvida cruel: será que conto o lugar que eu acho que só eu vou, só para ver as mesas lotadas quando eu voltar?


Falo que a melhor pele de frango frita é no Doppelgänger Bar (@doppelganger.samy), em Madri? E que o Restó (@resto.sca), escondido na Sociedad Central de Arquitectos, em Buenos Aires, é a melhor cozinha da capital portenha? Bom… está dito!


Afinal, aprendi com o concierge do Conservatorium, o tal hotel estupendo onde eu estava em Amsterdã, que não há nada como dividir um segredinho com alguém que você sabe que vai apreciá-lo.

Ah! O nome do restaurante que ele me recomendou em voz baixa? Poxa, que pena que ficamos sem espaço para eu te contar…


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