Turismo

Ilha de Páscoa, no Chile, reúne tradição, pôr do sol tardio e estátuas gigantes

Se a princesa Moana, da Disney, fosse real e vivesse na Ilha de Páscoa, passaria a maior parte do tempo escondida em uma caverna para ser purificada enquanto seus pretendentes encarariam uma disputa por ela —que teria zero protagonismo.

Esse é um resumo de “Rapa Nui – Uma Aventura no Paraíso”, filme de 1994 que mostra como se organizava a sociedade patriarcal da ilha, antes da chegada dos europeus.

O território foi descoberto por volta dos anos 800 pelos polinésios, que se dividiam em pequenos grupos para desbravar o oceano em canoas e saltavam de ilha em ilha.

Esse povo viveu isolado em Rapa Nui —como batizaram a ilha— por cerca de mil anos até a chegada dos europeus, em um domingo de Páscoa de 1722. Daí o novo nome.

O período de isolamento se deu, sobretudo, pela localização. A Ilha de Páscoa é uma das regiões habitadas mais remotas do mundo. Fica a 3.500 km da costa do Chile, país ao qual pertence. Apesar disso, a ilha faz parte da Oceania.

Para chegar lá, partindo de São Paulo, é necessário fazer uma viagem com escala. A primeira parte, até Santiago, dura quatro horas. A segunda, da capital chilena até o vilarejo Hangaroa, dura cinco horas. O trajeto é feito uma vez por dia apenas pela Latam. O voo de ida parte às 9h35 e o de volta, às 15h.

A chegada é um tanto caótica. O aeroporto é pequeno. É impressionante a quantidade de bagagens, com caixas e coolers repletos de insumos do continente, que os nativos trazem. Um dos problemas da ilha é o abastecimento, por causa da distância.

A recepção, no entanto, é calorosa. Os turistas recebem um sorridente “iorana” (o “olá” do idioma rapanui) acompanhado de um colar de flores para as boas-vindas.

A população de cerca de 8.000 habitantes, além de seu idioma nativo, fala espanhol, inglês e uma parcela até o francês, mas não entende uma palavra em português. Ali, os brasileiros são raros. Um dos motivos é o custo elevado da viagem. A passagem mais barata custa cerca de R$ 4.500.

Os descendentes dos polinésios desbravadores são orgulhosos de seu passado heroico. Os rapanui são um povo místico ligado ao mar, às estrelas, aos vulcões e aos moai.

A grande atração, as estátuas humanoides construídas a partir de grandes blocos de pedra, remontam à tradição patriarcal daquela civilização. Os moai são homenagens a figuras masculinas ancestrais. Existem cerca de mil espalhados pela ilha, esculpidos em uma pedreira no vulcão Rano Raraku. Historiadores acreditam que tenham sido construídos entre 1400 a 1650.

Grande parte dos destinos turísticos estão relacionados aos moai e, para conhecer todos os parques, é necessário pagar US$ 80 (cerca de R$ 400) para até dez dias. Em cada um dos parques, o turista terá que apresentar o mesmo ingresso acompanhado do passaporte.

Entre as atrações, está um dos pontos de chegada dos navegadores polinésios. A praia de Anakena, de areia rosada e mar turquesa, abriga oito estátuas e conta uma parte importante da história da primeira civilização de Rapa Nui.

O vulcão Rano Raraku é um dos lugares mais emblemáticos da ilha. No local, existem 397 moai em diferentes estágios de construção. Durante o passeio, além de desvendar o mistério de como eles foram esculpidos, é possível conhecer as diferentes teorias de transporte dessas enormes rochas ao redor da ilha.

No filme “Rapa Nui” é possível ver uma dessas teorias. Após a retirada do moai da pedra madre – material do qual são feitos -, os homens se encarregavam de cortar árvores para fazer cordas alavancas. O transporte demandava uma grande quantidade de trabalhadores e força descomunal.

Ao leste de Rapa Nui, na plataforma Tongariki, é possível vivenciar um nascer do Sol imperdível. O local abriga 15 moai e atrai todos os dias turistas dispostos a se aglomerar para esperar o amanhecer por trás das estátuas gigantescas.

Brasília está duas horas à frente da Ilha de Páscoa. A sensação de atraso fica ainda maior porque o amanhecer é tardio, por volta das 7h40, e o pôr-do-sol acontece às 20h30.

A noite rapanui também guarda encantos. É possível fazer uma observação de estrelas e entender sua importância para que os ancestrais pudessem chegar navegando a esta ilha remota. É uma experiência única sob um dos céus mais claros do mundo.

É à noite também que acontecem os shows tradicionais. Um dos mais famosos é o do grupo Kari Kari. A apresentação com o auxílio de instrumentos rústicos retrata lendas do povo rapanui. Mais uma vez os homens são os protagonistas. Em diversos momentos, turistas são convidados para subir ao palco e dançar.

Na maior parte dos restaurantes, é possível encontrar pratos com peixes e frutos do mar, sobretudo, opções cruas. Os preços são um pouco salgados, com valores a partir de R$ 100. No menu do restaurante Kanahau, uma das possibilidades é a trilogia sur la mer, com três tipos de ceviches.

Já nos três restaurantes do hotel cinco estrelas da ilha, o Nayara Hangaroa, as especialidades são o ra rape, um tipo menor de lagosta, o ceviche de atum cozido na pedra, saladas e outros pratos que incorporam batata-doce local, banana-da-terra e manga.

A Ilha de Páscoa impressiona pelos atributos naturais, pelas tradições preservadas, mas, em especial, pela sensação de isolamento. A impressão de estar em um lugar remoto é presente o tempo todo, seja pela escassez de internet, seja pelos carros sem manutenção nas ruas, pelos animais livres ou pela forma como o tempo passa arrastado.

A jornalista viajou a convite do hotel Nayara Hangaroa.

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