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Fumaça no céu, soluções no chão: mercado de carbono precisa voltar à pauta

O cenário é sombrio: desde agosto, São Paulo ardeu em chamas diárias, com o céu escurecido não por nuvens, mas fuligem. Uma frente fria trouxe breve alívio, mas a realidade é inescapável. Não podemos continuar a contar com a sorte e puxadinhos fora do orçamento para apagar os incêndios.

O governo deveria retomar a agenda da regulamentação do mercado de carbono. Muitas vezes criticado como um paliativo, esse mecanismo oferece uma estrutura que precifica as emissões e incentiva práticas sustentáveis. Projetos como os da Mombak e re.green, que reconstroem florestas em áreas degradadas do Brasil, exemplificam o potencial transformador do mercado voluntário de carbono, como aponta recente matéria da Economist.

Recuperar terras antes usadas para pecuária de baixa produtividade não só absorve CO2, mas também reconfigura a economia local, oferecendo um caminho viável para substituir atividades danosas por modelos de negócio sustentáveis.

A necessidade global por soluções de remoção de carbono é inegável: apenas 2 bilhões de toneladas de CO2 são removidas anualmente, quando o necessário é de 5 a 10 bilhões até 2050 para evitar cenários catastróficos. Isso coloca o mercado de carbono numa posição de destaque, como engrenagem vital que pode impulsionar a transição para uma economia de baixo carbono.

O Brasil, com sua vasta extensão de terras degradadas e um clima que acelera o crescimento das árvores, detém uma vantagem competitiva única. A capacidade de restaurar florestas e gerar créditos de carbono é imensa, e poderia fazer do país um protagonista na agenda climática global.

No entanto, o caminho não é simples: questões fundiárias, falta de transparência e barreiras regulatórias continuam a desafiar a expansão do mercado. A implementação do Sistema Brasileiro de Comércio de Emissões (SBCE) é um passo crucial para dar credibilidade a essa estrutura e atrair investimentos robustos.

Os críticos dirão que o mercado de carbono é insuficiente, que precisamos de mais. E eles estão certos. Mas essa crítica não deve ser um motivo para descartar a ferramenta; deve servir de impulso para aprimorá-la. Não se trata apenas de vender créditos, mas de criar um ambiente onde a inovação verde é recompensada, onde empresas que operam de forma mais limpa têm uma vantagem competitiva real.

O mercado de carbono não é apenas uma resposta às emissões; é uma declaração de que continuaremos buscando caminhos para a sustentabilidade mesmo em meio às dificuldades. Em um mundo onde 250 mil vidas podem ser perdidas anualmente devido aos impactos climáticos, como previsto pela Organização Mundial da Saúde, a precificação de carbono representa mais do que uma política econômica; é uma defesa direta da nossa sobrevivência coletiva.

Essa aposta reflete uma escolha: a de não nos resignarmos ao cenário apocalíptico das queimadas incontroláveis, mas de investir em um futuro onde o impacto de cada ação humana é contabilizado e redirecionado para algo maior. Ainda em discussão, é uma solução que precisa de ajustes e vigilância constante, mas carrega a promessa de transformar tragédias diárias em oportunidades para um amanhã mais equilibrado. Se quisermos salvar não apenas o céu de São Paulo, mas também o planeta.


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