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Escritor, ex-morador de rua, é socado ao doar cobertores a mendigos do Centro

São quatro facções que atuam entre as pessoas que estão na rua e se tornou um perigo para quem doa, para o assistente social e para os demais que estão ali, em situação de rua com família“. Foi assim que o escritor e ex-morador de rua Leo Motta descreveu a última vez que tentou ofertar agasalho a mendigos que estavam na Avenida Presidente Antônio Carlos, no Castelo. Ele, que já viveu nas calçadas e se sentia acolhido quando traziam cobertores e outros artigos quando dormia ao alento, hoje já não recomenda que seja feita a doação no cara a cara. Para ele, a mendicância mudou e hoje está ligada intimamente à criminalidade.

Era já um hábito para Leo ajudar quem encontrava pelo caminho da Praça XV até o trabalho, na Prefeitura do Rio, onde atua na Assistência Social. Aos 38 anos e autor de dois livros premiados, além de ter uma rede com mais de 20 mil seguidores, Leo se surpreendeu com a agressividade de mendigos, um deles chegou a agredi-lo atingindo-o em cheio com um soco na cara. “Criei um grupo para distribuir lanches e agasalhos. Devido meu histórico, muita gente queria colaborar. Mas, fomos recebidos por palavras hostis na segunda, uma voluntária foi ameaçada de ser esquartejada. No dia seguinte, havia dois que me reconheceu do dia anterior e um deles deu um soco no meu rosto. Está preso por já ter passagens anteriores. Fora isso, eles apedrejaram um van da Assistência Social enquanto um deles gritava que ‘comida não iria os tirá-los das ruas’. Muitos deles devem ter vindo de comunidade e querem repercutir o mesmo comportamento que tinham lá nas ruas. As outras pessoas em situação de rua estão com medo de grupos assim, tentam evitar. E é um perigo“, relata.

Escritor e ex-morador de rua, Leo Motta foi agredido após tentar distribuir agasalho, em plena luz do dia, nas ruas do Centro do Rio. Foto: Arquivo Pessoal – Leo Motta

Agora, Leo orienta que o amor ao próximo seja feito via ONGs ou com entregas aos abrigos da Prefeitura e centros de acolhimento. “A violência nos impede de ajudar o próximo de forma direta, mas há opções eficientes e que não expõem quem quer doar ao que eu passei“, recomenda.

Em menos de um mês, outro caso que chamou atenção foi quando um locutor de um hortifruti deu oportunidade de um mendigo exercer a função por um minuto. O vídeo da atuação do até então morador de rua repercutiu nas redes e o funcionário original do estabelecimento chegou a abrir uma “vaquinha” para ajudar o novato. Só que o que era para ser um viral acabou por revelar um vigarista. O mendigo ameaçou o locutor de processo e ainda descobriram suas duas passagens na polícia, uma delas por estelionato. “Ele só quis ajudar o próximo e acabou prejudicado“, contou um amigo do locutor.

Constantes levantamentos da Superintendência da Zona Sul, órgão do governo do Estado, vêm demonstrando que quase a totalidade das populações de mendigos abordada tem passagens pela polícia. Uma mera análise dos dados das últimas incursões – sempre noticiadas no DIÁRIO DO RIO – da conta de que quase o mesmo número de mendigos abordados é o de apreensões de armas brancas que ficam em poder dos que dormem nas ruas. Todo cuidado é pouco.


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