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Eleição em São Paulo expande nanicos com críticas a Boulos e Nunes

Enquanto os principais partidos se organizaram em alianças em torno de dois pré-candidatos à Prefeitura de São Paulo, num movimento que antecipa a disputa do segundo turno, a eleição de 2024 projeta uma expansão do protagonismo de legendas nanicas, que não têm representação no Congresso Nacional.

Além da tendência de aumento na quantidade desses candidatos, esse fenômeno ganhou corpo nos últimos dias diante da visibilidade conquistada por Pablo Marçal (PRTB) e das críticas direcionadas por esses pré-candidatos aos dois líderes das pesquisas, Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB).

Em 2020, 10 candidatos eram de partidos com ao menos um deputado federal eleito, enquanto 3 eram de legendas sem representantes na Câmara. Em 2024, até agora, há 6 pré-candidatos de partidos com presença no Congresso e 5 de siglas sem representação.

Na última eleição municipal, Vera Lúcia (PSTU), Antônio Carlos (PCO) e Levy Fidelix (PRTB) foram os candidatos de partidos nanicos à Prefeitura de São Paulo. Agora, além de Marçal, que chegou a 7% no principal cenário do Datafolha divulgado no último dia 29, foram lançados Altino Junior (PSTU), Fernando Fantauzzi (DC), João Pimenta (PCO) e Ricardo Senese (UP) —que marcaram 1% na pesquisa.

Sem direito ao fundo partidário, à propaganda de rádio e TV e à participação em debates por não terem cumprido a cláusula de barreira ou outras exigências da lei eleitoral, esses pré-candidatos afirmam ter propostas e linhas diferentes dos pré-candidatos mais bem posicionados.

O partido Novo, que lançou Marina Helena, tem três deputados e um senador, o que tampouco é suficiente para garantir o acesso ao fundo, à propaganda e aos debates. No Datafolha, ela marcou 4%.

Atuando na esquerda, os pré-candidatos do PSTU, PCO e UP rejeitam um alinhamento automático com Boulos, que marcou 24% no Datafolha e tem o apoio de outras seis legendas –PT, PC do B, PV, Rede, PDT e PMB.

Da mesma forma, na direita, Marçal e Fantauzzi dizem não representar o projeto de Ricardo Nunes, que lidera empatado com Boulos, com 23%, e angariou uma aliança com mais 10 siglas (Republicanos, PL, PP, Solidariedade, Avante, PSD, Podemos, Agir, PRD e Mobiliza). A União Brasil, que lançou Kim Kataguiri (4%), também deve apoiar o prefeito.

Com mais de 10 milhões de seguidores no Instagram, Marçal, conhecido por sua atuação como coach e influencer, tem tentado robustecer sua pré-campanha e buscou, recentemente, partidos como União Brasil e PL, além do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que o recebeu, mas disse seguir apoiando Nunes.

As conversas com os tucanos e com a União Brasil tampouco evoluíram para uma possível aliança.

À Folha Marçal afirma que resolveu concorrer porque os paulistanos não estavam satisfeitos com as opções já colocadas na disputa. “Fico muito feliz com os resultados porque quase ninguém me conhece ainda, mas conhecerão em breve”, disse.

Ele, que se apresenta como empresário e escritor, evita dizer quem apoiaria entre Nunes e Boulos. “Eu vou estar no segundo turno”, argumenta.

Em relação a Bolsonaro, que considera “o melhor presidente do Brasil até aqui”, Marçal diz apostar que o ex-presidente não vai se alinhar a Nunes até o fim. “Ele não vai apoiar um caso perdido. Então, se ele decidir [me apoiar], será uma grande turbinada na pré-campanha, pois estamos do mesmo lado: do lado do povo.”

Fantauzzi, advogado, empresário e ex-emedebista, que já atuou em secretarias estaduais e municipais em São Paulo nos anos 1990, diz apostar, assim como Marçal, nas redes sociais para driblar a inexpressividade da sua legenda. Além disso, afirma ser o mais preparado na área da segurança pública.

O pré-candidato do Democracia Cristã já foi delegado e cônsul do Brasil na Itália. “O mais importante para a população é a segurança pública. Eu assessorei governadores nessa área, interrompi a onda de sequestros em São Paulo. E tenho coerência, nunca mudei de linha”, diz à reportagem, ressaltando se enquadrar na centro-direita.

Para Fantauzzi, Nunes não entende de segurança pública, e a Guarda Municipal deveria agir como uma polícia ostensiva.

A esquerda radical tem três representantes –Altino, Senese e Pimenta. Na eleição de 2022, o PSTU declarou voto crítico em Lula (PT) contra Bolsonaro, enquanto UP e PCO apoiaram o petista.

Altino, do PSTU, diz que Nunes representa os grandes empresários e as pautas antidemocráticas por causa de sua união com Bolsonaro. Em relação a Boulos, afirma que ele tem o mesmo projeto do PT, que se alia ao centro para governar e acaba se dobrando aos interesses empresariais.

“Somos uma alternativa revolucionária e socialista”, afirma à reportagem o ex-presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, que vê espaço para conquistar mais votos da classe trabalhadora, apesar da falta de exposição.

Num eventual segundo turno entre Nunes e Boulos, ele diz que o partido fará uma avaliação e ressalta que sua legenda nega a conciliação de classes que PT e PSOL promovem.

Altino propõe taxar grandes fortunas, expropriar grandes empresas e reestatizar o sistema de transporte. “São medidas duras e radicais, mas necessárias”, completa.

Outro metroviário na disputa é Senese, da Unidade Popular. Ele afirma à Folha que, apesar da falta de estrutura, o partido resolveu lançar um nome porque “permanece a necessidade de enfrentamento mais duro às bases do neofascismo”.

Na avaliação dele, a “luta política contra o bolsonarismo está longe de ser vencida” e essa não é uma questão prioritária na pré-campanha de Boulos como é para a UP. Senese diz que é cedo para pensar sobre apoiar ou não o PSOL num segundo turno.

Questionado sobre como angariar votos na condição de nanico, Senese responde que “grande parte da população se identifica com a UP no dia a dia” e menciona como exemplo a oposição popular à privatização da Sabesp.

Senese, inclusive, foi um dos manifestantes presos, em dezembro do ano passado, na Assembleia Legislativa durante a votação que autorizou a venda da estatal paulista. “Nossa ação era pacífica e minha prisão foi arbitrária”, afirma ele, que ficou 24 horas detido.

João Pimenta, filho do presidente do PCO (Partido da Causa Operária), Rui Costa Pimenta, diz que Nunes é “inimigo da população” e que Boulos “não é uma alternativa à esquerda”, por contar com uma frente de apoio que inclui empresários e pessoas que ele considera de direita.

Pimenta afirma à Folha que é preciso reestatizar o transporte e destinar os imóveis da especulação imobiliária aos moradores de rua.

Num segundo turno entre Boulos e Nunes, o PCO poderia ficar neutro, segundo Pimenta, que tem mais questionamentos ao deputado do PSOL do que a Lula.

O PCO, por sua vez, é conhecido por temas polêmicos que se aproximam da direita, como defender o armamento e atacar decisões do Judiciário que consideram censura.


Nanicos nas eleições de SP

Em 2020

  • 10 candidatos de partidos com ao menos um deputado federal
  • 3 candidatos de partidos sem representação no Congresso Nacional

Em 2024

  • 6 pré-candidatos de partidos com ao menos um deputado federal
  • 5 pré-candidatos de partidos sem representação no Congresso Nacional

Regras eleitorais

Direito ao fundo partidário e à propaganda no rádio e na TV: partidos com ao menos 11 deputados federais ou que tenham obtido ao menos 2% de votos para a Câmara em pelo menos um terço dos estados (sendo no mínimo 1% de votos em cada)

Garantia de participação em debates: partidos com ao menos cinco parlamentares na Câmara ou Senado, sendo que mesmo aqueles que não cumprem o requisito podem ser convidados a critério do organizador do debate

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