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Debate do apagão só tem cadeirada contra a Enel

Após uma campanha de primeiro turno abaixo do rés do chão, monopolizada por Pablo Marçal (PRTB) e pela incapacidade da política tradicional no trato do evento político extremo, o primeiro debate do tira-teima da eleição em São Paulo trazia algumas promessas.

Primeiro, por reunir dois candidatos com o perfil mínimo de civilidade, na teoria ao menos. Segundo, porque há uma crise real e imediata à mão para ser debatida, o novo mega-apagão a afetar milhares de consumidores três dias depois do temporal da vez.

Sobraram as proverbiais cadeiradas para quem não estava lá para se defender —a concessionária Enel. Entre os candidatos Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL), o embate acabou marcado pela previsibilidade.

O que se viu no estúdio da Band foi um repeteco do noticiário e da propaganda eleitoral gratuita.

No contexto particular da crise, Nunes se saiu pior porque está na cadeira de prefeito: tentar impingir a Boulos inação nos seus anos de deputado não cola, independentemente de a prefeitura ser parte do problema em curso.

Como ocorre em países de Executivo forte, como o Brasil, a culpa sempre é a do chefe mais próximo do problema. E essa percepção é difícil de ser tirada de Nunes, por mais agressiva que seja sua retórica contra a Enel.

Como ocorreu nos outros 11 debates até aqui, Nunes mostrou momentos de hesitação, como quando evitou criticar o reticente padrinho Jair Bolsonaro (PL) no manejo da pandemia.

Foi acossado pela linguagem corporal do psolista, que deixou o púlpito e ficou rodeando o prefeito logo na primeira oportunidade. Mais à frente, reagiu no meme do debate, um abraço dizendo que por ser “da favela” não se intimidaria.

Com 58% de rejeição apontada no mais recente levantamento do Datafolha, Boulos arriscou. Chamou repetidamente Nunes de arrogante e mentiroso. A assertividade poderá ser vendida nos “cortes” ao gosto do cliente: como prova de combatividade ou agressividade.

O deputado voltou a sacar a vacina de dizer que os sem-teto por eles liderados não invadiam casas, mecanismo duvidoso por reforçar a acusação em si. De resto, o histórico de confronto e a retórica pregressa de Boulos mostram o quão intransponível é a pecha de “invasor”.

Nunes, nos mais confortáveis 37% de rejeição no item, jogou com isso. Encaixou também uma acusação herdada de Marçal, ao dizer que ele “não sabe bem o que é trabalhar”, embora estivesse tergiversando sobre dinheiro recebido de forma considerada suspeita em investigações.

O fantasma do autodenominado ex-coach também se fez presente quando Nunes começou a falar de segurança pública e drogas, ainda que sem baixar ao nível de acusações pessoas baseadas em falsificações grosseiras contra Boulos. Não por acaso, Nunes herdou 84% dos votos declarados em Marçal.

O deputado tenta pescar alguns dos eleitores da antipolítica nesse lago, apostando justamente na retórica firme e na insinuação de ligação de Nunes com o PCC, mas a faixa de frequência de quem votou em Marçal está à direita do espectro político.

Nesse cenário, os pontos a favor de Boulos parecem desaparecer nas condições objetivas, como a baixa audiência do encontro e a manipulação em tempo real de lado a lado. Com 55% ante 33% do rival no mais recente Datafolha, o prefeito só precisou não desabar.

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