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Dani Monteiro: Racismo ambiental e a água de beber que pode nos faltar

Thiago Lima / Divulgação

Os desastres naturais são velhos e indesejados conhecidos da população fluminense. A população da região serrana sabe bem sobre o que estou falando. Em janeiro de 2011, fortes chuvas provocaram enchentes e deslizamentos em sete municípios, naquela que foi considerada a maior catástrofe climática e geotécnica do país até ali, quando morreram mais de 700 pessoas. Exatos 11 anos depois,a cidade de Petrópolis, sozinha, viveu outra tragédia, que deixou 4 mil desabrigados ou desalojados e 235 mortos. Ao que tudo indica, entre uma tragédia e outra, muito deixou de ser feito para que novos deslizamentos e mortes não ocorressem nas mesmas circunstâncias.

A combinação de fortes chuvas com condições geológicas específicas deixa a região especialmente frágil. O problema, por sua vez, pode ser ainda maior, na medida em que envolve ocupação irregular do solo e encostas, a falta de infraestrutura e investimento em programas de prevenção. Estendendo o tema aos efeitos do aquecimento global, que tornam as chuvas mais intensas a cada ano, a constatação de que há um direito humano ao clima ignorado é além de óbvia, mas precisa ser aceita e acordada entre quem sofre tais efeitos e quem pode ajudar a mitigá-los.

Por falta de providências e ações efetivas, aumentam também as regiões do nosso estado impactadas pelas consequências dos desastres ambientais. São deslizamentos severos, como observamos na Região Serrana e na Costa Verde; enchentes recordes, como as que sofreram, recentemente, o Norte e o Noroeste Fluminense. Na Capital, além das enchentes, que afetam drasticamente as favelas, há ameaças de aquecimento extremo.

Não é exagero dizer que em todas as regiões do território fluminense associamos os fenômenos do aquecimento atmosférico direta ou indiretamente a um impacto na segurança hídrica, uma vez que o risco iminente da falta de produção de água já está dado por especialistas e pesquisadores. As populações que vivem em áreas de maior vulnerabilidade estão aí para corroborar quaisquer teses, pois são as que mais sofrem as consequências brutais do aquecimento global.

Um dos aspectos mais desarrazoados da origem escravocrata no Brasil, embora muitas vezes assumido como um debate de cunho estritamente ideológico, o racismo ambiental causa prejuízos severos a uma coletividade meticulosamente definida: pessoas pobres, negras e mulheres. Precisamos, nesse sentido, falar também da necessidade do direito humano ao meio ambiente, numa conversa que deve ser alongada, mas objetiva.

Por todas essas consequências e ameaças, no próximo dia 25 de junho, a Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da ALERJ pretende botar as cartas na mesa sobre garantias relacionadas ao bem estar, à segurança física e hídrica, além da segurança climática e ambiental em nosso estado. Será uma oportunidade para que discutamos estratégias de prevenção, redução de impactos e proteção às populações. O convite está feito. E volto aqui para contar como foi.


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