Turismo

Conheça Luna Luna, parque em Los Angeles com roda-gigante criada por Basquiat

Imagine subir numa roda-gigante criada por Jean-Michel Basquiat ao som de Miles Davis, andar num carrossel pintado por Keith Haring, e entrar numa sala de espelhos desenhada por Salvador Dalí.

Um parque de diversão das artes, que ainda tinha atrações de David Hockney, Roy Lichtenstein e outros 30 artistas, aconteceu de verdade na cidade alemã de Hamburgo em 1987, mas se perdeu na história numa montanha-russa de litígios de mais de 30 anos.

Em vez de rodar o mundo, os trabalhos do parque Luna Luna acabaram desmontados em dezenas de contêineres e esquecidos num galpão no interior do Texas. Até que em janeiro de 2022 um grupo de investidores resolveu pagar milhões dólares para ver o que tinha dentro.

O conteúdo surpreendeu a turma, que conta com o rapper Drake e sua empresa DreamCrew. Obras de alguns dos artistas mais famosos do século 20 estavam lá em relativo bom estado, além de diversos produtos de divulgação, como cartazes, camisetas e sacolinhas de plástico.

“Cada atração levou um pequeno exército para ser montada”, disse à reportagem a diretora curatorial Lumi Tan, parte do time que trouxe Luna Luna de volta. “Temos uma equipe incrível responsável não só pelo manuseio dos trabalhos, mas também pela instalação. Eles ficaram mais de um ano cuidando deles, reconstruindo um por um, peça por peça, assim que saíram dos contêineres.”

Mas o que era brinquedo no parque alemão a céu aberto agora virou objeto de arte num galpão fechado em Los Angeles.

Luna Luna fica aberto até 12 de maio no Ace Mission Studios, ao lado do novo viaduto da Sixth Street, em Boyle Heights. Depois, viaja pelo país, em cidades que serão anunciadas nos próximos meses. Os ingressos variam de US$ 38 a US$ 85 (R$ 175 e R$ 426), e aquelas camisetas de 1987 também estão à venda, com desenhos de Lichtenstein e Haring (entre US$ 250 e US$ 500).

“Não é apenas o primeiro parque de diversões artístico do mundo, mas é também o único. Luna Luna evoca aquela velha ideia de tornar arte acessível”, disse Tan. “As ambições dos artistas de hoje vão além dos espaços tradicionais dos museus; este é o momento perfeito para compartilhar este evento histórico e inspirar uma nova geração.”

“Como estas obras foram criadas para serem interativas, a nossa abordagem de conservação foi refletir a utilização por quase 300 mil visitantes em 1987, em vez de restaurá-las como eram antes da abertura do parque.”

Embora seja frustrante não poder andar na roda-gigante e no carrossel, é compreensível já que as normas de segurança evoluíram muito desde os anos 1980, sem contar os valores astronômicos das obras dos artistas envolvidos.

Ainda assim, a exposição é uma viagem no tempo. Os “brinquedos” ainda funcionam e são ligados diversas vezes ao dia. Artistas circulam fantasiados pela exposição, tentando recriar o clima circense do parque original. E há amplo registro fotográfico e em vídeo para ver crianças e adultos se divertindo nas atrações num dia ensolarado de 1987.

André Heller, um cantor popstar da Áustria dos anos 1970, foi o inventor do Luna Luna, mas perdeu os direitos do parque após uma série de litígios, dívidas e escândalos ao tentar colocar o show na estrada.

Heller diz que o nome vem dos pequenos parques de diversão da época, chamados de “luna”. Com patrocínio de US$ 350 mil de uma revista alemã, ele viajou o mundo para convencer seus artistas favoritos. Foi assim que chegou a Basquiat, apresentado por Andy Warhol.

A roda-gigante de Basquiat está decorada com a bunda de um babuíno. As cadeirinhas são brancas e trazem temas recorrentes de suas obras, como violência e racismo —grafitado num painel está “Jim Crow”, referência às leis de segregação racial nos EUA. Ele só topou participar do parque quando conseguiu autorização para ter uma música de Miles Davis, “Tutu”.

Outro músico famoso no Luna Luna é Philip Glass, que deu uma composição para o trabalho de Lichtenstein, uma caixa imersiva com um labirinto espelhado e mal iluminado, pelo qual os visitantes podiam se perder.

Agora só é possível ver as pinturas de Lichtenstein no lado de fora da caixa e imaginar a bagunça do labirinto ao som de Glass.

Mas a sala de espelhos de Dalí, chamada “Dalídom”, está aberta para quem pagar o ingresso mais caro. A experiência não é lá tão surrealista e lembra as instalações imersivas de Yayoi Kusama. Um fotógrafo está a postos para registrar o momento.

O ingresso premium também inclui entrada na atração de Hockney, um pavilhão de madeira intitulado “Árvore Encantada”, inspirado no cenário que ele fez para uma ópera de Stravinsky em Nova York em 1981.

Há trabalhos mais curiosos de artistas menos conhecidos, embora de gosto duvidoso, como o “Palácio dos Ventos”, formulado pelo próprio Heller e Walter Navratil.

Trata-se de um teatro cuja fachada foi desenhada pelo cartunista austríaco Manfred Deix. É preciso olhar com atenção para perceber que os personagens pintados estão, veja bem, soltando gases. Já no palco, artistas soltam pum em microfones acompanhando um homem ao violino. Mas não se preocupe, nada disso acontece mais ao vivo. São apenas registros exibidos em vídeo de uma época muito louca que não volta mais.

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