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Comandante do Exército vai à Alemanha para reverter veto e viabilizar blindados

O comandante do Exército, general Tomás Paiva, liderou uma comitiva brasileira para a Alemanha para tentar retomar a importação de uma peça usada para a fabricação do blindado Guarani —principal veículo militar produzido no Brasil.

Desde fevereiro, a Alemanha tem embargado o envio de uma caixa de transmissão usada na fabricação do blindado. A razão seria um contrato para compra de 28 unidades do veículo militar firmado entre o Brasil e as Filipinas, país que sofre sanções alemãs por violação aos direitos humanos.

O veto, porém, acabou afetando toda a fabricação do blindado Guarani pela Iveco, em Sete Lagoas (MG).

Para não paralisar a produção, uma empresa brasileira foi contratada em março para entregar caixa de transmissão semelhante. A peça foi apelidada de “genérica” entre generais ouvidos pela Folha, e não se sabe ao certo o impacto que a mudança na fabricação pode causar ao desempenho do blindado.

O assunto foi tratado entre Tomás e o embaixador do Brasil em Berlim, Roberto Jaguaribe, na primeira reunião que o comandante do Exército teve em solo alemão, na semana passada.

A Força informou que a viagem tinha como objetivo “estreitar os laços entre a Força Terrestre do Brasil e sua contraparte alemã e explorar, em conjunto com a nação amiga, oportunidades presentes e futuras de projetos e de desenvolvimento de soluções voltadas para a Defesa”.

Tomás encontrou ainda o inspetor do Exército alemão, general Alfons Mais, e visitou o Centro de Simulação de Combate, em Gardelegen. A Força brasileira quer usar o espaço como referência para aperfeiçoar os campos de instrução no Brasil, mas os projetos esbarram em questões orçamentárias.

O blindado Guarani começou a ser produzido pelo Brasil há uma década. Nos últimos anos, passou a ser o principal veículo militar a ser negociado com outros países, apesar de as exportações ainda estarem aquém do esperado pelo Exército.

O veículo possui seis rodas, leva até 11 militares e pode ser pilotado tanto sobre a terra quanto sobre a água. Ele é resistente a tiros de fuzil e explosões de granada, chega a 110 km/h e pode ser equipado com metralhadoras e canhões.

A Ucrânia chegou a solicitar ao Brasil, em 27 de abril, autorização para importar até 450 blindados Guarani, para serem usados para transporte e ambulância na guerra.

“Solicitamos vossa autorização para que sejam negociados os referidos veículos, que serão comprados por meio de fundos especiais de países amigos que compreendem e compartilham nossa necessidade imediata e dor”, escreveu o adido de Defesa da Ucrânia, coronel Volodimir Savtchenko, em ofício ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.

O governo Lula (PT) negou a solicitação.

O veto da Alemanha à exportação dos blindados brasileiros às Filipinas foi visto, inicialmente, como uma retaliação ao Palácio do Planalto. O embargo havia sido anunciado dias após o presidente negar a venda de munição de tanques para Berlim. O destino final das cargas era a Ucrânia, para uso na guerra contra a Rússia.

As munições faziam parte de um pacote de ajuda da Alemanha para a Ucrânia. O país europeu compraria R$ 25 milhões em munições para os tanques Leopard-1, blindados usados por ucranianos e brasileiros.

A negativa do Brasil deveu-se à posição de neutralidade que o governo Lula decidiu adotar diante do conflito no leste europeu.

O Planalto e o Itamaraty mantêm relações com Moscou e condenam tanto a invasão quanto o regime de sanções imposto pelo Ocidente aos russos.

O embargo, porém, faz parte de uma decisão de Berlim de impedir pressionar o governo filipino a adotar nova postura diante de casos de violações dos direitos humanos. Como sanção, a Alemanha decidiu vetar o fornecimento de material de defesa —o que envolve até itens de fabricação alemã utilizados em equipamentos produzidos em outros países.

Caso semelhante ocorreu com a Embraer. Em 2020, a empresa brasileira fechou um contrato com a Filipinas para a venda de seis aeronaves A-29 Super Tucano, que têm peças alemãs.

A Alemanha vetou a venda dos aviões com seus componentes para as Filipinas à época, e a Embraer buscou outras soluções para entregar as aeronaves dentro do prazo estipulado pelo contrato.

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