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Cartunista Ziraldo: A morte do pai do Menino Maluquinho aos 91 anos 

Um dos cartunistas mais conhecidos do Brasil, o pai do famoso personagem Menino Maluquinho, Ziraldo, morreu no sábado (06), aos 91 anos, em casa, no Rio de Janeiro.

Ziraldo Alves Pinto era chargista, pintor, escritor, dramaturgo, poeta, cronista, desenhista e jornalista. Ele deu cara, voz e uma história a ser contada sobre um dos personagens mais conhecidos de sua carreira, com o livro O Menino Maluquinho, lançado em 1980, que lhe rendeu o prêmio Jabuti de Literatura, no mesmo ano. 

Ao longo da vida, o cartunista realizou dezenas de outras criações, como histórias, personagens, objetos e livros, como Flicts, O Aspite, Turma do Pererê e Uma Professora Muito Maluquinha. 

E não foi apenas na arte de criar com cores e palavras que Ziraldo se destacou. Ele foi um dos fundadores do jornal “O Pasquim” e atuou com resistência, humor e cultura contra a ditadura militar brasileira. Perseguido pelo regime, ele teve o processo de anistia aprovado em 2008, pelo Ministério da Justiça. 

Segundo a família, que não divulgou as causas da morte, o cartunista Ziraldo morreu dormindo. Nascido em Caratinga, Minas Gerais, em 1932, ele deixa a esposa e três filhos.

Cartunista Ziraldo: morte aos 91 anos.
Ziraldo | Foto: Arquivo Nacional/Reprodução.

A trajetória na literatura infantil e no jornalismo

Um dos nomes mais importantes da literatura infantil, Ziraldo foi responsável por histórias que conquistaram gerações. Leitores que se renderam às histórias contadas em seus livros e quadrinhos.

Pintor, advogado, jornalista, cartunista e escritor, começou a carreira aos 22 anos. Escreveu mais de 50 livros e histórias em quadrinhos, além de fazer parte do icônico O Pasquim.

E de 2009 a 2016, apresentou o programa infantil ABZ do Ziraldo, na TV Brasil, emissora da EBC, Empresa Brasil de Comunicação.

Um programa dedicado a incentivar crianças e adolescentes a desenvolverem o hábito da leitura. Em cada episódio, uma conversa animada com escritores e contadores de histórias.

Um dos destaques foi a entrevista com Maurício de Souza, criador da Turma da Mônica. Durante a conversa com Ziraldo, o desenhista relembrou os tempos de infância.

Recheado de boas histórias, o programa também abre espaço para a música, com o Coral Maluquinho, formado por crianças talentosas e encantadoras. O programa pode ser acompanhado no canal da TV Brasil no Youtube.

Ziraldo, só o nome, sem sobrenome. Assim era a assinatura do charghista. Sua popularidade foi além das obras infantis, que marcam gerações.

Sua herança para o jornalismo brasileiro é preciosa, com seus traços que retratavam a dura realidade brasileira. Ziraldo usou seu humor contra a ditadura militar brasileira.

 

Começou a desenhar suas críticas à sociedade ainda jovem, no jornal Folha de Minas, na década de 1950. Mesmo jornal que publicou seu primeiro desenho, aos 6 anos. Passou pela revista Cruzeiro e Jornal do Brasil. Colecionou prêmios internacionais.

 

A trajetória em O Pasquim 

 

Em meio a repressão e a violência da ditadura, com os colegas Jaguar, Paulo de Tarso e Sérgio Cabral, fundou o semanário O Pasquim, em 1969. Um debochado experimento editorial crítico à ditadura.

O próprio Ziraldo comentou à TV Brasil, em entrevista sobre seus então 80 anos, em 2012, sobre como a ditadura tolerava o Pasquim.

“O Pasquim era uma coisa consentida. Por que eles deixaram a gente ficar publicando? Porque eles pensavam que era melhor ter uma valvulzinha de escape, se não o pessoal… entende? Deixa fazer teatro, deixa fazer cinema novo. Pra poder distender. Hoje eu percebo isso”, refletiu.   

Tolerava até certo ponto. Toda redação do Pasquim foi presa logo após a edição do decreto do AI-5 – que endureceu a ditadura militar. Ziraldo foi preso três vezes nesse período. O amigo ator Antônio Pitanga, também em entrevista à TV Brasil, relembra uma dessas prisões.

“Antes da gente sentar à mesa, o Ziraldo tava trabalhando e chegou a polícia. Bate na porta… Ziraldo tem um rapaz, acho que um sargento, e diz ‘Ziraldo, tem uma ordem de prender o senhor’. E o cara, quando vê o Ziraldo, quase que tremeu, de alegria. ‘Sou fã do senhor, mas eu tenho que fazer esse serviço. Então vamos fazer o seguinte, o senhor janta, faz o que tem que fazer, depois o senhor desce e se apresenta’. Ele foi pro Forte de Copacabana”, contou Pitanga. 

A sátira na revista Bundas 

Na década de 1990, Ziraldo tenta uma nova publicação, a revista Bundas, uma sátira a revista de entretenimento Caras, que acompanhava o famoso slogan: “Quem mostra a bunda em Caras não mostra a cara em Bundas”. A revista não teve grande sucesso econômico, mas marcou uma época, como lembra o chargista Aroeira.

“Bundas foi um projeto que saiu da cabeça do Ziraldo, que nem Minerva saiu da coxa de Zeus. E ele chamou todo mundo, fez uma big reunião e me chamou. Trabalhar com Ziraldo foi o quê? Pessoal faz pós-graduação, pós-doutorado… foi meu pós-doutorado, eu acho”, afirma. 

No começo dos anos 2000, Ziraldo tenta retomar o velho Pasquim em uma nova edição, O Pasquim 21. Mas não teve o mesmo sucesso editorial e circulou poucos anos. Sua sobrinha, Adriana Lins, diretora do Instituto Ziraldo, fala do talento de comunicador do tio.

“Ele é um crítico de costumes, um crítico político, um observador, um cara curioso desde o dia que nasceu. Acho que ele conseguiu usar todo esse talento, de comunicador, a favor de todos nós”, diz.   

Com os novos caminhos da esquerda brasileira, Ziraldo se uniu ao Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), criando a logomarca da legenda, um sol sorrindo. O amigo e jornalista Milton Temer, lembra sua relação com a democracia.

Seu legado ao jornalismo é político, uma forte crítica social em defesa de uma sociedade democrática e diversa. Seus traços e cores ficam eternizados na memória brasileira.

*Da Agência Fonte Exclusiva com informações da EBC. Compartilhe esta notícia do Diário da Guanabara, o melhor site de notícias do Rio de Janeiro.

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