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Boulos teve altos e baixos, desânimo, 'marçalização' e batalha contra favoritismo de Nunes

A equipe de Guilherme Boulos (PSOL) foi atingida por “um desânimo” bem no meio da campanha do segundo turno em São Paulo. As pesquisas sobre o confronto direto com Ricardo Nunes (MDB) davam ampla vantagem ao prefeito, confirmando sondagens de antes da definição. Todos falavam que “era difícil”.

O relato é do próprio Boulos, em discurso para apoiadores, na última terça-feira (22), a cinco dias da votação. “Eleição, gente, se define nos últimos dias, nas últimas horas”, disse, buscando estimular a plateia.

As três semanas que se passaram desde o primeiro turno foram de altos e baixos para o candidato apoiado pelo presidente Lula (PT), com viradas rápidas de estratégia, momentos de sorte e azar, repetição de expedientes adotados por outros políticos e aposta no risco para tentar a tão propalada virada.

O deputado federal e seus aliados mal tiveram tempo de recuperar do sufoco do primeiro turno, quando ele estava em terceiro até a apuração ultrapassar 30% das urnas e pulou para a etapa seguinte com apenas 0,93 ponto percentual a mais (57 mil votos) que Pablo Marçal (PRTB).

Numa disputa que Boulos comparou à luta de Golias contra Davi —em que o outro lado é visto como o mais forte por concentrar as máquinas da prefeitura, do governo estadual de Tarcísio de Freitas (Republicanos) e da engrenagem digital do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL)—, seria tudo ou nada.

A decisão óbvia e imediata foi mirar os 28% de eleitores que optaram por Marçal, partindo da premissa de que os quase 10% de Tabata Amaral (PSB) naturalmente teriam preferência pelo nome do PSOL, e difundir a tese de que o apoio ao influenciador não englobava só voto ideológico, mas também de protesto.

Uma das adaptações foi incorporar parte das propostas e da retórica de Marçal, agora vocalizadas por um Boulos que deixou de lado o personagem formatado para transmitir moderação e resgatou o tom indignado de militante que por 20 anos coordenou o MTST (movimento de moradia).

Enquanto repetia à exaustão o apelo por mudança, sob o argumento de que é isso o que desejam os 70% de eleitores que não votaram em Nunes, Boulos viu as pesquisas logo confirmarem que a maior parte dos simpatizantes de Marçal não migrava para ele, mas, sim, para Nunes.

Emparedada pelo favoritismo do prefeito, a campanha do PSOL e do PT apontava para um esgotamento precoce de armas. Aliados constatavam que, sem algum fator para modificar o cenário e com a rejeição sempre em patamar superior a 50%, restaria trabalhar por uma espécie de redução de danos.

Numa eleição que, de forma geral no país, foi decepcionante para o governo e a esquerda, um eventual fiasco na capital paulista será visto, sobretudo, como uma derrota de Lula, que pintou meses antes a disputa na cidade como uma reedição do embate de 2022 contra Bolsonaro, o que não se concretizou na prática.

Há quatro anos, quando disputou o segundo turno contra Bruno Covas (PSDB), que tinha Nunes como vice, o candidato do PSOL fez 40% dos votos válidos no segundo turno. Atingir menos do que isso agora, com dez vezes mais dinheiro (o caixa agora chega a R$ 81 milhões, com mais da metade oriundos do PT), passou a ser o grande temor dos que cercam um líder volta e meia apontado como sucessor de Lula.

Mas havia um apagão no fim do túnel. Logo após o temporal que atingiu a Grande São Paulo no último dia 11 e deixou sem luz 3,1 milhões de consumidores da Enel, a campanha de Boulos fez uma inflexão para responsabilizar Nunes pela queda de árvores e chamá-lo de incompetente e apagado.

Nunes, que já estava na mira do rival com acusações envolvendo denúncias de corrupção e de elo com pessoas ligadas ao crime organizado, além do caso do boletim de ocorrência por violência doméstica que a primeira-dama registrou contra ele em 2011, reagiu à ofensiva jogando a culpa no colo de Lula.

Com o apagão monopolizando a agenda de ambos, uma guerra de versões sobre responsabilidades se estendeu pela semana intermediária do segundo turno. Boulos contava que o episódio elevasse a rejeição de Nunes e mexesse nos ponteiros das intenções de voto, mas a expectativa se frustrou.

Membros da campanha do PSOL, no entanto, faziam a avaliação de que, gradualmente, o prefeito daria sinais de desgaste. A decisão foi a de insistir em rotulá-lo como alguém frágil, por se submeter a Tarcísio e Bolsonaro, e covarde, por evitar ir a debates —foram apenas três confrontos no segundo turno.

Quando os dois se encontraram no debate na TV Record, na noite do dia 19, o clima estava desfavorável para Boulos, em todos os sentidos. A chuva daquele sábado tinha forçado o cancelamento de duas caminhadas com Lula, um banho de água fria que se somou a outras atividades já desmarcadas.

Em mais uma mostra de “marçalização”, o deputado anunciou na emissora que estava prestes a iniciar algo inédito na história de campanhas eleitorais e fez convocação para um pronunciamento. Ao estilo do influenciador, buscava lançar pistas e despertar curiosidade para chamar a atenção.

Boulos estava convicto de que era preciso criar “uma energia” para combater a sensação de apatia.

Na segunda-feira (21), abrindo a semana de votação, ele foi para a porta da prefeitura e, num gesto que remeteu à “Carta ao Povo Brasileiro”, lançada por Lula em 2002 antes de conquistar a Presidência, leu uma carta intitulada “Ao Povo de São Paulo” na esperança de reduzir sua rejeição.

O texto fazia promessas a trabalhadores precarizados e motoristas de aplicativos, grupos seduzidos por Marçal, e parafraseava o petista com o chavão de que “a esperança pode vencer o medo”. Esperado na cidade para a reta final, Lula ficou ausente após sofrer uma queda em Brasília e ser impedido de viajar.

O pacote da “arrancada”, como tratou a campanha, incluiu a ideia de dormir cada noite da semana na casa do morador de uma região da capital. A cada novo lance, Nunes provocava o rival com a afirmação de ele estava em “modo desespero”. Foi o que o emedebista disse quando Boulos, diferentemente dele, topou ser entrevistado por Marçal, o mesmo que divulgou no início do mês um laudo falso sobre uso de cocaína para prejudicá-lo.

Como Boulos chega ao segundo turno

Intenções de voto

Segundo o Datafolha deste sábado (26), Boulos tem 43%, ante 57% de Nunes (votos válidos)

Coligação

PSOL, PT, PDT, Rede, PC do B, PV

Apoios no 2º turno

Tabata Amaral e seu partido, o PSB, e José Luiz Datena (PSDB, partido que optou por Nunes)

Recursos

A receita total foi de R$ 81,1 milhões, sendo mais da metade (R$ 44,1 milhões) oriunda do PT, que indicou a vice, a ex-prefeita Marta Suplicy

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