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Boulos diz que maioria votou pela mudança e ataca Nunes

Após a confirmação de sua ida ao segundo turno da eleição para a Prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (PSOL) afirmou querer dialogar com quem não votou nele e deseja mudança na cidade, numa crítica ao adversário Ricardo Nunes (MDB), atual prefeito.

“A enorme maioria do povo de São Paulo votou pela mudança, e agora no segundo turno é isso que vai estar em jogo”, disse o deputado em pronunciamento ao lado da candidata a vice, Marta Suplicy (PT), neste domingo (6).

Apoiado pelo presidente Lula (PT), o candidato do PSOL subiu o tom contra Nunes, reforçando a estratégia de lembrar que o emedebista é apoiado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), relativiza a obrigatoriedade das vacinas contra a Covid-19 e minimiza os ataques de 8 de janeiro.

“Do lado de lá, nós temos uma pessoa com uma trajetória muito suspeita”, disse, mencionando “histórico de relação” de Nunes com o crime organizado e com o tráfico de drogas, com a infiltração de organizações em contratos públicos. O deputado afirmou ainda que o prefeito “tem que responder por boletim de ocorrência de violência contra a mulher”, em alusão ao caso registrado pela primeira-dama em 2011.

Em relação a si próprio, disse que o máximo que seus adversários conseguiram falar para atacá-lo, nas quatro eleições que disputou, foi o histórico de defesa por moradia —e reiterou sua dedicação à causa.

Segundo pesquisa Datafolha deste sábado (5), véspera do primeiro turno, em uma simulação de segundo turno entre Nunes e Boulos, haveria 52% de intenções de voto para o prefeito e 37% para o representante do PSOL.

Neste domingo, com 100% das urnas apuradas, Nunes teve 29,48%, Boulos, 29,07%, Pablo Marçal (PRTB), 28,14%, Tabata Amaral (PSB), 9,91%, Datena (PSDB), 1,84%, e Marina Helena (Novo), 1,38%.

Boulos agradeceu pela declaração de apoio de Tabata e disse que buscará outros candidatos derrotados no primeiro turno que entendem, segundo ele, a “gravidade” da situação. Disse ainda que contará a seu lado com o vice-presidente Geraldo Alckmin, do mesmo partido da parlamentar.

A campanha quer dialogar também com Datena. O tucano já disse que não apoiará ninguém, mas aliados lembram que ele e o deputado têm uma relação amistosa e que o apresentador fez duros ataques a Nunes durante a campanha, o que pode fazê-lo declarar voto no psolista. A federação PSDB/Cidadania, no entanto, anunciou endosso ao prefeito.

O candidato afirmou que foram os eleitores periféricos que o levaram para o segundo turno. Ele também falou a moradores de outras áreas, pregando que “uma cidade mais justa e mais igual é mais segura” e que “combater desigualdades é bom para todos”.

Boulos e seus aliados acompanharam a apuração sob tensão, em um clube em Santa Cecília (região central), num clima que só desanuviou pela primeira vez quando ele ultrapassou Marçal, com cerca 30% das urnas apuradas. Nesse momento, houve comemoração com gritos e palmas. A imprensa não teve acesso ao espaço onde estava o candidato.

Nas expectativas mais otimistas da campanha, baseadas em pesquisas, a vontade era que Boulos tivesse a maior votação do primeiro turno e enfrentasse Marçal, contra quem o deputado teria mais chances, segundo as simulações de segundo turno nas pesquisas.

Falando a apoiadores reunidos no clube, o candidato do PSOL disse que “vai ser uma guerra” e lembrou o poderio do lado adversário, com as máquinas da prefeitura e do governo do estado, já que Nunes é apoiado pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), além da aliança partidária extensa.

O plano da esquerda é tentar emular a ideia de frente ampla formada em 2022 em torno da candidatura de Lula para derrotar Bolsonaro. O presidente, maior fiador da candidatura de Boulos, incentivou a nacionalização do pleito municipal, evocando uma espécie de terceiro turno entre seu grupo político, que se autodenomina do campo democrático, e o bolsonarismo.

Como Bolsonaro ficou distante do primeiro turno, o confronto direto com o bolsonarismo acabou comprometido, o que a campanha de Boulos espera compensar agora nas próximas semanas. O ex-presidente declarou apoio a Nunes, mas sem entusiasmo, enquanto seu eleitorado e parte dos aliados se empolgaram com Marçal.

Ainda neste domingo, Boulos sinalizou que usará retórica semelhante à de Lula dois anos atrás, ao falar em uma campanha “contra o ódio e a mentira” e dizer que pretende representar a esperança de uma cidade melhor e apostar em propostas que atendam o cidadão mais pobre e combatam as injustiças.

A ida à próxima fase representa um alívio momentâneo para o candidato do PSOL após o risco de ficar fora do segundo turno e, com isso, impor uma derrota também a Lula.

Na primeira eleição municipal de São Paulo sem o PT com cabeça de chapa em uma candidatura, Boulos enfrentou dificuldade para ser associado ao padrinho Lula. Sofreu também para atrair eleitores que apoiaram o petista em 2022 e que historicamente votam no PT, como os de baixa renda e moradores da periferia. A expectativa agora é que o mandatário tenha uma atuação mais forte nas ruas e na articulação política.

O presidente foi menos presente na cidade do que a campanha de Boulos esperava, apesar de ter aparecido nas propagandas. Desmarcou a presença em um dia de atos e adiou uma live, o que foi atribuído a compromissos da agenda. O presidente esteve em dois comícios, no dia 24 de agosto, e em uma caminhada na avenida Paulista neste sábado (5), véspera da votação.

Em sua segunda candidatura para prefeito de São Paulo —a primeira foi em 2020, quando acabou derrotado por Bruno Covas (PSDB) no segundo turno—, Boulos tem como vice a ex-prefeita Marta Suplicy, que retornou ao PT numa costura de Lula para ocupar a vaga. Ela integrou a gestão Nunes até o fim do ano passado e acoplou à chapa um discurso de experiência como contraponto à juventude do deputado, de 42 anos, que atuou no poder executivo.

O candidato foi catapultado à vida política pela atuação por mais de 20 anos no MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto). Meses antes do processo eleitoral, ele iniciou uma operação para suavizar a sua imagem, numa tentativa de superar os adjetivos de radical e invasor.

As pechas, intensamente exploradas por adversários, foram responsáveis por manter sua rejeição em alta ao longo da campanha —o deputado terminou o primeiro turno com 38% dos eleitores paulistanos respondendo que jamais votariam nele.

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