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Boulos descarta em sabatina Folha/UOL reduzir velocidade e diz conciliar segurança viária e opinião pública

O candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos (PSOL) descartou aplicar medidas para redução de velocidade no trânsito, caso seja eleito, e disse ser preciso conciliar segurança viária e demandas populares ao ser entrevistado nesta segunda-feira (9) no ciclo de sabatinas promovido por Folha e UOL para tratar dos temas da cidade.

Ele também disse que não repetirá a forma como as ciclovias foram implantadas anteriormente pela gestão Fernando Haddad (PT), chamou a gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) de medíocre e evitou chamar o regime de Nicolás Maduro na Venezuela de ditadura, embora tenha reafirmado a ocorrência de fraudes na eleição.

Boulos abordou a questão da redução de velocidade ao ser questionado sobre ações de Haddad, seu apoiador, que sofreu desgaste por baixar limites de velocidade para reduzir mortes no trânsito.

“Isso não foi aceito, houve uma rejeição, embora tivesse uma consistência. Como não foi aceito, nós não retomaremos o debate de redução da velocidade na cidade de São Paulo”, afirmou.

O deputado federal negou que a decisão decorra de falta de coragem, como lhe foi perguntado. Ele completou que “não se pode ignorar o pensamento e o sentimento dos cidadãos” e defendeu que é preciso “ter um equilíbrio”.

Especialistas avaliam que Boulos abre mão de reduzir mortes ao descartar a redução de velocidade.

“É uma fala bem politiqueira”, diz Mauricio Pontello, diretor do Instituto Nacional de Projetos para Trânsito e Segurança. “Se conversar com pessoas que perderam familiares no trânsito, elas vão defender a redução da velocidade”.

Para Hélio Dias, integrante do Observatório Nacional de Segurança Viária, a política pública precisa se sobrepor à popularidade do governante. Com velocidade menor, cai também o risco de acidentes graves.

Ex-coordenadora da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), Suzana Nogueira lembra que a medida reduziu acidentes graves e fatais nas marginais durante a gestão Haddad.

A cidade registrou queda de 15% nos óbitos no trânsito em 2016, com 169 mortes a menos do que no ano anterior. Atualmente, o cenário é de alta: no primeiro semestre de 2024, foram registrados 520 óbitos no primeiro semestre, ante 395 do mesmo período de 2023 —aumento de 31,6%.

Boulos disse também que não repetirá a forma como Haddad implementou ciclovias, dizendo que suas propostas passam por conectar a bicicleta a outros modais de transporte, o que demanda planejamento de infraestrutura cicloviária.

O candidato do PSOL criticou Nunes pelo que considera “visão medíocre” de cidade. Segundo ele, o prefeito relegou a capital à condição de vilarejo, desconsiderando o papel global de São Paulo.

“Se Nunes tivesse um mínimo de transparência e bom uso dos recursos públicos, daria para fazer muito mais”, afirmou, relacionando-o a suspeitas de corrupção e mau uso de verbas. Disse ainda que Nunes é conivente com a presença do crime organizado em contratos, como na área de transporte.

Boulos defendeu a viabilidade de suas propostas e disse que sua equipe fez cálculos de fontes orçamentárias considerando a projeção de arrecadação para os próximos anos, chegando à conclusão de que não faltam recursos, mas, sim, vontade política e capacidade de gestão.

O candidato do PSOL também rebateu o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) por entrar com processo contra sua campanha pelo uso da marca Poupatempo no programa Poupatempo da Saúde, previsto em seu plano e homônimo de uma iniciativa já desenvolvida na Prefeitura de Santo André.

Boulos afirmou que governo não é dono de política pública e opinou que Tarcísio erra ao atacar uma proposta, não o problema da saúde em si. Ele prometeu ainda zerar essas listas de espera —sem fixar prazo.

O deputado falou ainda em regular serviços de entrega e transporte de passageiros por aplicativo. “Vou mandar um projeto de lei para a Câmara Municipal propondo as responsabilidades dessas empresas”, disse, depois de afirmar que o ideal seria um termo de ajustamento de conduta junto ao Ministério Público.

O candidato do PSOL propõe que empresas como Uber, 99 e iFood arquem parcialmente com centros de apoio aos trabalhadores de aplicativo espalhados pela cidade e previstos no seu plano de governo. “Não estão nem aí para o motoqueiro que trabalha 12 horas por dia, não estão nem aí para o motorista que fica até de noite trabalhando de maneira insegura. Essas empresas só querem saber do lucro delas.”

Questionado sobre medidas da atual gestão na área da habitação, Boulos elogiou o programa Pode Entrar, da prefeitura, dizendo que manterá “o que tem de bom” na iniciativa.

“O problema é que ele não tem sido efetivado como deveria”, disse. “A atual gestão focou em comprar imóveis prontos do setor imobiliário e não focou no processo de construção de imóveis para habitação de interesse social [para] famílias mais carentes.”

Lembrando vitórias da esquerda em eleições municipais anteriores, o deputado do PSOL disse que não tem medo de ficar fora do segundo turno e afirmou que Pablo Marçal (PRTB) e Nunes promovem uma “gincana de quem é mais bolsonarista e quem é mais violento”.

O candidato reafirmou que há indícios de fraude na eleição na Venezuela, mas evitou endossar o termo ditadura.

“Eu, como membro da esquerda, me posicionei dizendo que a eleição do Maduro está cheia de suspeitas de fraude e que, portanto, o governo não tem legitimidade”, afirmou.

A mediação da sabatina foi de Fabíola Cidral, ao lado dos entrevistadores Raquel Landim, do UOL, e Fábio Haddad, editor de Cotidiano da Folha.

Demonstrando contrariedade com a abordagem do tema do país vizinho, Boulos evitou comentar diretamente a afirmação de Landim de que a Venezuela é uma ditadura.

“A Venezuela está a 4.000 quilômetros de São Paulo”, disse. “Minha posição sobre a Venezuela, assim como a de boa parte dos representantes da esquerda brasileira, já foi firmada de maneira muito clara, muito enfática inclusive.”

Boulos usou o assunto para atacar seus adversários.

“A extrema direita que tentou dar golpe no 8 de janeiro e candidato que acha que o 8 de janeiro não foi golpe não têm autoridade moral para falar a respeito de democracia. Eu tenho, eles não têm”, disse.

Ex-coordenador nacional do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), Boulos foi candidato à Presidência em 2018 e chegou ao segundo turno como candidato à Prefeitura de São Paulo em 2020, perdendo para o então prefeito Bruno Covas (PSDB). Em 2022, foi o deputado federal mais votado em São Paulo, com mais de 1 milhão de votos.

Além dele, outros postulantes foram convidados. Nesta semana serão sabatinados Altino Prazeres (PSTU), na terça-feira (10); Ricardo Senese (UP), na quarta-feira (11); João Pimenta (PCO), na quinta-feira (12); e Marina Helena (Novo), na sexta-feira (13). A entrevista com Bebeto Haddad (DC) será em 16 de setembro.

Na última semana, foram entrevistados Ricardo Nunes (MDB), na sexta-feira (6); Tabata Amaral (PSB), na quinta-feira (6); e Pablo Marçal (PRTB), na quarta-feira (4). José Luiz Datena (PSDB) cancelou sua participação.

A Folha e o UOL têm feito uma série de sabatinas com candidatos de todo o país. O ciclo de entrevistas foi iniciado em 10 de junho com os postulantes de Belo Horizonte e está sendo feito em 18 cidades.

Além disso, Folha e UOL promoverão debate com os principais candidatos à Prefeitura de São Paulo. O encontro no primeiro turno será em 30 de setembro, às 10h. Caso haja segundo turno, haverá outro em 21 de outubro, também às 10h.

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