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Atentado contra Trump foi 'a maior falha operacional do Serviço Secreto em décadas', diz diretora da agência

A diretora do Serviço Secreto, Kimberly Cheatle, admitiu nesta segunda-feira que a tentativa de assassinato contra o ex-presidente Donald Trump durante um comício em Butler, na Pensilvânia, foi “a falha operacional mais significativa do Serviço Secreto em décadas”. A declaração foi feita durante seu depoimento ao Comitê de Supervisão da Câmara, que está analisando o caso no âmbito legislativo.

— Pensar no que deveríamos ter feito diferente nunca sai dos meus pensamentos — disse ela, afirmando que “moveria céus e terra” para garantir que um evento semelhante nunca mais aconteça e expressando condolências às vítimas.

A diretora, no entanto, se esquivou de alguns questionamentos mais técnicos, como por que não havia nenhum agente no telhado onde estava o atirador e se o local estava ou não no perímetro de monitoramento da agência. Na semana passada, ela disse que havia quatro policiais no prédio, mas a informação foi rebatida pelas demais forças de segurança que patrulhavam o comício.

— Ainda estamos analisando o processo de avanço e as decisões que foram tomadas — respondeu Cheatle. — O prédio estava fora do perímetro no dia da visita, mas, mais uma vez, essa é uma das coisas que, durante a investigação, queremos examinar.

Cheatle enfatizou a rápida ação dos agentes do Serviço Secreto para proteger Trump assim que os disparos foram ouvidos:

— Estou mais do que orgulhosa das ações tomadas pela equipe do ex-presidente, pela equipe de contra-atiradores que neutralizou o atirador e pela equipe tática que deu cobertura durante a evacuação — disse ela.

Cheatle também foi questionado sobre por que Trump foi autorizado a subir no palco apesar do alerta feito às autoridades de que havia uma pessoa “suspeita” na multidão. Segundo ela, há uma diferença entre “suspeita” e “ameaça”.

— Se o destacamento tivesse recebido a informação de que havia uma ameaça, ele jamais teria levado o ex-presidente ao palco — disse ela. — Há várias ocasiões em eventos de proteção em que pessoas suspeitas são identificadas, e esses indivíduos precisam ser investigados [para determinar se representam uma ameaça real].

Outra controvérsia que foi alvo de questionamentos foi se Trump havia recebido toda a segurança solicitada. Neste domingo, a agência admitiu pela primeira vez — voltando atrás em declarações anteriores — que rejeitou pedidos do magnata por mais agentes nos últimos dois anos. Dois dias após o atentado, Alejandro N. Mayorkas, secretário do Departamento de Segurança Interna que supervisiona o Serviço Secreto, disse que a acusação era “infundada e irresponsável, e é inequivocamente falsa”.

— Antes de 13 de julho, a equipe de Trump havia solicitado recursos adicionais? — perguntou o presidente do comitê, James Comer.

— Para o evento de 13 de julho, os recursos que foram solicitados para aquele dia foram fornecidos — respondeu Cheatle, reforçando a especificação do dia quando foi novamente perguntada por outro deputado republicano: — Para o evento em Butler, não houve pedidos negados.

Logo no seu discurso de abertura da sessão, o presidente do Comitê de Supervisão da Câmara, deputado republicano James Comer, enfatizou que “os americanos exigem respostas” e pediu a renúncia de Cheatle, observando que, até o momento, nenhum agente foi demitido em decorrência da falha de segurança no final de semana.

— A tentativa de assassinato de 13 de julho é um dos dias mais sombrios da história política americana. Ela representa as partes mais feias do que a política americana se tornou: ódio mútuo e uma perigosa virada para o extremismo — disse Comer. — Antes de sermos republicanos ou democratas, somos americanos. Se colocarmos nossas afiliações políticas acima de nosso dever e amor ao país, não poderemos manter um país.

O pedido foi endosse pelo agente aposentado Paul Eckloff, que também testemunhou na sessão, embora tenha enfatizado que este não seria o momento certo.

— Se olharmos para os incidentes que vimos na história do Serviço Secreto. Alguns diretores deixaram o cargo e outros não. Nesse caso, acredito que há necessidade de uma nova liderança mas, apenas na minha opinião pessoal, não é este o momento. O momento deve ser decidido em um futuro próximo, e deve haver uma transição tranquila e um treinamento e uma verificação completa de quem deve ser o próximo diretor — disse Eckloff.

Eckloff lembrou do legado de James J. Rowley, o diretor do Serviço Secreto na época do assassinato de John F. Kennedy, alegando que, em vez de atribuir culpa naquela ocasião, foi criado um centro de treinamento que leva o nome de Rowley.

— Ele foi mantido para aplicar as lições aprendidas e ajudar o Serviço Secreto a se tornar uma agência melhor e mais forte — acrescentou Eckloff. — O Serviço Secreto precisa se adaptar e melhorar suas metodologias. Simplificando, o Serviço Secreto está enfrentando ameaças do século XXI, com um orçamento e mão de obra do século XX, com base em assassinatos do século XIX.

Desde a tentativa de assassinato contra Trump durante um comício, influenciadores proeminentes da direita ultraconservadora dos Estados Unidos atribuem a falha de segurança do Serviço Secreto às mulheres que trabalham na agência, incluindo sua diretora, culpando as políticas de diversidade e inclusão pela alegada queda no padrão de recrutamento.

No momento dos disparos, várias mulheres de terno e óculos escuros, vestindo o uniforme típico dos agentes do Serviço Secreto, se lançaram para proteger Trump e retirar do local o candidato presidencial republicano, que acabou ferido na orelha direita. Pouco depois, a culpa recaiu sobre elas.

“Não deveria haver mulheres no Serviço Secreto. Os agentes devem ser os melhores e nenhum dos melhores é mulher”, escreveu o ativista de direita Matt Walsh na rede social X.

O congressista republicano Tim Burchett criticou a diretora do Serviço Secreto por implementar a política de diversidade na organização, além do seu passado como chefe de segurança na PepsiCo: “Não consigo imaginar como uma contratação de diversidade e inclusão da Pepsi possa ser uma escolha ruim para a chefe do Serviço Secreto #sarcasmo”, postou no X.

Após vários anos na PepsiCo, Cheatle se tornou a segunda mulher a liderar a agência federal, onde já havia trabalhado por quase 30 anos.

Até o dono do X, o bilionário Elon Musk, entrou na polêmica, afirmando que “ter uma pessoa pequena como cobertura corporal para um homem grande é como usar um traje de banho pequeno na praia: não cobre o sujeito”.