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Aliados de Nunes veem gesto calculado de Lula para tentar nacionalizar eleição de São Paulo

Aliados do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), avaliam que o pedido de voto em Guilherme Boulos (PSOL) foi um gesto calculado de Lula (PT) para tentar cada vez mais transformar a disputa de outubro na capital paulista em um embate entre o petista e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Embora publicamente a pré-campanha do prefeito tenha condenado a fala de Lula no ato do feriado de 1º de Maio como antecipação ilegal de campanha, nos bastidores o discurso é o de que pesquisas internas das duas pré-campanhas mostrariam que a nacionalização da eleição municipal é a única chance de Boulos vencer o pleito.

Petistas e integrantes do governo federal, entretanto, negam uma ação premeditada de Lula. Dizem que o pedido de voto em Boulos entra na conta dos constantes improvisos que o presidente faz. Não havia nem mesmo confirmação de que os dois teriam uma conversa antes do ato, o que aconteceu pouco antes de Lula subir ao palanque.

Apesar de não haver expectativa de demonstração de apoio no 1º de Maio, aliados do presidente reconhecem que havia uma pressão interna no PT e no PSOL para que Lula fizesse gestos públicos ao pré-candidato do PSOL.

Eles têm reivindicado maior presença de Lula e seus ministros em agendas da pré-campanha, mas não contavam que o apoio fosse explicitado no Dia do Trabalhador.

Em um esvaziado ato de 1º de Maio na zona leste de São Paulo, Lula fez um pedido explícito de voto para Boulos, confrontando o que estabelece a legislação eleitoral, segundo a qual esse tipo de atitude só é permitida no período oficial de campanha, que começa em 16 de agosto.

“Vou fazer um apelo: cada pessoa que votou no Lula em 89, em 94, em 98, em 2006, em 2010, em 2018, 2022, tem que votar no Boulos para prefeito de São Paulo”, discursou Lula na ocasião.

A fala do presidente da República gerou reação imediata de bolsonaristas e de aliados de Nunes, que acionaram a Justiça.

Nos bastidores, porém, integrantes da pré-campanha do prefeito dizem não terem se surpreendido, já que o efeito político desejado pelos aliados de Boulos compensaria eventual punição a Lula e ao pré-candidato do PSOL. O ilícito eleitoral sujeita o infrator a multa de R$ 5.000 a R$ 25 mil.

O presidente nacional do MDB, o deputado federal Baleia Rossi (SP), chegou a publicar em seu perfil pessoal no X críticas a Lula por ter usado “a estrutura do governo para fazer campanha eleitoral contra o MDB, partido com três ministros que têm feito um trabalho exemplar para o país”.

Integrantes do partido, porém, dizem que o deputado não poderia deixar de se manifestar tendo em vista que é o coordenador da pré-campanha de Nunes, mas que esse episódio não respingará na relação nacional do MDB com o governo Lula.

O partido ocupa três ministérios e integra a base do governo no Congresso.

“O ato é tão obviamente ilegal que eu chego a duvidar que tenha sido um ato falho, um erro. Se fosse um erro, quase que demonstraria uma senilidade do presidente, e eu não vejo o presidente como um homem senil. Ele vai receber uma multa, vai passar por alguns constrangimentos, mas calculou que o prejuízo era menor do que a necessidade de tentar dar um empurrão na candidatura do Boulos”, afirmou o ex-deputado Carlos Marun, que foi ministro da Secretaria de Governo de Michel Temer (2016-2018).

Outros aliados do prefeito de São Paulo corroboram essa afirmação, nos bastidores, afirmando ainda que a fala de Lula teria o objetivo de se contrapor também às articulações de Nunes, que no último dia 22 participou de jantar que reuniu dirigentes e representantes de dez partidos, entre eles o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), Temer e o secretário Gilberto Kassab (PSD).

Na última pesquisa do Datafolha, da primeira quinzena de março, Boulos e Nunes lideravam a disputa pela Prefeitura de São Paulo, em empate técnico: 30% das intenções de voto para o pré-candidato do PSOL, 29% para o do MDB.

O Datafolha também mostrou que Lula continuava sendo melhor padrinho político do que Bolsonaro na cidade de São Paulo.

O apoio do ex-presidente levava 63% dos eleitores de São Paulo a não votar de jeito nenhum no candidato indicado por ele, enquanto a parcela que rejeita um nome apoiado pelo petista era de 42%.

No segundo turno da eleição de 2022, disputado diretamente entre Bolsonaro e Lula, o petista venceu na capital paulista —53,54% a 46,46% dos votos válidos.

Diante desses números, integrantes da campanha de Nunes repetem que o esforço será o de tentar direcionar a campanha para as questões locais da cidade, evitando uma forte nacionalização, cenário em que, dizem, a rejeição ao líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto) tende a ser mortal para a sua candidatura.

Nunes tem se equilibrado entre tentar garantir o voto do eleitor bolsonarista sem ficar rotulado como candidato do ex-presidente.

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