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'Abin paralela' alvo da PF já foi comentada por Bebianno e pelo próprio Bolsonaro

A Polícia Federal cumpre nesta segunda-feira (29) novos mandados de busca e apreensão na investigação envolvendo a chamada “Abin Paralela” do governo Bolsonaro. Está entre os alvos da nova etapa da operação o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Segundo a PF, o objetivo da nova fase é mirar pessoas que teriam sido destinatárias de informações produzidas ilegalmente pela agência. Carlos teria recebido ilegalmente informações e materiais clandestinos da Abin, segundo a apuração da PF.

A suposta realização de atividades ilegais na Abin já foi comentada por Gustavo Bebianno, ex-ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro.

O próprio ex-presidente já falou, em reunião ministerial de abril de 2020 depois divulgada, que teria um sistema de inteligência “particular”.

Em live no domingo (28), Bolsonaro negou a existência de uma “Abin paralela” para monitorar adversários, e desconversou sobre a frase em que citou a existência de uma inteligência extraoficial.

Ideia da Abin paralela

Em entrevista em março de 2020 ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Gustavo Bebianno, ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência no governo Bolsonaro, afirmou que circulava no governo um plano para monitorar adversários políticos.

Bebianno afirmou que a ideia foi de Carlos e que ele, o então ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Augusto Heleno, e o então ministro-chefe da Secretaria de Governo, Carlos Alberto Santos Cruz, tiveram ciência do plano.

“Um belo dia o Carlos me aparece com o nome de um delegado federal e de três agentes que seriam uma Abin paralela porque ele não confiava na Abin”, afirmou.

Segundo o ex-ministro, Bolsonaro foi aconselhado a não colocar o plano em prática.

“Muito pior que o gabinete do ódio, aquilo também seria motivo para o impeachment”, afirmou. Bebianno disse não saber se a ideia de Carlos teria sido implementada ou não.

Sistema de inteligência particular

Em reunião ministerial em abril de 2020, o então presidente Bolsonaro afirmou que tinha um sistema de inteligência particular.

Ele também fez críticas à atuação do sistema de inteligência brasileiro e disse que ele desinformava.

“Eu tenho a PF que não me dá informações, eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não têm informações. A Abin tem seus problemas, tem algumas informações. Só não tem mais porque está faltando realmente… temos problemas. Aparelhamento, etc.”, afirmou.

Sobre um sistema de inteligência particular, disse: “O meu particular funciona. Os outros que têm oficialmente desinformam. E voltando ao tema: Prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho”.

Em live no YouTube neste domingo (28), Jair Bolsonaro negou a existência de uma “Abin paralela” para monitorar adversários.

Ele relativizou a fala da reunião ministerial na qual disse ter um sistema de inteligência particular e disse que fazia referência a contatos feitos com autoridades para entender situações ocorridas no país, sem a ocorrência de ações ilegais.

Ciência do monitoramento

Joice Hasselmann, ex-deputada pelo PSDB de São Paulo que foi eleita pelo PSL, então partido de Bolsonaro, afirmou que chegou a ouvir rumores sobre uma “Abin paralela” quando era aliada do ex-presidente. A fala se deu em uma entrevista ao Uol no último dia 25 de janeiro.

Segundo a investigação da PF, ela teria sido um dos alvos monitorados ilegalmente pela agência.

A ex-parlamentar disse que, na época, Bebianno chegou a comentar a existência da Abin Paralela, mas que ela não levou “tão a sério”.

“Eu sabia desse monitoramento desde o final de 2019. O próprio Bebianno enquanto era vivo já tinha falado dessa Abin paralela comandada pelo Ramagem. Era uma das coisas que preocupavam bastante o Bebianno”, disse na entrevista.

A ex-deputada disse ainda que teria ouvido uma conversa sobre o assunto entre o ex-presidente e o General Heleno, em uma ocasião na qual entrou na sala da presidência da República sem ser anunciada.

Hasselmann afirmou ter, na época, conseguido confirmar a existência da Abin paralela. Ela também teria identificado que estava sendo seguida após ter rompido com o governo. Na entrevista, a ex-deputada também afirmou que acredita que a PF ainda vai descobrir a existência de grampos ilegais feitos pelo governo.

Entenda a operação

Além da residência e gabinete do vereador no Rio de Janeiro, foram cumpridos mandados em Angra dos Reis (RJ), Brasília (DF), Formosa (GO) e Salvador (BA).

Após a operação, Flávio e Eduardo reagiram, argumentando que a ação foi ilegal e cinematográfica. O ex-presidente, por sua vez, fala em perseguição à família. Segundo ele, adversários querem encontrar algo para envolvê-lo em algum crime, mas não vão conseguir. Carlos ainda não se manifestou sobre a ação desta segunda.

Conforme as investigações, o CIN (Centro de Inteligência Nacional) usava ilegalmente o software FirstMile para monitorar a geolocalização de adversários do ex-presidente.

O programa espião investigado pela PF tem capacidade de obter informações de georreferenciamento de celulares. Segundo pessoas com conhecimento da ferramenta, ela não permite os chamados “grampos”, como acesso a conteúdos de ligação ou trocas de mensagem.

A agência também teria feito relatórios de adversários. Alguns dos alvos seriam o ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), e Camilo Santana, atual ministro da Educação e então governador do Ceará.

Além de Carlos, a PF investiga ainda se outros dois filhos do ex-presidente, Flávio e Jair Renan, também teriam sido beneficiados com ações da agência.

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