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A erudição citada por Toffoli ao falar da Lava Jato

Na decisão que aliviou as multas impostas à J&F dos irmãos Batista de R$ 10,3 bilhões para R$ 3,5 bilhões, o ministro José Antonio Dias Toffoli mencionou uma reflexão literária feita pela defesa. Ela açoita a Operação Lava Jato comparando-a à desdita de Jean Valjean, o personagem de “Os Miseráveis”, de Victor Hugo, e a Edmond Dantès, o “Conde de Monte Cristo”, de Alexandre Dumas. São dois romances magistrais.

Nessa visão, os irmãos Joesley e Wesley Batista, como Valjean e Dantès, foram heróis vitimados por penas abusivas e violentas.

Reproduz o ministro:

“Na literatura, Dantès supera seu amargo destino transformando-se no Conde de Monte Cristo, enquanto Valjean passa a reconstruir sua vida quando se vê livre, estabelecendo inesperadas relações entre diferentes tipos de miseráveis na Paris do século 19.

A vingança iminente e nunca satisfeita em plenitude une os heróis e nos separa da literatura romântica, afinal, quando se trata de uma injustiça verídica no Brasil da Lava Jato, é o STF quem tem cumprido a função do narrador que nos deixa a par do quão abusivo e injusto fora o processo e mitiga, na medida do que é processualmente possível, os danos desta que pode ser considerada a Operação mais abusiva de que se tem notícia sob a égide da Constituição de 1988″.

Bateram duro, mas não precisava recorrer a Dantès e Valjean. Dantès era inocente e foi vítima de uma trama. Encarcerado, conhece o abade Faria, que lhe dá o mapa de um tesouro. Ele foge e vive como um nababo, assumindo várias identidades. É uma história magnífica, mas o negócio de Dantès, transformado em Conde de Monte Cristo, é a vingança. Nada a ver com justiça.

O caso de Jean Valjean foi outro. Ele foi preso por roubar um pão e ralou nos trabalhos forçados. Mais tarde, furtou uns castiçais. Valjean mudou de identidade, ficou rico e só fez o bem na vida, sempre protegendo a menina Cosette. Atrás dele está sempre o policial Javert, um obcecado. A certa altura Valjean pode matar Javert e poupa-o. Humilhado, o policial se suicida.

Dantès, um inocente, e Valjean, um culpado, foram personagens construídos por Dumas e Victor Hugo. Ambos eram bons homens.

A Lava Jato fez de tudo, mas não incriminou inocentes como Dantès nem ladrões de pão como Valjean.


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