Turismo

A aventura de entrar sem visto em Serra Leoa

Para controle e organização, muitos países exigem visto para entrada em seus territórios. Porém, a minha passagem por Serra Leoa, país localizado no oeste da África, foi um pouco diferente, uma grande aventura, no mês de setembro de 2023.

Utilizando táxi compartilhado, cruzei a fronteira de Guiné para Serra Leoa. Eu paguei, na moeda local, 8.000 XOF, algo em torno de R$ 65, e com isso pude percorrer 320 km em 12 horas. O trajeto foi acompanhado por chuva intensa, estrada precária e imprevistos na imigração.

Durante o percurso, nosso motorista teve que parar diversas vezes em checkpoints dos postos de controle de imigração, nos quais sempre nos era solicitado pagar uma taxa. Nós não fomos informados que tipo de tributo era esse, mas a nossa liberação apenas ocorria após o pagamento. Apenas o nosso motorista descia do carro, e isso impossibilitou que eu obtivesse mais detalhes da situação.

Após aproximadamente quatro horas de viagem nos deparamos com o quinto posto de controle –nele foi necessário que todos os que estavam no carro descessem. O policial solicitou o passaporte de todos, e após eu entregar o meu, ele me perguntou por que eu estava sem visto.

Para turistas brasileiros, é possível solicitar o visto chamado “on arrival” no serviço de imigração, isto é, quando se chega à fronteira. No caso, o policial me informou que nós já tínhamos passado dez quilômetros da fronteira e que, portanto, eu estava em condição ilegal. Apesar do meu espanto em saber dessa circunstância, consegui entrar em um acordo com o policial.

Ele conversou com o motorista do táxi em uma sala separada, em seguida me chamou em uma outra sala com mais dois policiais e me orientou a regularizar a minha situação em Freetown, capital de Serra Leoa.

Ao sermos liberados para dar continuidade à nossa viagem, eu perguntei de imediato ao motorista o porquê de ele não haver me comunicado nada quando passamos pela imigração. Eu não notei muita sinceridade em sua voz quando ele me respondeu: “Eu pensei que você fosse guineense”.

Voltar os dez quilômetros não era uma opção, porque eu poderia me deparar com um policial não tão compreensível durante o caminho. Então contatei a minha amiga Rebecca Aletheia, que trabalhou por muito tempo no país como enfermeira. Ela conseguiu me conectar ao serviço de imigração, que me aconselhou a comparecer à fronteira com a Libéria o mais rápido possível, porque haveria um policial aguardando para me ajudar.

O motorista me deixou em Freetown no início da noite, e eu me hospedei no Hotel Guest House, na região central. Meu plano agora era acordar cedo no dia seguinte para tentar resolver a minha situação no outro lado do país.

Afinal, eu decidi não seguir o conselho do policial do quinto checkpoint, uma vez que poderiam interpretar a minha situação como a de alguém que tivesse cometido crime de imigração de uma maneira intencional.

Assim que amanheceu, peguei um ônibus até este meu novo destino e, após 12 horas de viagem, pude regularizar o meu passaporte sob o pagamento de US$ 70. Eu praticamente cruzei Serra Leoa, e por causa desse detalhe, do desgaste e do cansaço, decidi aproveitar o contexto e já ingressar em meu 131º país: Libéria.


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