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Nunes fala em vitória da gestão, enaltece Tarcísio como 'líder maior' e faz menção tímida a Bolsonaro

Em seu discurso após se reeleger neste domingo (27), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) falou em vitória do trabalho, enalteceu o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) como “líder maior”, disse que governará para todos e que “a periferia venceu”.

O emedebista citou timidamente Jair Bolsonaro (PL) ao agradecer o vice na chapa, o policial militar aposentado Ricardo Mello Araújo (PL), indicado pelo ex-presidente, que resistiu a embarcar na campanha.

Após vencer Guilherme Boulos (PSOL) com 59,35% dos votos válidos, Nunes afirmou que a democracia deixou uma lição para São Paulo e para o Brasil de que “o equilíbrio venceu todos os extremistas”. Disse ainda que “não se faz política com ódio”, citando o discurso do prefeito Bruno Covas (PSDB), em 2020.

No Clube Banespa (zona sul), o prefeito abriu o discurso agradecendo ao povo, a Deus e à família e, em seguida, se referiu a Tarcísio, principal fiador de sua campanha. “Agradeço ao líder maior, sem o qual essa vitória não seria possível. Meu amigo que me deu a mão na hora mais difícil, Tarcísio”, disse.

“Seu nome é presente, mas seu sobrenome é futuro”, continuou, falando sobre o aliado, a quem chamou de alicerce da sua vitória. “Você vai poder contar sempre comigo”, completou.

Tarcísio, por sua vez, afirmou que Nunes teve uma “vitória maiúscula” e enalteceu a coligação de 11 partidos, chamando-a de frente ampla. O governador afirmou ainda que essa foi uma “vitória do trabalho sobre a lacração” e disse que “identitarismo não resolve nada” e “não enche barriga”.

A menção de Nunes a Bolsonaro foi breve: “Quero agradecer meu companheiro de chapa, um verdadeiro herói, o coronel Mello Araújo, uma indicação preciosa do [ex-]presidente Bolsonaro”.

Nunes afirmou que “a campanha terminou” e que “a hora das diferenças passou”, mas fez uma série de críticas a quem se “preocupa muito com engajamento na rede social e pouco com o desenvolvimento social” e ao que chamou de política sem resultado, elencando suas entregas e suas promessas.

“Quem não tiver acervo de realizações, algo para mostrar de concreto, terá cada vez mais dificuldade de ter como único argumento político a rejeição do adversário”, afirmou. “O trabalho venceu a retórica das ideologias, as transformações profundas venceram a fala rasa dos radicais de todo Brasil.”

O prefeito disse que fazer “construções políticas é muito mais difícil e muito mais desgastante que surfar nas ondas do ódio e das rejeições”, mas “não significa falta de posição política”.

“Posições políticas, sim, mas radicais, nunca. Política sem resultados não é política, é frustração. Política só com ideologia, não é política, é ilusão. O que venceu a eleição foi o trabalho e o reconhecimento das nossas políticas públicas. Política só é política se conciliar posições e consequências práticas da vida das pessoas. Foi essa a mensagem dessas eleições.”

O prefeito repetiu quase exatamente o feito de Covas ao se reeleger na capital contra Boulos, tendo ao seu lado um vice à direita, desconhecido e improvável. Há quatro anos, o vice era ele.

O tucano morreu de câncer em maio de 2021, deixando a cadeira para o emedebista. Agora, Nunes alça consigo Mello Araújo, um ex-comandante da Rota e ex-presidente da Ceagesp aceito pela campanha para conquistar bolsonaristas que viam em Pablo Marçal (PRTB) o nome real da direita.

Em sua fala após a vitória, o emedebista citou o discurso de Covas em 2020, repetindo a célebre frase “é possível fazer política sem ódio”.Hoje sei exatamente o que o Bruno sentia, e espero que nunca mais ninguém tenha que repetir essa frase num dia como esse”, completou. No palco, abraçou Tomás Covas, filho de Bruno.

Nunes aproveitou ainda para acenar aos eleitores do influenciador Pablo Marçal (PRTB). “Vamos dar atenção especial para quem quer progredir, para quem quer empreender.”

A festa da vitória teve ainda a presença de uma série de secretários, deputados e vereadores, incluindo o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil). Estavam presentes ainda o ex-governador Rodrigo Garcia, o presidente do MDB, Baleia Rossi, e o presidente do PSD, Gilberto Kassab.

A respeito de sua mulher, Regina Carnovale, que estava ao seu lado no palco, disse que ela “sofreu enormes maldades nesta campanha”, em referência ao boletim de ocorrência que ela fez contra ele, em 2011, e que foi lembrado durante a disputa.

Foi sobre Tarcísio que recaíram os créditos da reeleição de Nunes. Atuando pela primeira vez como articulador, padrinho e cabo eleitoral, o governador chegou a bloquear sua agenda para estar à disposição da campanha.

Neste domingo, uma declaração do governador fomentou o embate entre as campanhas. Tarcísio afirmou, sem apresentação de provas, que o PCC (Primeiro Comando da Capital) orientou voto no candidato do PSOL. Boulos ajuizou uma ação na Justiça Eleitoral pedindo a inelegibilidade de Nunes e de Tarcísio.

Apontado como o principal nome da direita para a disputa presidencial de 2026, dada a inelegibilidade de Bolsonaro, Tarcísio sai da eleição municipal não só com maior projeção, mas com uma coligação embrionária e com palanque garantido na cidade mais importante do país. Já Nunes declarou que essa pode ser a última eleição que disputou.

O presidente Lula (PT), por sua vez, é sócio da derrota de Boulos, mais um revés para a esquerda no pleito de 2024 e um entrave para a reeleição do petista.

Em 2020, Covas pediu licença a apoiadores graúdos e sua família para agradecer ao vice em primeiro lugar. Nesse momento do discurso, Nunes foi puxado lá de trás para abraçar o tucano —ele não estava na primeira fila do palco.

Nunes havia sido naquela campanha um problema para Covas por causa de suspeitas que só se intensificaram desde então e voltaram a assombrar o emedebista neste pleito, como a investigação da máfia das creches e o caso de violência doméstica .

No discurso de Covas há quatro anos, Bolsonaro foi criticado indiretamente, quando o tucano afirmou que restavam “poucos dias para o negacionismo e para o obscurantismo”. Naquele momento, o resultado na capital era uma vitória contra Bolsonaro, e não a favor como agora.

A conexão entre a eleição local e a nacional apareceu também em 2020, já que a aliança de Covas com o então vereador Nunes foi bancada por João Doria com o objetivo de trazer o MDB para sua campanha presidencial de 2022 que nunca aconteceu.

A discussão nacional que se coloca na capital com Tarcísio a partir de agora foi interditada na campanha pelos estrategistas de Nunes. A reedição da polarização entre bolsonaristas e lulistas mais interessava a Boulos, já que Lula venceu Bolsonaro na cidade em 2022. A ausência de ambos os padrinhos na campanha, no entanto, pesou para que a eleição paulistana fugisse a essa lógica.

A campanha do MDB apostou em outro caminho, apresentando Nunes como gestor e exaltando medidas populares como recapeamento e tarifa zero aos domingos. Visto por rivais como um vereador na cadeira de prefeito, Nunes foi alavancado pela aliança de 11 siglas, pelo maior espaço na propaganda eleitoral e pela máquina da prefeitura e seu caixa recorde.

Em 2020, a disputa entre Covas e Boulos foi cordial. Desta vez, a agressividade fora do comum ficou na conta de Marçal, mas o segundo turno também teve troca de ataques —Nunes associou Boulos a extremismo, desordem e inexperiência.

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