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Estratégia de Boulos de 'fazer o B' traz algum efeito e prenuncia novos ataques a Nunes

A nova pesquisa Datafolha em São Paulo mostra que a boca do jacaré segue bastante aberta, para usar uma imagem adorada por marqueteiros, mas que há alguma movimentação desde que Guilherme Boulos (PSOL) passou a “fazer o B”.

Uma análise dos três levantamentos do instituto neste segundo turno revela mudanças em alguns segmentos especialmente atingidos pela campanha do psolista.

No eleitorado mais jovem (16 a 24 anos), foco de promessas para estimular o empreendedorismo inspiradas por Pablo Marçal (PRTB), Boulos agora aparece 7 pontos percentuais à frente de Ricardo Nunes (MDB), com 40% a 33%.

Há duas semanas, o deputado federal estava 15 pontos atrás do atual prefeito. Na faixa etária seguinte, de 25 a 34 anos, a vantagem do emedebista de 20 pontos evaporou e há empate numérico.

Além do projeto específico para o empreendedorismo, há uma avaliação de que os mais jovens são especialmente impressionáveis por comportamentos mais lacradores e até agressivos, como os que Boulos tem demonstrado nas redes, nas ruas e na TV.

Essa improvável intersecção entre o marçalismo e o boulismo, embora ainda restrita, se manifesta de outras formas. O candidato do PSOL tem agora “apenas” 63 pontos percentuais de desvantagem entre os que votaram no coach (74% a 11% para Nunes), mas essa diferença já foi de 80 pontos.

Boulos, que planeja uma live com o candidato que não faz muito tempo divulgou laudo falso chamando-o de cocainômano, aposta em conseguir 20% dos votos do ex-candidato do PRTB.

Houve algo de positivo para ele também entre os eleitores de baixa renda, que podem ter se impressionado com a barragem de ataques a Nunes ou se sensibilizado com os apelos de Lula pelo voto em seu afilhado. Entre os que ganham até dois salários mínimos, a vantagem do emedebista foi de 27 pontos para 17 (48% a 31%).

Embora a tão sonhada nacionalização da campanha não tenha cumprido nem de perto o roteiro traçado pelo candidato do PSOL, parece ter tido algum efeito nos últimos dias.

Subiu o percentual de eleitores que se declaram simpatizantes do PT e agora optarão por Boulos. A parcela de Nunes neste segmento caiu de 30% há duas semanas para 14% agora, enquanto a do psolista, que tem uma vice petista, foi de 68% para 77%.

Já no caso dos que fizeram o L há dois anos, o psolista tem 66%, contra ainda robustos 26% para Nunes. A vantagem de 40 pontos era de 32 no início do segundo turno no grupo dos que votaram em Lula no segundo turno de 2022.

Nos últimos dias, Boulos tem buscado intensificar a relação com o presidente, mas foi vítima do azar, com uma sucessão de imprevistos que impediram um contato mais estreito entre eles na campanha, o último deles a queda de Lula no banheiro do Alvorada.

Já o sumiço de Jair Bolsonaro (PL), quebrado nesta semana num evento cheio de sorrisos amarelos, pode ter ajudado Nunes a manter certa força no lulismo.

Não menos importantes são os indícios de que a artilharia pesada de Boulos contra seu adversário em programas de TV e inserções estão tendo algum impacto —se não em virar votos para o psolista, ao menos para fragilizar parte do apoio para Nunes.

O percentual dos que afirmam que votarão com certeza no emedebista escorregou 7 pontos percentuais em duas semanas, de 48% para 41%.

Nunes, embora tenha rejeição bem menor que a do oponente, também conta com o eleitorado menos convicto. Apenas 30% de seus apoiadores o fazem por convicção, e 69% porque não veem alternativa melhor. Em outras palavras, não gostam do prefeito, mas gostam menos ainda do ex-líder sem-teto.

Essa situação é um flanco aberto para Boulos, que busca, se não capturar esses votos, ao menos aumentar a rejeição do adversário para que cresça o percentual de votos nulos, brancos e abstenções. A estratégia sangue nos olhos do psolista dos últimos dias pode não ser bonita, mas tem lógica.

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