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Boulos acusa Datafolha de falta de transparência

A campanha de Guilherme Boulos, candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSOL, pediu ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) que determine que o Datafolha apresente esclarecimentos sobre a primeira pesquisa do instituto para o segundo turno na cidade, realizada nos dias 8 e 9 de outubro.

De acordo com a equipe de Boulos, o Datafolha “não informou alterações realizadas fora do registro no TSE [Tribunal Superior Eleitoral]”.

Luciana Chong, diretora do Datafolha, afirma que o registro do levantamento respeitou todas as exigências do tribunal, como o instituto tem feito há 39 anos.

Segundo a campanha do candidato do PSOL, o Datafolha deveria ter detalhado todos os usos de ponderação, uma técnica estatística que corrige desequilíbrios nos perfis das amostras após a coleta de dados.

O instituto “não foi transparente quanto às alterações aplicadas nos resultados originais da pesquisa, que resultaram em números mais positivos para [Ricardo] Nunes do que os coletados na pesquisa de campo”, segundo a equipe de Boulos.

Para a campanha, “a pesquisa Datafolha registrada no TSE previa este tipo de ponderação, mas apenas para as informações de gênero, idade e escolaridade”.

Além desses itens citados, a ponderação foi usada pelo Datafolha no tópico sobre voto passado: em quem votou no primeiro turno? em quem vai votar no segundo? O instituto já havia lançado mão dessa técnica em disputas anteriores de segundo turno.

Na pesquisa em questão, Nunes marcou 55%, contra 33% de Boulos.

As determinações do tribunal sobre pesquisas eleitorais, publicadas em 2019 e atualizadas em fevereiro deste ano, não exigem que todas as variáveis sejam indicadas ao registrar o levantamento, afirma Chong, do Datafolha. Todos os pré-requisitos previstos pelo TSE foram cumpridos, diz ela.

No artigo 2º da resolução, o TSE diz que os institutos são obrigados a registrar “plano amostral e ponderação quanto a gênero, idade, grau de instrução, nível econômico da pessoa entrevistada e área física de realização do trabalho a ser executado, bem como nível de confiança e margem de erro, com a indicação da fonte pública dos dados utilizados”.

O Datafolha “cumpriu os requisitos”, afirma o cientista político Antonio Lavareda, presidente de honra da Abrapel (Associação Brasileira de Pesquisadores Eleitorais).

“No meu entendimento, não era mandatório incluir esse dado [uso de ponderação sobre voto passado] no registro. O que o instituto faz a mais [do que o TSE exige] para melhorar sua pesquisa é uma questão interna.”

Raphael Nishimura, diretor de amostragem do Instituto de Pesquisa Social da Universidade de Michigan, nos EUA, explica o conceito de ponderação, que está no centro da reclamação formalizada pelo PSOL.

“A distribuição de uma amostra em relação a variáveis, como sexo, idade e voto passado, nunca será perfeita quando comparada com a distribuição da população por diversos motivos. O que a ponderação de dados faz é corrigir a amostra, atribuindo pesos diferentes para respondentes, deixando a distribuição da amostra muito semelhante ou mesmo igual à distribuição da população”.

Suponhamos que a população de uma determinada cidade tenha exatamente 50% de homens e 50% de mulheres. Uma pesquisa consegue ouvir 60% de público feminino e 40% de masculino. Para calibrar esses dados, o instituto atribui um peso um pouco maior para as respostas dos homens e um pouco menor para as das mulheres.

Nessa primeira pesquisa do segundo turno paulistano, o Datafolha decidiu usar o recurso da ponderação do voto passado devido às respostas daqueles que escolheram Pablo Marçal (PRTB) na primeira etapa. O instituto já havia lançado mão dessa técnica em disputas anteriores de segundo turno.

Nesse mais recente levantamento do Datafolha, apenas 15% dos entrevistados disseram ter votado em Marçal, candidato que obteve mais de 23% dos votos totais. Para dar o peso devido a esse grupo de eleitores, as informações colhidas nas ruas “foram ponderadas com os dados de votação disponibilizados pela Justiça Eleitoral”, afirma Chong, do Datafolha.

Existe um “recall envergonhado” dos eleitores do Marçal, segundo Lavareda. “Parte deles pode ter ficado encabulado de ter votado nele depois da fraude grosseira que veiculou às vésperas da eleição do primeiro turno [laudo falso].”

Para o cientista político, “esse ‘recall envergonhado’ precisa ser corrigido pela ponderação, um procedimento utilizado nos EUA, na Europa, na Austrália”.

Com mais peso atribuído ao eleitor de Marçal, muito mais inclinado a votar em Nunes no segundo turno, o atual prefeito alcançou um resultado superior nos números divulgados pelo Datafolha quando comparados aos chamados “dados brutos”, os números colhidos nas ruas.

Segundo Nishimura, a “ponderação pelo voto passado, principalmente o voto no primeiro turno, faz todo o sentido porque torna as estimativas mais acuradas”. De acordo com ele, cerca de dois terços dos principais institutos norte-americanos usam o recurso da ponderação do voto passado para calibrar seus resultados finais.

Embora viva nos EUA há mais de dez anos, o estatístico brasileiro acompanha com atenção as principais corridas eleitorais no país. Para Nishimura, a regulamentação do TSE precisa ser aperfeiçoada, exigindo mais transparência dos institutos no momento do registro dos levantamentos.

“Independentemente da lei, os institutos de pesquisa deveriam apontar em seus relatórios todas as variáveis utilizadas”, diz.

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