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Água na hora das refeições, beber ou não beber?

Você acaba de desfrutar de uma refeição saborosa e agora está prestes a alcançar aquele copo de água gelada. Será que isso pode estar contribuindo para problemas digestivos?

Em 1913, um médico escreveu uma carta ao editor do Journal of the American Medical Association, afirmando:

“Muitas vezes somos chamados para tratar pessoas com cólicas severas que surgem abruptamente durante ou logo após uma refeição. Em vários desses casos, descobrimos que a pessoa consumiu grandes quantidades de água excessivamente fria.”

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Essa observação de Buckle, feita há mais de um século, ainda suscita dúvidas. Qual seria o melhor momento para beber água em relação às refeições? E a temperatura da água faz alguma diferença?

Apesar dos constantes avisos para nos mantermos hidratados, muitos de nós permanecem tão confusos sobre o momento e o tipo de água a ser ingerida quanto nossos antepassados. Uma revisão de 2023, publicada na revista Antioxidants, aborda essa questão persistente:

“As diretrizes sobre o consumo diário de líquidos são menos frequentes e específicas do que as recomendações alimentares.”

De fato, a sabedoria tradicional e os conselhos contemporâneos frequentemente divergem quando o assunto é beber água durante as refeições. Embora a ciência ainda não tenha fornecido respostas definitivas, há algum consenso.

A mecânica da água e da digestão Após o término da refeição, o sistema digestivo está apenas começando seu trabalho. Pausar a ingestão de líquidos depois de comer pode ser benéfico, especialmente para pessoas com problemas digestivos.

Abster-se de ingerir líquidos por algumas horas após uma refeição pode ajudar a manter o esfíncter esofágico inferior bem selado, segundo a Dra. Manisha Ghei, especialista em medicina funcional e integrativa na Praana Integrative & Functional Medicine, no Texas. Esse esfíncter é composto de músculos em forma de anel na base do esôfago, que se fecham para evitar que o alimento retorne. Quando essa válvula não funciona corretamente, pode ocorrer refluxo gastroesofágico, resultando em sintomas como azia, náusea e regurgitação.

Isso não significa que você deva evitar a água completamente. No entanto, Ghei explica ao Epoch Times que o momento da hidratação pode impactar no desconforto digestivo.

“O corpo precisa de água para realizar qualquer processo bioquímico, incluindo a produção de enzimas e ácidos estomacais”, afirmou.

A água, composta de hidrogênio e oxigênio, é essencial para todos os órgãos do corpo e auxilia no transporte dos alimentos pelo intestino, prevenindo e aliviando a constipação.

Sabedoria tradicional Ghei, que tem formação em medicina ayurvédica — uma prática holística originária da Índia que enfatiza o equilíbrio do corpo —, também tem conhecimento de medicina tradicional chinesa. Ela frequentemente orienta pacientes, especialmente aqueles com sintomas gastrointestinais, a ajustar seus hábitos de consumo de água. Sua recomendação é beber o mínimo possível durante as refeições.

As orientações de Ghei incluem:

– Interromper a ingestão de líquidos de 20 a 30 minutos antes das refeições.

– Se for necessário beber enquanto come, ingerir pequenos goles de água em temperatura ambiente.

– Evitar beber por pelo menos 90 minutos a duas horas após a refeição.

Visões atuais Contrariando essas crenças tradicionais, alguns especialistas argumentam que beber água durante as refeições não dilui significativamente os sucos digestivos. Na verdade, conselhos mais recentes incentivam o aumento do consumo de água, até mesmo durante as refeições, como uma forma de auxiliar na perda de peso — embora as evidências clínicas ainda sejam incertas.

As orientações para beber um copo cheio de água antes ou durante a refeição para perder peso foram baseadas em estudos pequenos e de curto prazo, segundo o Dr. Robert H. Shmerling, da Harvard Medical School. Os resultados, no entanto, têm sido, no máximo, “modestos”, afirmou ele em um artigo de 2024.

O conselho de Shmerling? Dificilmente há malefícios em beber mais água — exceto quando forçar o consumo sem sede torna-se desconfortável.

Abordagem intermediária O quiroprático e influenciador de saúde Eric Berg sugere uma visão equilibrada.

“Seu corpo é inteligente; quando detecta um volume maior de líquido, ele intensifica a produção de ácido para manter os níveis de pH necessários para uma digestão eficiente”, escreveu Berg em seu site em junho. Ele recomenda beber mais devagar caso sinta inchaço após consumir líquidos durante as refeições.

Berg destaca que as orientações sobre hidratação podem ser confusas, já que “o corpo de cada pessoa segue suas próprias regras”. Essa variação individual torna a intuição uma parte importante da equação, embora beber de forma mais consciente — especialmente enquanto se alimenta — seja um bom conselho para qualquer um.

“A chave é a moderação”, escreveu Berg. “Manter-se hidratado ao longo do dia reduz a necessidade de ingerir líquido durante as refeições.”

Descobertas inesperadas A temperatura da água pode ter um impacto significativo na digestão e na saúde em geral. Ghei aconselha evitar o consumo de água muito fria, especialmente durante as refeições — uma visão compartilhada pela medicina tradicional chinesa.

Um estudo de 2024, publicado na PLoS One com 172 adultos coreanos, trouxe dois resultados inesperados sobre a temperatura da água e a composição corporal. Uma crença popular é que a água fria promove a perda de peso através da termogênese (processo no qual o corpo aumenta a temperatura ou o gasto de energia). No entanto, o estudo mostrou que os participantes que preferiam água gelada tinham maiores índices de massa corporal e circunferências da cintura.

O estudo também descobriu que beber água antes de dormir estava “significativamente associado” a IMCs mais baixos, independentemente do consumo total diário de água. Os pesquisadores sugeriram que isso pode acontecer porque a ingestão de água antes de dormir melhora a circulação sanguínea. Eles também citaram um estudo anterior que descobriu que a alta viscosidade sanguínea — quando o sangue é mais espesso e não flui facilmente — pode ser um fator de risco para obesidade.

Atendendo suas necessidades de hidratação Adultos devem beber entre 2,7 e 3,7 litros de água diariamente. A quantidade exata varia conforme o sexo, peso corporal, idade e nível de atividade. Condições médicas e medicamentos também afetam as necessidades de hidratação.

Segundo Ghei, a média ideal é beber metade do peso corporal em onças de água diariamente. Isso seria cerca de 50 onças para uma pessoa de 45 quilos. Ela também recomenda compensar os efeitos diuréticos do café com a mesma quantidade de água, já que o café aumenta a produção de urina.

As necessidades de hidratação podem ser supridas com alimentos líquidos, como sopas. Vegetais ricos em água, como pepinos, tomates, alface, aspargos, couve-flor, morangos, cogumelos, repolho e melancia, também ajudam a manter o corpo hidratado.

Outras situações que podem exigir uma maior ingestão de água incluem:

– Alta atividade física, como exercícios intensos.

– Doenças, especialmente aquelas que envolvem perda de líquidos, como diarreia.

– Dietas ricas em proteínas, pois a carne não contém água e requer mais enzimas para ser digerida.

– Suor excessivo, já que os líquidos precisam ser repostos.

Aumente a energia com água Além de beber mais água diariamente, Ghei recomenda enriquecer a água com minerais para benefícios adicionais e um sabor mais agradável. Limões e sal não refinado podem ser misturados à água para infundi-la com pequenas quantidades de minerais e vitaminas.

O aumento da ingestão de água pode trazer uma série de benefícios, incluindo mais energia, através do melhor funcionamento das mitocôndrias — as “usinas de energia” das células, que precisam de oxigênio combinado com o combustível dos alimentos para gerar energia suficiente. A disfunção mitocondrial está relacionada à progressão de doenças como cardiopatias, neurodegeneração, síndrome metabólica e câncer.

“Muitas pessoas se sentem cansadas e fatigadas. A fadiga é uma das principais razões pelas quais as pessoas procuram um médico”, disse Ghei. “Acredito que se as pessoas simplesmente bebessem mais água — e água com um bom teor de sal — veríamos menos casos de fadiga.”

“Lembre-se, se você realmente se sentir exausto, em vez de recorrer ao café ou a uma bebida com cafeína, tente beber água primeiro”, concluiu Ghei.