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Governo Lula não estava '100% preparado' para incêndios porque vive no mundo da fantasia

Nas últimas duas semanas, Lula mostrou como o governo está mobilizado para enfrentar os incêndios e as queimadas. Em Manaus, anunciou a criação de uma Autoridade Climática. Em Brasília, reuniu-se com o presidente do Supremo Tribunal, do STJ, do TCU, do Senado e da Câmara e disse que “a gente não estava 100% preparado para cuidar dessas coisas”.

Tudo teatro. A Autoridade Climática, detonada nos primeiros meses do seu mandato, continua no mundo das promessas. A reunião de Brasília produziu apenas uma procissão de carros oficiais. No dia seguinte, Lula não teve agenda para se reunir com os governadores, pessoas que têm caneta para tomar medidas.

O governo não estava “100% preparado” porque vive no mundo da fantasia. Produz reuniões, eventos e anuncia a criação de conselhos, naquilo que o jornalista Bruno Boghossian chamou de “ciranda da alta burocracia”.

Ciranda, cirandinha,

vamos todos cirandar.

Boghossian mostrou que, cirandando, o governo criou em junho uma sala de situação para enfrentar a seca e os incêndios. Depois da segunda reunião nessa sala de Brasília, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, informou: “Já estamos operando em plenas condições de ações. Já estamos com a sala de crise montada”.

O anel que tu me destes

Era de vidro e se quebrou.

Durante três anos, o Brasil passou por uma pandemia com um presidente negacionista. Agora, diante da emergência climática, o presidente tem outro estilo, o da ciranda.

Melhorou-se, mas a raiz do problema continua no mesmo lugar, com o mesmo tamanho: a burocracia acredita que seu palavrório e eventos produzem ações. Num caso, louvava-se a cloroquina e negava-se o problema. No outro, reconhecendo-o, acredita-se que ciranda resolve. Alguém acha que evento lustrado com a presença de presidentes de tribunais resolve o problema dos incêndios?

Por isso, dona Rosa,

Entre dentro desta roda

Diga um verso bem bonito

Diga adeus e vá-se embora.

O gosto pelo palavrório vem de longe. Em 2018, o país ralou uma greve de caminhoneiros que

desabasteceu cidades e quebrou uma perna do governo. Dois empresários foram filmados incitando os caminhoneiros. No meio da crise, um ministro anunciou que estavam abertos 37 inquéritos em 25 estados para apurar a participação de empresas na paralisação. Deram em nada. Cirandou-se.

Agora, a Polícia Federal informa que há 85 inquéritos abertos para apurar a origem criminosa de alguns incêndios. A ver.

O bode foi dispensado

O Banco Central subiu os juros para 10,75%, e Roberto Campos Neto passou incólume. Lula dispensou-o dos ataques com que o honrava desde o ano passado, quando o Copom baixava a Selic.

A decisão pela alta, unânime, teve o voto de Gabriel Galípolo, próximo presidente do banco.

Os ataques a Campos Neto eram pura fumaça, espalhada no picadeiro para enganar a plateia. Como ensinava Tancredo Neves, esperteza, quando é muita, come o dono.

Lalo de Almeida

A crise climática, com suas queimadas, serviu para confirmar que Lalo de Almeida é um dos grandes fotógrafos da atualidade. Assim como os garimpeiros de Serra Pelada projetaram Sebastião Salgado, há alguns anos, o olhar de Lalo mostra a crise com um toque de poesia dramática, indo do animal carbonizado aos caminhantes solitários pelo leito de um rio seco da Amazônia.


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