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O quanto a crise nas milícias pode afetar a política do Rio de Janeiro

Diferentemente do tráfico de drogas, a milícia criou raízes sólidas na política do Rio de Janeiro. Inicialmente, os próprios milicianos se elegeram, como foi o caso de Nadinho de Rio das Pedras e Jerominho, ambos encontrando o destino fatal que a maioria dos criminosos enfrenta: o assassinato. Eles não foram os únicos milicianos eleitos, mas a situação mudou ao ponto de eles preferirem manter a força política elegendo indiretamente outros políticos.

O caso recente mais emblemático foi o afastamento da deputada estadual Lucinha (PSD), apontada como braço político de uma das maiores e mais violentas milícias cariocas, sendo chamada de Madrinha. O Judiciário obrigou a Alerj a decidir, em 24 horas, pelo afastamento da deputada, mas, como está em recesso, a Assembleia está protelando. Uma das razões é o temor de que uma possível delação envolva outros deputados e correr com o processo agora criaria um precedente perigoso, já que acreditam na dificuldade de fazer política na Zona Oeste sem se relacionar com as milícias.

A situação não é diferente na Câmara de Vereadores do Rio, onde o próprio filho de Lucinha, Júnior da Lucinha (PSD), foi eleito. Ele é inclusive secretário no governo de Eduardo Paes. Isso não deveria surpreender, pois não faria sentido para os milicianos elegerem algum político a menos que estivessem no poder, ou seja, que fossem situação.

O ex-comandante do Bope, Rodrigo Pimentel, afirmou que uma das maiores fontes de renda das milícias está nas vans. Isso depende diretamente da Prefeitura do Rio, seja na falta de fiscalização ou na manutenção de suas licenças. Há também as construções ilegais de imóveis, mas poucos prédios são demolidos, servindo apenas para uma ou outra notícia na mídia, incluindo este jornal.

Quanto à ideia de que é impossível fazer política sem se relacionar com as milícias, talvez seja impossível ser eleito. No entanto, política não se resume a ser eleito, a menos para aqueles eternizados no poder. PSol, Novo e alguns políticos de outros partidos não comprometem suas convicções por votos, e nem é necessário. Se esta é a razão para os políticos que estão no poder, para que estão lá? Qual benefício trazem para o cidadão?

A realidade é que se Zinho, que não se entregou à Polícia Civil, mas sim à Polícia Federal, o que tem um significado importante, começar a falar e entregar nomes, ou se a investigação, que está apenas começando, aprofundar-se, podemos ter uma verdadeira crise na política do Rio de Janeiro. Como mencionado anteriormente, o miliciano precisa do Poder Público. Pode não estar diretamente ligado a Cláudio Castro ou Paes, mas alguns de seus aliados políticos aparecerão envolvidos, causando uma série de escândalos.

A situação ainda pode ser pior para Paes, que vem tentando passar uma imagem de bom moço, político moderno e ligado às grandes questões mundiais. Terá que passar por uma eleição em 2024, quando essa questão estará quente e no centro das atenções, com fotos suas ao lado de potenciais nomes envolvidos no tema. Até o momento, pelo bem de seu nome, não afastou Junior da Lucinha do primeiro escalão. O filho não é culpado pelos pecados da mãe, mas política é imagem.

A eleição para vereador pode, de fato, apresentar mudanças significativas, com órgãos como o TRE-RJ, as Forças de Segurança e a Grande Mídia vigilantes. Candidatos com ligações estreitas com a milícia podem agora ter seus registros cassados, diferentemente do que ocorreu nos últimos anos, trazendo um novo alento para 2025. Essa mudança é robusta e crucial para a política carioca, e o próximo prefeito certamente se beneficiará.

Com a ação do Governo Federal, as milícias estão sob uma forte lupa. A tendência é que fiquem cada vez mais sob escrutínio e precisem se afastar da política direta, como estão fazendo hoje. É um sinal de esperança para todos nós e talvez também para os políticos.


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