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Quintino: Difícil ser contra os Justiceiros de Copacabana

Homens roubam empresário Marcelo Rubim Benchimol em Copacabana – Foto: Reprodução

A inação do Estado, especialmente do Ministério Público e do Judiciário, aliada à conivência de grupos políticos e daqueles que preferem atribuir a culpa a questões esotéricas em vez de abordar a verdadeira problemática, permitiu que milícias mirins atuassem impunemente. Somente quando a situação atingiu proporções bíblicas é que, graças à iniciativa do deputado Átila Nunes, a Alerj reuniu, pela primeira vez, as comissões de segurança das três esferas (Município, Estado e União) em um grupo de trabalho em busca de soluções.

Também farão parte do grupo representantes estaduais do Tribunal de Justiça, do Ministério Público, do Ministério Público Militar, da Superintendência da Polícia Federal, da direção regional da Polícia Rodoviária Federal, do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro, da Firjan, da Fetranscarga e do Sindcarga, além de representantes da Guarda Municipal do Rio.

Mas encontrou uma população muito cansada de testemunhar cenas de violência se repetindo incessantemente. O que ocorreu? A natureza abomina o vácuo, e um grupo de cidadãos se uniu, decidindo fazer justiça com as próprias mãos. Como católico e defensor da ordem pública e da cidade, eu deveria condená-los, mas não consigo, e me sinto culpado por isso. Compartilho com eles o desespero; recordo-me de quando fui assaltado e percebi que, apesar de toda a boa vontade da Polícia Militar, havia uma falta de determinação do Estado para resolver o problema

O idoso que foi espancado o foi por tentar salvar uma jovem de ser assaltada por um grupo de reincidentes. O beneplácito do Judiciário, do Ministério Público e das nossas leis, que acredita que alguns têm salvação ao voltarem para a rua, permitiu que a situação chegasse a esse ponto. Não se consegue prender um menor de idade, a menos que ele seja um verdadeiro genocida. Até mesmo um latrocida tem chances de ficar poucos dias preso e voltar para a rua. Afinal, a cadeia não salva ninguém, é verdade, mas ao menos mantém afastado do convívio da sociedade.

Vozes se levantam contra os Justiceiros de Copacabana. Por acaso, a maioria são vozes que defendem esses criminosos, que são contra a internação compulsória dos cracudos. Representantes do Ministério e da Defensoria Pública se posicionaram de forma contrária à medida na Comissão de Higiene, Saúde e Bem-Estar Social da Câmara do Rio, afirmando que “é preciso haver maior investimento em saúde, educação e assistência social, para que as crianças tenham chance de crescer e não fiquem em situação de rua, perpetuando o problema. A internação como saída para um projeto complexo é ineficaz; as pessoas sairão das clínicas e logo voltarão às ruas”. E o problema de hoje não se resolve ao se discutir uma situação complexa como uma resposta pronta: “Salve as crianças

Os Justiceiros estão equivocados; a responsabilidade da justiça deveria permanecer nas mãos do Estado. No entanto, surge a questão: que tipo de justiça? Será que nossos policiais confiam que os criminosos não retornarão após serem presos? Em Copacabana, sete em cada dez são reincidentes! A situação de nossa cidade estaria consideravelmente melhor se o sistema realmente funcionasse, se as forças de segurança prendessem e tivessem a certeza de que o criminoso permaneceria detido.

Gostaria de redigir um texto condenando fervorosamente as ações dos Justiceiros, expressando o quanto estão equivocados, pois sinceramente acredito que estão. No entanto, encontro-me em um impasse, pois também perdi a fé em nosso Estado. Não me refiro apenas ao Governador Cláudio Castro, que, de certa forma, parece ser apenas uma figura à mercê de décadas de problemas. Nem mesmo o Eduardo Paes escapa desse cenário. A questão ultrapassa indivíduos e atinge todas as esferas da sociedade e do poder. Somos todos parte desse problema.


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