Turismo

Livrarias e bibliotecas por si só podem valer uma viagem

Tenho acompanhado a saga da Livraria Cultura do Conjunto Nacional, em São Paulo, que num longo processo de falência vem tendo seu espaço esvaziado, e até fechado (e depois reaberto). Já me perdi incontáveis vezes por suas passarelas e estantes; já levei meus filhos para remexerem livros sentados no chão; já lancei livro ali. Que tristeza ver a derrocada (que, espero, possa ser superada).

Outras grandes livrarias de São Paulo, como a da Vila, parecem estar resistindo ao tempo. E, para minha alegria, livrarias menores, fora de shoppings, parecem saudáveis —Travessa, da Tarde, Megafauna. Muito agradáveis, me levam ao motivo desta crônica: livros também podem ser atrações turísticas. Ou pelo menos suas casas —as livrarias e bibliotecas.

Algumas ficaram tão famosas que visitá-las se tornou irresistível. Não me imagino em Paris, passeando à margem do Sena, sem dar uma espiada na centenária e bagunçada Shakespeare & Co. (no mínimo pra fingir que estou esbarrando nos míticos autores de língua inglesa que circularam por ali).

Outras juntam a seu passado histórico a arquitetura. A cultura pop elevou ao primeiro lugar neste quesito a livraria Lello, na cidade do Porto (Portugal), também centenária. Sua decoração art nouveau já encanta, mas são as escadas suspensas e suas estantes trabalhadas que mais contribuíram para a lenda de que a autora da saga “Harry Potter” teria ali se inspirado ao conceber a biblioteca do fictício castelo de Hogwarts.

A escritora J. K. Rowling, que de fato morou no Porto, já negou o fato —o que não demove filas de turistas à sua porta (a livraria até cobra ingresso, que pode ser descontado na compra de livros).

Falar em arquitetura majestosa me traz à mente duas outras moradas de livros. Uma, a livraria El Ateneo, de Buenos Aires: mais jovenzinha, ela no entanto ocupa um espaço antigo e impactante: um antigo teatro em cuja plateia e galerias laterais ficam agora as estantes.

Outra é uma biblioteca, e fica no Rio de Janeiro —o Real Gabinete Português de Leitura. Este remonta ao século 19, e sua arquitetura de estilo neomanuelino (mistura frenética do gótico com a Renascença) é de tirar o fôlego.

Para que não pensem que eu sou o único turista louco que visita bibliotecas, uma informação: a Biblioteca Pública de Nova York concluiu uma reforma em seu edifício de 1911 que incluiu um centro de visitantes, com atrações (inclusive réplicas e telas explicativas) para os turistas que querem conhecer sua história, mas não necessariamente consultar seus mais de 20 milhões de volumes.

Não estou mencionando as livrarias e bibliotecas em que tropeço nos caminhos. Tenho o antigo hábito de, em viagens, buscar sempre uma livraria para no mínimo folhear livros de autores locais, além de guias de restaurantes e viagens, e livros sobre gastronomia. São locais mais anônimos, ou de grandes redes, que ainda assim sempre fazem me sentir em casa.

Mas pesquisando agora as livrarias e bibliotecas mais importantes que visitei, deparei-me Google afora com uma infinidade de outras que não conheci. E percebo que minha lista se limita a prédios do final do século 19 para cá.

Com certeza se tivesse conhecido, poderia estar recomendando aqui a livraria Boekhandel Dominicanen, em Maastricht (Holanda), que é jovem mas ocupa um magnífico edifício do século 13. Ou a Biblioteca Joanina de Coimbra (em Portugal), que ficou pronta em 1728. Ou a Biblioteca Palafoxiana de Puebla (México), cuja linda marcenaria data de 1646. Tudo devidamente anotado para a próxima viagem.


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